Como a Psicologia das Multidões ajuda a entender a atualidade


Desde tempos remotos, o poder de influenciar a coletividade é uma estratégia de dominação e manipulação da população humana.

Esse tipo de estratégia foi detectada e analisada pelo pensador Gustave Le Bon, que nasceu em 7 de maio de 1841, em Nogent-le-Rotrou-França.

Saiba por que é interessante conhecer as ideias deste pensador, e como elas podem nos ajudar a compreender o mundo atual.

Quem foi Gustave Le Bon

Gustave Le Bon foi um polímata, ou seja, um conhecedor de várias ciências.

Ele se formou como médico, mas dedicou grande parte de sua vida aos estudos da Antropologia, Arqueologia, Psicologia, Sociologia, Fisiologia e Física.

Gustave Le Bon foi médico militar durante a guerra franco-alemã e arqueólogo a serviço do governo francês.

Como arqueólogo, ele conheceu vários países e, em decorrência de todas as suas experiências, fez pesquisas e observações que foram registradas em uma série de livros. O mais famoso de seus livros é o Psicologia das Multidões.

A maioria das obras literárias de Gustave Le Bon foi dedicada a analisar e a compreender o imperialismo das potências europeias, o colonialismo e a servidão das massas.

Psicologia das Multidões

A principal argumentação do livro Psicologia das Multidões de Gustave Le Bon, se baseia na ideia de que os seres humanos são exageradamente influenciados pelo coletivo, indo inclusive contra a sua individualidade, ou seja, a massa acaba tendo uma decisiva influência sobre os indivíduos.

Em uma outra obra de Gustave Le Bon, A Multidão: Um Estudo da Mente Popular, ele destaca como características intrínsecas daqueles que se deixam levar pelo delírio das multidões os seguintes pontos:

  • ausência de senso crítico
  • impulsividade
  • incapacidade de raciocínio

Para Gustave Le Bon a razão disso é que o eu se perde dentro do nós, e o que nos leva a tal fenômeno são os seguintes fatores:

  • O ser humano se sente mais forte dentro do coletivo
  • As multidões contagiam a forma de pensar, sentir e agir do indivíduo
  • Aquele que tem personalidade forte e vontade poderosa consegue influenciar as multidões e se tornar um líder.
  • As multidões hipnotizam e manipulam o indivíduo e, ilusoriamente o faz experimentar um sentimento de onipotência.
  • Nas multidões, o ilusório se impõe ao que é real.
  • Não pertencer às multidões se torna algo arriscado.

Teoria do Contágio

A Teoria do Contágio foi uma concepção formulada por Gustave Le Bon, e que tem como princípio a influência hipnótica que as multidões exercem sobre os indivíduos.

Segundo essa concepção, os fatores que mantêm os vínculos de uma multidão e a hipnose social são:

  • A sensação de pertencimento e proteção por fazer parte de uma coletividade.
  • Protegidas pelo anonimato, as pessoas abandonam sua responsabilidade individual e cedem às emoções contagiosas da massa.
  • O abandono da consciência e responsabilidade individual, para pertencer e agir conforme a vontade da massa.
  • A sensação de poder ao entregar a própria individualidade à uma força maior, o poder da maioria.
  • O desenvolvimento de um senso de universalidade, unificando pensamentos, emoções, comportamentos e ações, ou seja, padronizando o senso comum e a moral vigente, fazendo da multidão uma entidade única.

Resumo da Psicologia das Multidões de Gustave Le Bon

O vídeo do Canal Folheando apresenta um resumo da obra Psicologia das Multidões de Gustave le Bon, explicando por que de as multidões tendem a agir de determinada forma:

Le Bon X Freud

O médico e psiquiatra Sigmund Freud (1856 – 1939) criador da psicanálise, escreveu o livro Psicologia das Massas e Análise do Eu tendo como base a obra Psicologia das Multidões de Gustave Le Bon.

Freud ampliou a concepção de Gustave le Bon levando-a para o campo da psicologia.

Para Freud, quando uma pessoa se torna integrante de uma multidão, seu inconsciente se liberta e assim as restrições do superego perdem sua força. Consequentemente, os instintos reprimidos vêm à tona dando a falsa sensação de liberdade.

Ainda de acordo com a concepção freudiana, aqueles que conseguem manipular os anseios da multidão se tornam seus líderes.

Multidão X Indivíduo

Transferindo estas concepções para a atualidade, podemos ver diversos exemplos da influência e preponderância das multidões sobre a vontade individual:

  • A compactação dos indivíduos como solução e resposta à uma crise, independente das diferenças e necessidades individuais.
  • A multidão é movida por ideologias e tradições assumindo uma identidade uniforme e coletiva. Exemplo: política e religião.
  • A adoração aos ídolos, como exemplo celebridades, também move as massas e as leva ao êxtase coletivo, o que é muito comum em nossos dias.
  • Os meios de comunicação também têm se tornado estratégias de manipulação das massas através dos noticiários, programas de TV, publicidade, fake-news, influenciadores digitais e coaches de sucesso.
  • Outro exemplo bem atual é a influência da ciência e da tecnologia em nossas vidas, que ao passo que evoluem e deixam importantes contribuições para nossa existência, paradoxalmente, têm-se tornado meios de unificação e controle das massas e enfraquecimento da essência individual.
  • Os interesses econômicos de uma minoria têm contribuído para que cada vez mais o ser humano se torne autômato, vivendo em função dos modismos, das redes sociais, do mundo virtual, das marcas, das trends,
  • Por fim, a pandemia Covid-19 ativou um outro vírus, o do medo, que tem feito com que o ser humano anule cada vez mais a sua individualidade e a sua essência.

Frases de Gustave Le Bon

Seguem algumas frases e pensamentos que traduzem as concepções de Gustave Le Bon:

  • O homem que não sabe dominar os seus instintos, é sempre escravo daqueles que se propõem a satisfazê-los.
  • Muitos são os homens que falam de liberdade, mas poucos são os que não passam a vida a construir amarras.
  • Muitas pessoas são dotadas de razão, muito poucas de bom senso.
  • Dominam-se mais facilmente os povos excitando as suas paixões do que cuidando dos seus interesses.
  • Para os homens, a liberdade, na maioria dos casos, não é outra coisa senão a faculdade de escolher a servidão que mais lhes convêm.
  • As revoluções só têm geralmente como resultado imediato uma mudança de lugar da servidão.
  • Conhecer a arte de manejar os sentimentos dos homens é saber dominá-los.
  • Qualquer que seja a razão, o inconsciente muitas vezes nos domina e sempre nos cega.
  • A história não é mais do que a narração dos esforços empregados pelo homem para edificar um ideal e destrui-lo em seguida, quando, tendo-o atingido, descobre a sua fragilidade.
  • Um dos mais constantes caracteres gerais das crenças é a sua intolerância. Ela é tanto mais intransigente quanto mais forte é a crença. Os homens dominados por uma certeza não podem tolerar aqueles que não a aceitam.
  • Os homens são quase sempre levados a crer, não pela prova, mas pelo agrado.
  • Para mover, cumpre comover.
  • Os povos de todas as raças adoraram, sob nomes diversos, uma única divindade: a esperança.
  • As massas nunca tiveram sede de verdade. Quem pode lhes fornecer ilusões é facilmente seu mestre; quem tenta destruir suas ilusões é sempre sua vítima.

Como preservar a Individualidade

A análise do efeito das multidões sobre o indivíduo é uma importante contribuição que Gustave Le Bon nos deixou para entender a atualidade.

Em meio a 7,9 bilhões de pessoas (outubro/21) em um mundo globalizado, onde impera a mecanicidade, a desigualdade social, o poder econômico de uma minoria  e a  servidão de uma maioria, fazer parte da massa de manobra é mais fácil do que exercer a diferença individual e sair do automatismo.

Na realidade, para que o coletivo de fato possa ser beneficiado é preciso antes que o indivíduo desenvolva sua lucidez e consciência.

Entender esse fenômeno é o primeiro passo para exercer nossa individualidade diante de um mundo massificado.

“Pensar coletivamente é a regra geral. Pensar individualmente é a exceção”.

Gustave Le Bon

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Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


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