O lado sombrio da extração de lítio para fabricar carros elétricos


O futuro é green com os carros elétricos? Deveria, mas um lado sombrio existe e muita gente não quer, ou não tem interesse em ver. Esse lado é a extração de lítio, que envolve uma mineração nada amiga do meio ambiente.

Não apenas carros elétricos. O lítio é o metal mais leve da Terra e, como tal, perfeito para ser usado em dispositivos eletrônicos como smartphones e laptops, mas também em carros e aeronaves.

Enquanto a demanda por lítio cresce sem precedentes, os custos ambientais de sua extração não podem ser ignorados. É previsto que em 2030 os carros elétricos representem 60% das vendas de carros novos. Um Tesla Model S, por exemplo, usa cerca de 12 kg de lítio em sua bateria.

Os carros elétricos poluem menos? Nem sempre!

Se você pensar em termos de fumaça no ar, sim, porque eles não queimam combustíveis fósseis, não emitem CO2 na atmosfera. Mas a mineração para extração de lítio também pode ser muito prejudicial ao meio ambiente.

As contam precisam ser bem feitas para não trocarmos 6 por meia dúzia, pois muitos especialistas dizem que o lítio é crucial na transição para energias renováveis, quando não é bem assim.

Lembre-se que os carros elétricos precisam ser recarregados e, apesar de elétricos, se forem recarregados com energia não renovável, o benefício em termos de emissão se equiparam. Leia a comparação no link abaixo:

Por que a extração do lítio é prejudicial?

Qualquer tipo de extração de recursos naturais é prejudicial ao meio ambiente porque geralmente envolve degradação do solo, contaminação do ar, escassez e poluição da água, perda de habitats, danos às funções do ecossistema, emissão de CO2 e aumento do aquecimento global, sem falar da exploração humana muitas vezes envolvida (inclusive infantil).

A extração do lítio não é muito diferente da extração de carvão e gás. Além do mais, o lítio também é um mineral não renovável – que possibilita a energia renovável – mas não é renovável em si como qualquer outro recurso mineral.

Sobre as diferenças entre energias renováveis e energias limpas, leia mais:

De acordo com um relatório feito pela Friends of the Earth (FoE), a extração de lítio danifica e causa contaminação do ar.

“À medida que a demanda por lítio aumenta, os impactos da mineração estão afetando cada vez mais as comunidades onde essa extração prejudicial ocorre, comprometendo seu acesso à água”, diz um dos pontos do relatório.

Como é feita a extração de lítio?

“O lítio é encontrado na salmoura das salinas. Buracos são perfurados nas salinas e a salmoura é bombeada para a superfície, deixando-a evaporar em lagoas. isso permite que o carbonato de lítio seja extraído por meio de um processo químico.

A extração de lítio tem impactos ambientais e sociais significativos, especialmente devido à poluição e esgotamento da água. Além disso, são necessários produtos químicos tóxicos para processar o lítio. A liberação de tais produtos químicos por lixiviação, derramamentos ou emissões atmosféricas pode prejudicar comunidades, ecossistemas e produção de alimentos.

As salinas onde o lítio é encontrado estão localizadas em territórios áridos. Nesses locais, o acesso à água é fundamental para as comunidades locais e seus meios de subsistência, bem como para a flora e fauna locais”, lê-se no relatório da FoE.

Depósitos naturais de lítio são encontrados na América do Sul (principalmente Bolívia, Chile e Argentina), Estados Unidos, Austrália e China.

A Bolívia tem os maiores recursos, mas ainda não exporta em escala industrial, e poderia se tornar uma superpotência do lítio, ultrapassando o Chile.

Guerra de água por lítio

A água é um dos principais problemas relacionados à mineração de lítio, pois a atividade requer um consumo enorme de água: aproximadamente 2,2 milhões de litros de água para produzir uma tonelada de lítio.

Na América do Sul, os depósitos naturais de lítio se encontram em territórios áridos, cujo acesso à água é fundamental para as comunidades locais e seus meios de subsistência, bem como para a flora e fauna.

Lê-se no relatório:

  • Nas salinas do Atacama, no Chile, a mineração consome, contamina e desvia os escassos recursos hídricos das comunidades locais.
  • A extração de lítio tem causado conflitos relacionados à água com diferentes comunidades chilenas.
  • Na Argentina, comunidades locais dizem que a mineração de lítio contaminou córregos cujas águas eram usada ​​para abastecimento humano, na pecuária e agricultura.

Quais são as alternativas ao lítio?

Carros elétricos não soltam fumaça mas precisam de baterias potentes, leves e acessíveis para funcionarem. O lítio tem grandes aplicações na produção de eletrônicos pois as células comerciais de íons de lítio são compactas e estáveis.

Resumindo, não dá para viver sem esse metal?

As baterias de íon de lítio são recicláveis mas o processo de reciclagem não é simples e nem todo mundo faz ou sabe fazer. Seria necessário fomentar e impor em todo o mundo a coleta e a reciclagem de metais como o lítio para evitar novas extrações, mas lembramos que a reciclagem também demanda emissão de CO2, pois é sempre um processo.

Uma alternativa seria desenvolver baterias feitas de metais mais comuns e abundantes como ferro e silício, como sugere este estudo.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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