A cruel origem de pedras e cristais que ninguém quer saber


Você compraria pedras e cristais se soubesse que por trás da origem deles se esconde uma terrível realidade?

Os cristais curam e proporcionam bem-estar, mas só para quem pode comprá-los! Para aqueles que trabalham nas minas, os cristais adoecem e matam.

Um belíssima reportagem de Tess McClure feita pelo The Guardian conta as desaventuras  que circundam o crescente comércio de pedras preciosas e cristais em Madgascar, África.

Este país insular de 25 milhões de habitantes, junto com Índia, Brasil e China, está entre os maiores produtores de cristais do mundo. Mas em Madagascar a situação é muito pior do que em seus países “concorrentes”, porque sendo um dos países mais pobres do mundo, a produção de pedras e cristais em Madagascar está totalmente inserida em um sistema de exploração sem garantias, direitos e justiça para os trabalhadores.

Um comércio em expansão

Os cristais estão na moda, pois muita gente acredita que eles curam. De fato, na natureza eles se formam de uma maneira quase mágica, por isso encantam os esotéricos. Já os menos esotéricos se encantam mesmo pelo valor das pedras. Algumas podem valer muito mesmo.

Como conta a reportagem, um verdadeiro boom dos cristais de cura vem acontecendo nos últimos 5 anos com famosos divulgando, e hashtags bombando (#crystals e #healingcrystals). Ninguém duvida que pedras e cristais são a nova tendência de cura e bem-estar da “nova era”.

Famosa nos anos 1970, a cura com pedras e cristais agora ressurgem surfando na onda da espiritualidade cósmica, crença na astrologia e práticas de cura alternativa.

Mas até aí tudo bem. O problema não é esse. O problema é outro.

Um comércio totalmente injusto

Seria maravilhoso que pedras preciosas e cristais promovessem a cura espiritual cósmica, mas não é assim.

O comércio desses produtos é muito injusto e privo de certificações e transparências. São vendidos de qualquer jeito, sem nenhum direito, sem nenhuma garantia para quem produz, nem para quem compra.

O mesmo nem sempre acontece com ouro e diamante, pedras mais preciosas e portanto mais controladas, exceto se de origem ilegal.

No caso das pedras em Madagascar, cujo território é um baú de tesouros cheio de quartzo rosa, ametista, turmalina, citrino, labradorita e cornalina, as pedras de lá trazidas escondem em si muito sofrimento (o contrário de cura).

Muito provavelmente ninguém compraria um cristal se soubesse que por trás dele existe um mundo insalubre de dor e exploração. Trabalhadores arriscando suas vidas nas mineiras (muitos morrem com o desabamento das rochas sobre seus corpos), outros ficando doentes ao respirar a poeira fina produzida pelo limar das pedras.

Mais de 80% dos cristais produzidos em Madagascar são extraídos “artesanalmente” – ou seja, por pequenos grupos e famílias, sem regulamentação, infraestrutura, direitos e garantias. As famílias recebem pouquíssimo pelo trabalho e o pior, estima-se que 85.000 crianças estejam envolvidas nesse comércio injusto.

A pedra ou o cristal sai de Madagascar custando centavos de dólar e seu valor vai se multiplicando à cada etapa da sua jornada, até chegar ao consumidor final.

A coisa mais triste nisso tudo é que toda riqueza natural de Madagascar raramente beneficia o povo malgaxe. Metais e pedras preciosas continuam fazendo o mesmo papel na mesma história colonial de sempre e que nunca acabou, as riquezas são desviadas para fora do país em benefício de empresas estrangeiras.

É um comércio totalmente injusto.

Como se formam os cristais

Cristais parecem mesmo mágicos. Eles se formam quando vapor e água transportam partículas minerais para fraturas na terra. Atraídas pela atração mútua de suas cargas elétricas, suas moléculas se empilham em sequências ordenadas, formando planos definidos e facetas repetidas que criam lindos formatos ​​como, por exemplo, as drusas de cristais.

A formação se dá através de milhares e milhares de anos. Talvez por isso, pedras e cristais sejam tão amados pelos esotéricos. Mas para o efeito cura, é preciso saber como elas foram extraídas.

Como saber a origem das pedras e cristais?

Aí que está a questão. Estamos falando de um comércio não regulamentado.

Como no Brasil temos pedras, é melhor comprar as pedras brasileiras sempre. Embora também por aqui haja exploração de mão de obra, a probabilidade de comprar uma pedra encrustada de sofrimento é muito maior se sua origem for malgaxe.

Pergunte para quem você está comprando.

A reportagem do Guardian termina com a declaração de um vendedor em uma importante feira de pedras preciosas no Arizona, Estados Unidos. O vendedor diz que a culpa por essa exploração toda é do consumidor final, pois é este quem quer pagar menos pelo produto.

Será que os consumidores estariam realmente dispostos a pagar mais para garantir minas seguras, sem trabalho infantil, com direitos trabalhistas e salários justos para os mineiros?

Talvez muita gente se dispusesse a pagar mais mas com a garantia de que esse “mais” fosse para os trabalhadores. E quem é que daria essa garantia? O Estado? O produtor? O fornecedor?  O próprio mercado?

Depois dessa, antes de se curar com cristal vai ser preciso promover a cura do próprio cristal, ou melhor, de toda a situação que esse comércio envolve.

Leia AQUI  a reportagem completa.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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