Como explicar a guerra para as crianças


A trajetória humana é marcada por guerras, haja vista que nas aulas de história os fatos mais marcantes estão associados aos acontecimentos bélicos. Porém, como podemos ver, guerras não são acontecimentos relacionados só com o passado. Sob essa perspectiva, como explicar a guerra para uma criança que está vivendo esse contexto, ou que é bombardeada por informações das mídias falando sobre conflitos armados entre países?

Esse conteúdo traz algumas orientações que podem te ajudar a explicar o que está acontecendo às crianças.

Falando sobre guerra para crianças

Vamos e venhamos, uma guerra é algo que não é fácil de compreender, porque se opõe ao fluxo da vida e aos valores essenciais humanos. Entretanto, é preciso assimilar que faz parte das contradições humanas, projetadas na forma de disputas e oposições.

Pais e professores têm a missão de orientar as crianças para que elas possam entender o que move uma guerra, mas precisam usar uma comunicação não violenta, que conduza à paz, através da inteligência emocional.

Nós adultos somos os responsáveis pelos adultos de amanhã, por isso, nosso exemplo e a maneira como abordamos essa temática pode ajudar as crianças a lidarem melhor com os impactos que uma guerra pode trazer no psicológico delas.

É fundamental que antes de explicar sobre a guerra para a criança, os adultos pesquisem para poder saber como abordar a história real do fato e a causa do que está acontecendo.

Quando as crianças têm muitas dúvidas e se mostram inquietas em relação ao tema, é necessário contextualizar e aproximar esse tipo de acontecimento à realidade e ao discernimento de cada criança.

Podemos começar, explicando para a criança que as guerras começam quando um povo quer o que o outro quer também. E para poder ter, acabam brigando.

Contextualizando a guerra à realidade da criança

Para facilitar a compreensão da criança sobre isso, pode-se fazer uma analogia sobre o que é comum acontecer na escola, quando dois amiguinhos brigam por causa de um mesmo brinquedo. É claro que  a guerra é mais perigosa e destrutiva, porém, esse exemplo é um jeito de facilitar o entendimento da criança.

No caso dos 2 amiguinhos, eles podem fazer um acordo, para dividir o tempo de brincar com o brinquedo ou os dois brincarem juntos com o mesmo brinquedo. Ou pedirem para a professora arrumar outro brinquedo para que ambos possam brincar, cada um com seu brinquedo.

Ainda pode usar essa contextualização para explicar à criança que uma guerra acontece justamente porque os governantes querem ter posse de algo, que não é brinquedo, mas que tem relação com poder e dinheiro. E que em vez de fazerem acordos e se entenderem, brigam se deixando levar pela raiva e pela demonstração de força. Pode-se comparar novamente com os amiguinhos que queriam brigar por causa do brinquedo.

É oportuno aproveitar essa contextualização para explicar à criança a importância de lidar com a raiva, e entender que assim como ela, os outros também têm necessidades. Os adultos fazem guerra provavelmente porque não aprenderam a lidar com suas emoções e necessidades.

Cabe aqui um exemplo que vivenciei, como professora, com um aluninho de 5 anos que queria bater no amiguinho porque ele queria o carrinho dele. Então, eu lhe disse para contar até 10 e se acalmar. E ele imediatamente contou cada um dos pequenos dedinhos: 1.2.3… até chegar ao 10, e disse: pronto, já me acalmei!

Simples assim…

Ensinando sobre a guerra na sala de aula

A escola tem o importante papel de contribuir para o desenvolvimento de valores humanos como: empatia, cooperação e entendimento nas relações.

Esse valores podem ser abordados na sala de aula, utilizando o exemplo das guerras, valendo-se de aula lúdica e teatralizada com o objetivo de conduzir o aluno a vivenciar certo contexto histórico e entender as motivações dos personagens envolvidos em determinado acontecimento.

Um exemplo prático disso, mais uma vez tiro da minha experiência como professora, que é o projeto História Dinâmica – Uma história vivenciada, onde produzíamos vídeos e fotonovelas em sala de aula, através dos quais os alunos interpretavam os personagens envolvidos em determinado acontecimento histórico. E, com base no protagonismo dos alunos, debatíamos os aspectos envolvidos nesses fatos da história.

Esses são exemplos de formas educativas que ajudam crianças e jovens a entender os fenômenos da guerra e, em contrapartida, desenvolverem valores humanos e fraternos.

É lógico que as questões do mundo adulto e das guerras são mais complexos. Porém, se desde cedo as crianças aprendessem a reconhecer suas emoções e necessidades e os valores essenciais que promovem a paz, seria mais fácil de se relacionarem consigo mesmas e com os outros.

É necessário também que a criança saiba identificar os aspectos internos que agem como impulsionadores de uma guerra como: disputa de poder, orgulho, medo de perder, sentimento de escassez e falta de amor.

Um produção que pode ser útil para a criança identificar suas emoções, tanto positivas quanto negativas, é o filme Divertida Mente, entre outras.

O que as crianças que viveram a guerra têm a dizer

Infelizmente, ainda existem países em guerras que impactam diretamente as crianças. Isso é muito triste!

Veja neste vídeo do canal DW-Brasil, as crianças sírias Lara, Ziad e Yousef, que perderam seus lares e familiares na guerra da Síria, mas não perderam a capacidade de sonhar por uma vida melhor:

Os desequilíbrios provocados pela guerra

Com conflitos armados todos perdem, porque as guerras provocam:

  • desigualdade
  • escassez
  • desesperança
  • mortes
  • violência
  • traumas
  • sofrimento
  • inflação
  • pânico

Nesse contexto, é oportuno fazer um apelo às entidades envolvidas na guerra entre Rússia e Ucrânia, para que busquem resolver essa questão de forma pacífica e diplomática.

Afinal, como já proferiu o notável psicoterapeuta Carl Jung:

“Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro.”

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Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


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