Dostoiévski e Tchaikovsky em perigo com o novo vírus que se espalha


A Itália que inventou o fascismo vira e mexe flerta com ele. Enquanto toda a Europa se despede do passaporte vacinal com o fim da pandemia (fim acelerado pela guerra, diga-se), o vírus do ódio e da discriminação segue firme e forte. Agora o novo alvo é a Rússia, com toda sua bagagem cultural.

O clima de ódio contra a Rússia está se espalhando em todo o mundo. Todo dia é uma nova notícia de boicote (hoje a notícia é que a Netflix interrompeu seus projetos na Rússia), ontem foi a proibição de todas as atividades dos canais Russian Today (RT) e Sputnik News no território da União Europeia. A justificativa é impedir que tais veículos de informação espalhem fake news da guerra.

Do outro lado do front, a Rússia também bombarda as fake news proibindo o uso de palavras como “guerra” ou “invasão”, para que sejam usadas as palavras certas: “operação militar especial”, para defender e libertar a Ucrânia, como informou o times of Israel.

Muito certo, parabéns!

Muita gente aplaude sem pensar no significado das coisas, querem combater a guerra fazendo guerra e se dizem lutar pela liberdade (da Ucrânia, vítima da Rússia) matando o resto da falsa democracia que ainda existe no Ocidente.

Parabéns, notícia falsa tem que ser combatida mesmo. Mas quem decide o que é falso?

Parabéns, hoje, pessoas que não querem se pronunciar sobre vacinas ou guerras, ou que se pronunciam de maneira diferente do esperado, são retalhadas. Amanhã o tema pode ser carne sintéticapronome neutro ou mobilidade autônoma de veículos.

Mas ainda resta o direito de pensar em uníssono, todos iguais. Isso é bom, pois evita guerras e discussões desnecessárias.

Russofobia: a nova pandemia

Dostoiévski e Tchaikovsky estão em risco à causa de um vírus de ódio e discriminação que se propaga feito pandemia. Olha o que está acontecendo:

Na Itália cresce não apenas o ódio contra Putin e contra os russos, mas também contra a cultura que vem daquele país. Até Dostoiévski e a música clássica russa foram alvos de ataques bombásticos.

Como informa o Hufftpost, o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, decidiu dispensar o diretor de orquestra russo Valery Gergiev do teatro alta Scala porque este não se pronunciou contra Putin:

“O maestro Gergiev que condene Putin ou renuncie ao La Scala”, ditou o prefeito.

Sem ter recebido resposta e ao término do ultimato dado ao maestro russo, o prefeito declarou:

“Acredito que a esse ponto podemos excluir a presença de Valery Gergiev no Teatro alla Scala».

O pedido tinha sido feito poucas horas após o início da ofensiva russa à Ucrânia, no dia seguinte ao sucesso alcançado por Gergiev no alla Scala com A Rainha de Espadas de Tchaikovsky, que estreou no último dia 23.

Mais recentemente ainda, a universidade Bicocca, sempre em Milão, cancelou um corso sobre Dostoevskij. Paolo Nori, o escritor e tradutor que daria o curso, disse em lágrimas:

“È censura”.

Diante da absurdidade dos fatos, e por causa desta última notícia ter se espalhado  mundo afora, a referida universidade anunciou ter repensado no assunto:

“A Universidade de Milão-Bicocca está aberta ao diálogo e à escuta, mesmo neste período muito difícil que nos vê consternados com a escalada do conflito. O curso do escritor Paolo Nori faz parte dos cursos “Entre a escrita”, cursos dirigidos a estudantes e cidadãos que pretendem desenvolver competências transversais através das formas de escrita. A universidade confirma que este curso decorrerá nos dias estabelecidos e tratará os conteúdos já acordados com o redator. Além disso, o reitor da Universidade se reunirá com Paolo Nori na próxima semana para um momento de reflexão”.

Mas o mesmo final diplomático não obteve o maestro de orquestra, que já foi substituído.

Estão todos errados?

Como informou o Corriere della Sera, Valery Gergiev, expulso do La Scala, já foi substituido por Timur Zangiev, jovem musicista de 27 anos.

O prefeito de Milão pergunta:

“Ele (Valery) foi banido de oito teatros na Europa, estão todos errados?”

Vamos ver o público o que vai fazer: aplaudir ou boicotar o teatro. Quem aplaudir e amanhã for obrigado a ter uma opinião pré-formada sobre tudo que não reclame, mas vá lutar pela democracia em outros países.

No Brasil, mostra de cinema russo é cancelado

O vírus russofóbico é a nova variante da pandemia e, atenção, já chegou ao Brasil.

A 8ª Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo que seria realizada de 09 a 23 de março foi cancelada (adiada mas sem data prevista, como diz o post abaixo).

Alguém saberia dizer qual o motivo do cancelamento?

Proibir, cancelar ou boicotar a cultura russa como ataque à Putin é uma loucura perigosa.

Em tempos de guerra, a única arma que temos contra o bombardeamento das fake news é a pesquisa, a história e a cultura.

É o fim do mundo, pessoal, ou o começo de um Novo Mundo?

Quem viver verá. Melhor ou pior?

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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