Pessoas avarentas: o que leva alguém a ser tão avaro?


Será doença, mau-caratismo, crometofobia ou excesso de egoísmo? Quem não conhece pessoas avarentas, aquelas que não abrem a mão nem para dizer tchau?

As denominações são muitas: avarenta, sovina, mesquinha, somítica, tacanha, pão-duro, mão-de-vaca, unha-de-fome, muquirana… Estes são péssimos adjetivos para se dar a uma pessoa, no entanto muitas carregam consigo estes “apelidos”.

Mas afinal, o que leva alguém a ser tão avaro?

Ninguém gosta de estar na companhia de pessoas avarentas porque, a primeira impressão que elas passam, é a de um egoísmo exacerbado. Mas ao mesmo tempo, elas são mesquinhas também com elas próprias.

Será que essas pessoas têm noção da avareza delas? Será que ser avaro é doença?

Vamos nos aprofundar sobre o tema, afinal…

O que é avareza?

A palavra avareza deriva do latim avaritia e significa apego extremo ao dinheiro, medo ou restrição excessiva em dar e em gastar, sendo considerado, na doutrina católica, um dos 7 pecados capitais.

Avareza é a particularidade, a característica da pessoa avarenta, aquela que não consegue ser generosa ou demonstrar generosidade.

É o mais estúpido dos pecados capitais porque o avarento goza de uma possibilidade, ou de um poder, que nunca se realiza (Umberto Galimberti).

Estamos cercados de pessoas avarentas, tanto é que não faltam na literatura, nas artes e na história, registros e fatos sobre pessoas que, muitas vezes podendo dar, preferem guardar, impossibilitando para si mesmas o desfrute de uma vida abundante. Por que será?

Interessante notar todavia, que a avareza não é uma característica exclusivamente humana. Pois trata-se de uma questão de sobrevivência para todas as espécies.

Veja o que dizem os especialistas sobre a avareza em todos os seus aspectos, dos pontos de vista biológico, social e psicológico.

Um mal necessário?

A avareza está ligada à dificuldade e ao medo de perder algo que se possui, como bens materiais ou recursos. Assim, o avarento é aquele que está sempre prevendo perdas, evitando a todo custo usar ou dar coisas por temer a falta.

Nem sempre porém isso é de todo ruim, na natureza por exemplo, o egoísmo é um mal necessário

Especialistas, como o biólogo e professor de estudos ambientais da Universidade da Califórnia, Michael Soulé, defendem que necessidade é diferente de ganância.

“Todas as criaturas são egocêntricas e egoístas, porque, instintivamente, desejam e procuram energia e outros recursos. Todas as espécies seriam extintas em poucos meses ou anos sem impulsos egoístas”, afirma Soulé para a revista Superinteressante.

O que o biólogo explica é que, de certo modo, e em certa medida, a avareza constitui uma característica importante para a preservação das espécies. Mas com o ser humano é diferente.

A consciência do egoísmo e da avareza é exclusiva do homem, pois nem mesmo os macacos, as baleias, os golfinhos e quaisquer outros animais com cérebros bastante desenvolvidos, têm a mesma consciência da avareza que o homem tem.

Por exemplo, um pato de verdade jamais poderia nadar numa piscina de moedas como a do Tio Patinhas, mesmo que a piscina fosse cheia dos seus alimentos prediletos.

Só um humano é capaz de juntar coisas que, na prática, não há necessidade imediata de ter. Um animal junta recursos e os economiza na medida do saudável, na medida da sua preservação. Isso porque, os animais vivem o agora, já o homem…. confabula o futuro.

O que define um ser avarento?

A principal característica de um economizador patológico é o fato de que o seu exagero em economizar não tem motivo, razão lógica ou objetiva.

Por exemplo: se há uma situação de guerra onde a escassez de alimento é uma possibilidade plausível, existe uma razão lógica em estocar comida. Se uma pessoa perdeu o emprego e precisa economizar pois não sabe quando encontrará outro trabalho, há uma razão lógica e inteligente no sentido da sobrevivência. Mas muitas pessoas vivem nas melhores das condições presentes, com ótimas perspectivas futuras e, mesmo assim, querem economizar pois sentem um medo infundado de falta.

As características de uma pessoa avarenta são:

    • Evita fazer gastos que poderia tranquilamente fazer, sem que sua sobrevivência seja prejudicada;
    • Tem rendimentos sólidos e uma posição estável, o que lhe permite uma vida economicamente estável, mas vive negando essa estabilidade;
    • Usa as mesmas coisas durante anos, mesmo coisas que não funcionam bem ou que são velhas, só para não gastar comprando outras;
    • Economiza tudo, evita o uso de bens como telefone e tem mania de apagar todas as luzes mesmo em situações que precisaria destes bens;
    • Compra produtos dos mais baratos no supermercado, mesmo que de qualidade inferior, quando pode comprar coisas melhores;
    • Nunca convida ou oferece coisas às pessoas e, ao contrário, espera sempre ser convidado para não ter de gastar;
    • Odeia presentear porque pensa ser um desperdício. tem gente que até guarda os presentes que ganha para dar a outras pessoas, só para não gastar;
    • Tem aversão a dar, não conseguem ser generosas.

A ciência da avareza

Existem dois tipos de avareza: aquela necessária à sobrevivência e a que trata do acúmulo desnecessário.

A primeira garantiu a nossa presença na Terra e é tão antiga quanto a própria vida. A segunda vem sendo estudada pela Ciência, mas ainda não foi descoberta uma região específica no cérebro responsável pela avareza.

Quando a pessoa tem impulsos para praticar inveja, orgulho, ódio, gula, preguiça, luxúria e avareza, dez centros diferentes no cérebro são ativados. A maior parte deles está localizada no sistema límbico, responsável pelas emoções.

“O problema é como chegar à ciência da ganância sem a ajuda de células ou definições sólidas”, afirma o neurocientista John Medina no livro The Genetic Inferno, Inside the Seven Deadly Sins.

A psicologia do avaro

Como vimos, a principal característica de uma pessoa avarenta é o fato de ela reter quando pode dar, economizar quando pode gastar, ou seja, é a economia exagerada, mas sobretudo infundada, que diferencia o economizador racional do patológico.

Está no prazer a grande diferença entre um avaro e uma pessoa que economiza porque quer viver uma vida mais simples, minimalista, porque de fato está buscando a simplicidade das coisas, e é feliz desse jeito.

Pessoas simples podem ser gratas, solidárias e muito generosas. Já o avaro é aquele que nega prazer a si e ao próximo. É aquele que tem condições de viver de uma forma melhor e mais confortável, mas nega tudo porque não sabe viver, não sabe ser feliz.

Boicote à felicidade

Acredita-se que uma pessoa avarenta não apenas economiza bens e recursos, mas também o prazer e a alegria, pois o dinheiro proporciona prazeres.

Não é por não ter dinheiro a razão de muitos avaros em guardar e em economizar, é guardar só por guardar, é um boicote inconsciente ao direito de viver e de usufruir da abundância que têm. É como se usufruir dos bens materiais fosse um pecado, como se fosse melhor ser um avaro que ser um perdulário (um esbanjador).

Mas também existem os casos de medo.

Medo de um dia faltar

É comum que pessoas que tenham passado por grandes privações na vida, mantenham sempre o estado de alerta para não passarem miséria de novo.

O medo da pobreza causa uma reação de extrema sobrevivência naqueles que viveram a fome e a miséria. Assim, elas guardam para garantir um futuro, mesmo que já tenham conseguido guardar o suficiente para nunca mais passarem necessidade.

Infelizmente o medo de algo faltar pode desnecessariamente ser passado de geração em geração. Avós que viveram a guerra ensinaram seus filhos que, por suas vezes ensinaram os netos, a preocupação de que sempre alguma coisa pode faltar. Cria-se assim gerações de pessoas medrosas que nunca viveram nem a fome, nem a guerra, nem a miséria, mas foram ensinadas a estar sempre em estado de alerta com medo da falta.

Assim, para se defenderem de uma falta que na verdade não existe, elas acumulam, pois o acúmulo é uma forma de se precaver contra essa ameaça.

Questão de hormônios

A avareza também pode estar relacionada aos hormônios testosterona e ocitocina. De acordo com um estudo realizado pelo Departamento de Economia da Universidade Graduada de Claremont (EUA), em 2009, a mulher é mais generosa que o homem.

A diferença entre os gêneros poderia ser uma questão dos hormônios: testosterona e ocitocina.

A ocitocina é um hormônio mais comum nas mulheres e estimula a generosidade, tanto que é considerada o hormônio do amor e da empatia. Já a testosterona é prevalente nos homens.

Segundo o neuroeconomista Paul Zak, a testosterona funciona como um antagonista da ocitocina. Os homens possuem 10 vezes mais testosterona do que as mulheres, por isso são mais egoístas do que elas.

Apesar de na vida conhecermos mulheres sovinas e homens generosos, o estudo chegou à constatação destas diferenças através de testes realizados com estudantes, que receberam concentrações de testosterona em gel ou placebo, enquanto outros receberam apenas o gel sem o hormônio.

Após o período de aplicação, os grupos foram submetidos a um jogo de computador onde teriam que partilhar quantias em dinheiro. Foi constatado que os participantes com maior quantidade de testosterona no sangue eram 27% mais egoístas do que os outros.

O mesmo teste foi feito com gel de ocitocina e o resultado foi que a generosidade dos participantes que receberam esse hormônio aumentou em 80%.

Gratidão e abundância

Uma das formas mais seguras de se obter a tão desejada felicidade na vida, é através da generosidade, da gentileza, da gratidão e da solidariedade.

Palavra da ciência:

É a gratidão às coisas da vida (e não a avareza delas por medo de perdê-las) que nos dá o poder transformador da prosperidade.

E é a crença na infinidade e na disponibilidade de bens para todos, que deveria se basear a solidariedade e a caridade, como dizia São Francisco de Assis “é dando que se recebe”.

Como afirma para a Superinteressante o padre Leandro Miguel Chiarello, diretor da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,

“(o pecado da avareza) torna a pessoa mesquinha e egoísta e a deixa cega para a realidade do próximo, matando no avarento o princípio fundamental do cristianismo: a caridade”.

Carência e avareza

A criança carente de amor hoje, pode ser um avarento amanhã.

O que vai definir se o sujeito será um avarento ou um gastador compulsivo é a história de vida dele.

Segundo o neurocientista Gilberto Xavier:

“Os avarentos sentem necessidade de acumular e guardar. E têm dificuldade para compartilhar. É muito provável que isso tenha relação com a história de vida dessas pessoas.”

Não se trata apenas de apego ao dinheiro, mas sim de perder o que se tem.

O comportamento avaro é uma consequência da privação de afeição e acolhimento. Ou seja, o apego às coisas tem a ver com a nossa história amorosa, principalmente da infância, de como fomos criados: se com abundância ou com economia de amor, atenção e carinho; se com segurança, ou com medo de perder coisas?

Avareza tem cura?

É muito, mas muito difícil, “denunciar” um avaro. Geralmente as pessoas se afastam pois dizer na cara que a pessoa é mesquinha é bem complicado. É preciso ter empatia e gostar da pessoa, esperando poder ajudá-la, falando com muito jeito do que se trata.

Geralmente, se ninguém fala nada, os avarentos só se darão conta de serem o que são quando as pessoas próximas começam a se afastar, quando sua vida social começa a balançar, perde amigos, não encontra parceiros, afinal, quem quer se relacionar com um avaro?

Reconhecer o problema é o primeiro passo e muitos avaros não se acham muquiranas porque se enxergam, de fato, em uma situação de precariedade. Acreditam que precisam guardar e economizar sem haver uma justificativa lógica para isso.

Assim, a maioria procura ajuda só por recomendação de familiares, amigos ou por recomendação médica.

A psicoterapia pode ajudar pessoas assim a limparem seus olhos dessa névoa obscura, ajudando o paciente a entender as razões para esse tipo de comportamento, e descobrir como ter o controle sobre o medo da perda, seja ela econômica que afetiva.

Isso só é possível com tratamento médico ou terapia de apoio. Basta querer e estar disposto para a mudança, afinal, afeto não é coisa que se guarde para se ter mais tarde. É isso o que os avaros precisam entender!

Um triste fim: ricos e sozinhos

Assim como não gastam com dinheiro, com objetos, com presentes, pessoas avarentas não são generosas  em nenhum outro aspecto da vida. Elas economizam amor, afeição, tudo

Presos em seus próprios medos, os avaros podem ser alguém com depressão, fantasias de catástrofe, ansiedade, etc.

Geralmente, o avarento termina sua vida sozinho e com uma grande fortuna guardada, a qual vai parar nas mãos de uma pessoa qualquer porque parentes e amigos viraram desafetos em suas vidas.

Busque ajuda

A avareza é uma característica comum na biologia, mas não deve ser considerada normal se ela for algo que atrapalha o próprio desenvolvimento e o relacionamento com as outras pessoas.

Todos nós temos ou tivemos algum tipo de avareza em nossas vidas: não querer compartilhar certas coisas, ter xodó com alguns objetos…

Mas, se estamos enquadrados em todas, ou em várias, características citadas neste artigo, é melhor ligar o alerta e buscar ajuda profissional.

Afinal, para quê dinheiro se não tivermos com quem compartilhar os benefícios que ele proporciona?

Por um mundo melhor para todos: menos avareza, mais gratidão e generosidade!

Para se aprofundar ainda mais sobre o tema, assista ao vídeo do Café Filosófico, com o historiador José Alves Freitas Neto.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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