Manipulação afetiva, emocional: o que é e como reconhecer


Nem todo relacionamento abusivo é feito de violência física. Além de existir violência verbal, xingamentos, palavras que machucam, etc, existe ainda um tipo de violência muito sutil chamada manipulação afetiva ou emocional. Do que se trata?

O que é manipulação afetiva ou emocional

Também chamada de manipulação psicológica, trata-se de um tipo de manipulação muito sutil porque se manifesta em forma de uma comunicação ambígua, incoerente, enganosa, passiva mas agressiva, que visa mudar a percepção ou o comportamento do outro.

Quem manipula, consciente ou inconscientemente, tem um objetivo preciso: satisfazer seus próprios interesses às custas do outro.

© Kemi Lo/Pexels

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Como reconhecer o comportamento de um manipulador

Como saber se uma pessoa está manipulando? Como se comporta um manipulador emocional?

Um manipulador pode agir, por exemplo, das seguintes formas:

  1. Distorcendo palavras ou se fazendo de tonto para que o manipulado (ou a vítima) se sinta em culpa;
  2. Enviando mensagens vagas, tomando posições neutras, ficando em cima do muro, principalmente em questões relacionadas ao relacionamento;
  3. Sendo egoísta, colocando sempre as suas próprias necessidades em primeiro plano e chamando, paradoxalmente, o outro de egoísta (se fazendo de vítima – vitimismo);
  4. Boicotando iniciativas, não dando apoio, jogando água fria nas vontades ou necessidades do outro;
  5. Negando fatos, evidências, palavras ditas para obter vantagens em uma discussão ou de maneira geral (gaslighting);
  6. Nunca assume suas responsabilidades: a culpa é sempre dos outros ou das circunstâncias;
  7. Criticismo exagerado e falta de empatia.

Como são as vítimas de um manipulador

Alguns estudos sugerem que o manipulador conhece e usa algumas fragilidades do outro para melhor manipular. Ou seja, nem todo mundo é manipulável, portanto, a fome com a vontade de comer existem sempre nestes casos. Assim, um manipulador encontra sua presa ideal quando percebe que pode usar de fragilidades como:

  • Ingenuidade: muita gente se recusa a enxergar que pode ser manipulada
  • Baixa autoestima
  • Dependência emocional
  • Insegurança e dependência de aprovação alheia
  • People pleaser (pessoa excessivamente boazinha, que quer agradar todo mundo e não sabe dizer não)
  • Impulsividade
  • Solidão
  • Pessoas super influenciáveis
  • Pessoas vulneráveis pela idade, doenças ou situações financeiras.

Os diferentes tipos de manipuladores emocionais

Segundo especialistas, existem diferentes tipos de manipuladores, tais quais:

  • O CIBERVAMPIRO: é o manipulador online que utiliza as redes sociais para “conhecer” pessoas, elogiá-las e enchê-las de expectativas e esperanças, a fim de estabelecer uma relação de dependência com elas, ao mesmo tempo que evitam a todo custo quaisquer encontros ao vivo (vampirismo).
  • O MENTOR: é o tipo de pessoa que se mostra inteligente, super informado, confiante, sem nenhuma modéstia em se apresentar como um mentor altamente qualificado, tão especial que não suporta críticas, afinal, só ele sabe das coisas!
  • O MENTIROSO: como diz o nome, é o tipo de pessoa que mente para obter vantagens sobre seus status, trabalho, etc. Para manter suas mentiras bem escondidas, ele tende a estabelecer uma relação exclusiva, onde possa isolar o parceiro de amigos e parentes. Além disso, fala pouco sobre si e costuma aparecer e desaparecer ao seu bel-prazer.
  • O SALVADOR: é um tipo de manipulador que parecerá familiar à vítima. Quase sempre pronto a ajudar, exceto nos momentos em que é frio, indiferente ou violento psicologicamente.
  • O PARASITA: aquelas pessoas sensíveis que sempre precisam de ajuda moral e ou financeira.
  • O ALTRUÍSTA: está sempre aparentemente disponível para ajudar, mas o faz por chantagem e não tolera recusas ou contrariedades.
  • A FALSA VÍTIMA: pessimista, se acha sempre injustiçado e incompreendido. Tende a estabelecer relações exclusivas com a vítima, por quem não demonstra interesse genuíno a não ser para chamar sua exclusiva atenção.
  • O BOM PAI: assume tons paternalistas e dá a impressão de que o bem-estar da sua vítima estaria realmente em jogo sem ele.
  • O FUNCIONÁRIO: mostra-se sensível e precisa de segurança, tem conflitos familiares, é triste e solitário, cria situações em que todos se preocupem com ele. Tem humor instável e de vez em quando desaparece.
  • O MISTERIOSO: fala pouco de si e tampouco pergunta sobre a vida do outro, é indisponível e incapaz de estabelecer relações de confiança.

Como saber se você está sendo manipulado ou se é vítima de um manipulador?

Não é fácil saber se somos vítimas de manipulação. Muitas vezes tentamos “entender” o comportamento do outro, pensando que cada um tem seu jeito de ser (às vezes é o próprio manipulador que se desculpa com isso – síndrome de Gabriela).

O nosso sexto sentido, ou a nossa intuição, muitas vezes nos avisa de que algo não está certo. Mas, para não nos decepcionarmos ou para darmos uma chance ao outro, fazemos o tempo passar, correndo o risco de abrirmos os olhos quando os danos já são enormes.

Por isso, fique de olho nos seguintes sinais, pois eles indicam que uma possível manipulação está em jogo:

  • Ter pesadelos constantes ou sonhos perturbadores
  • Acreditar de estar louco ou ter pouca confiança sobre o seu próprio senso de realidade
  • Ter frequentemente sensação de perplexidade
  • Ficar constante ou frequentemente confuso com relação ao comportamento do outro
  • Não conseguir ter discussões lúcidas com o manipulador
  • Sentir-se incapaz de lembrar os detalhes das discussões com o manipulador
  • Sentir-se ansioso, inseguro
  • Ter distúrbios gástricos, taquicardia, sensação de aperto no peito, ataques de pânico
  • Sentir-se constantemente ou a maior parte do tempo frustrado, triste, cansado, desanimado
  • Sentir medo, raiva ou agitação na presença do manipulador
  • Esforçar-se para para se convencer de que o comportamento ou as atitudes do manipulador são normais
  • Esforçar-se para si e para os outros ao dizer que sua relação é boa
  • Sentir que sua integridade e dignidade estão comprometidas

Na verdade, uma relação deve ser boa e fluída. Quando algo parece estar engasgado, isso pode ser um sinal de alerta.

Infelizmente, temos presente que relações tóxicas e abusivas são apenas aquelas onde existem brigas, violência, xingamentos, etc. Mas não é assim! Algumas relações causam feridas sutis, frequentes e profundas que marcam tanto ou mais que as relações de violência explícita.

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Aprenda com os manipuladores

A experiência de se relacionar com um manipulador afetivo é uma das piores que uma pessoa pode ter. Mas, por mais que encontrar um manipulador possa parecer um caso fortuito, cada encontro tem sua razão de ser.

Nem tudo está perdido quando você encontra um manipulador. Isso porque, você pode aprender muito com um manipulador sobre você mesmo.

Como ensina o psicoterapeuta Roberto Ruga:

“as relações de amor nascem e se fundam em relações precedentes. No momento em que nos sentimos atraídos por uma pessoa, isso não acontece por mera casualidade, pois as recordações e os vestígios de nossas experiências passadas, agem em nosso mundo interior nos empurrando para certas pessoas em vez de outras. As feridas ainda abertas da nossa alma, nos rendem sensíveis àquelas pessoas que incarnam a nossa memória emotiva”.

Isso, claro, de maneira inconsciente. Assim, a primeira impressão de uma vítima é a de não poder resistir ao turbilhão de emoções que experiencia ao conhecer aquele que será seu carrasco (manipulador ou abusador).

Do estimulante encontro inicial, cheio de energia e vontade, a vítima passa a sentir dúvidas e inseguranças até que se torna presa.

Dizem que o amor é cego. Em relações abusivas isso é fato! Geralmente as vítimas aceitam seus erros enquanto os abusadores não, estes conseguem reverter o jogo e colocar a culpa em suas vítimas, aumentando ainda mais os seus poderes de manipulador.

“Para Freud, o ser humano procura nas relações uma figura materna substitutiva e ao fazer isso, se protege a fim de evitar para si o peso da responsabilidade de sua existência autônoma”, explica Roberto Ruga. “Por trás de um abusador, manipulador há um pai e uma mãe que não souberam fazer o seu papel de genitor. Não souberam ou não puderam cuidar do filho, responder às suas exigências. Assim, acontece que nas relações futuras, o manipulador se interessa, ou se apaixona, por uma outra pessoa que parece satisfazer às suas exigências de cuidados”.

O mesmo acontece com a vítima e acaba que de um lado e de outro, ambos buscam o abraço protetivo materno, que àquela época faltou.

Reconhecer tais dinâmicas é importante para quebrar essa corrente de amor e ódio que se instala em relações abusivas de dependência emocional e manipulação afetiva.

A única saída é continuar a ter confiança nas relações, porque é ao interno das relações humanas que se encontra a felicidade. O medo que uma pessoa manipulada sente em ser abusada novamente deve se transformar em conhecimento, entendendo que o que nos atrai no outro, mais que o outro, é a luta com nós mesmos em busca do nosso crescimento.

Quem puder fazer psicanálise ou psicoterapia para desatar os nós que uma maipulação emocional deixa, pode aprender muito sobre si mesmo.

Fontes:

  1. psiconline.it
  2. Roberto Ruga

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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