Reduzir a poluição plástica global em até 80% é possível. Veja como


De acordo com um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), é possível reduzir a poluição plástica global em até 80% até o ano de 2040. A agência enfatiza que as mudanças necessárias para atingir essa meta são importantes, além de práticas e acessíveis.

O relatório destaca que o primeiro passo fundamental é eliminar o uso de plásticos desnecessários, como embalagens excessivas. Além disso, é necessário promover a reutilização de plásticos, como o uso de garrafas recarregáveis, e aumentar os esforços de reciclagem. Também é essencial substituir os plásticos por alternativas mais ecológicas e sustentáveis.

Caso essas mudanças sejam implementadas, impulsionadas por políticas governamentais e transformações na indústria do plástico, estima-se que a poluição plástica possa ser reduzida para aproximadamente 40 milhões de toneladas até 2040. Em contraste, se nenhuma ação for tomada, a quantidade de plástico poluente poderia chegar a 227 milhões de toneladas nesse mesmo período.

O relatório ressalta que as mudanças propostas trariam benefícios significativos, tanto em termos econômicos quanto ambientais. Estima-se que tais medidas poderiam gerar benefícios econômicos na casa dos trilhões de dólares até 2040, ao reduzir os danos causados pelos plásticos à saúde humana, ao clima e ao meio ambiente.

Plástico em todo lugar

O problema da poluição plástica atualmente afeta todo o planeta, desde o cume do Monte Everest até os oceanos mais profundos. As pessoas estão consumindo microplásticos por meio de alimentos e água, além de inalá-los. Essas partículas têm sido encontradas até mesmo no sangue humano e nos pulmões de pessoas vivas.

Em março de 2022, 193 países se comprometeram a acabar com a poluição plástica, e negociações para um acordo global juridicamente vinculativo estão em andamento, sendo organizadas pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Atualmente, o mundo produz cerca de 430 milhões de toneladas de plástico por ano, sendo que dois terços desse volume são produtos de vida curta (descartáveis) que logo se tornam resíduos. Se as tendências atuais persistirem, a produção de plástico deve triplicar até 2060.

Inger Andersen, diretora-executiva da Unep, enfatizou que a forma como produzimos, usamos e descartamos plásticos está causando poluição nos ecossistemas, representando riscos para a saúde humana e contribuindo para a desestabilização do clima. Ela afirmou que o relatório estabelece um roteiro claro para reduzir drasticamente esses riscos, adotando uma abordagem circular que evita a entrada de plásticos nos ecossistemas, nos corpos humanos e na economia.

Andersen ressaltou ainda que essa transformação traria ganhos econômicos e sociais significativos, com economias tanto para governos quanto para o setor privado, além da criação de centenas de milhares de empregos. O relatório destaca que o aumento da reutilização de plásticos poderia reduzir 30% da poluição plástica até 2040, por meio de medidas como sistemas de devolução de embalagens.

A solução

A implementação de políticas como taxação de plástico virgem e a remoção de subsídios aos combustíveis fósseis incentivaria a reciclagem, tornando-a mais economicamente atrativa em comparação com a produção de plástico novo. O estabelecimento de diretrizes de embalagem para aumentar a reciclabilidade dos produtos também seria uma medida importante.

Outro aspecto abordado no relatório é a substituição cuidadosa de produtos plásticos, como recipientes de comida para viagem, por materiais alternativos, como papel ou materiais compostáveis. Essa medida poderia reduzir mais 17% da poluição plástica até 2040.

Os resíduos de plástico provenientes de alimentos e bebidas para viagem são a principal fonte de poluição dos oceanos, de acordo com um estudo de 2021. Ainda assim, mesmo com todas essas mudanças propostas, ainda haveria uma quantidade significativa de resíduos plásticos que precisariam ser descartados com segurança até 2040. O relatório sugere que responsabilizar os fabricantes por esse descarte adequado seria uma medida importante.

O relatório também destaca que a combinação entre a redução de custos pela produção de menos plástico e o aumento das receitas provenientes da venda de plástico reciclado reduziria significativamente os custos totais da indústria.

Economicamente melhor

Embora o investimento necessário para realizar essa transformação seja substancial, estimado em US$ 65 bilhões por ano, isso representa apenas cerca da metade do que já é investido atualmente pela indústria do plástico.

Além disso, o relatório da ONU estima que a redução da poluição plástica em 80% nos próximos 20 anos evitaria danos avaliados em mais de US$ 3 trilhões. Esses danos incluem impactos na saúde, no clima, na poluição do ar, no ambiente oceânico e nos custos legais relacionados a processos movidos contra empresas do setor plástico.

Em particular, a redução de 80% também evitaria a emissão de 500 milhões de toneladas de CO2 por ano, aproximadamente a mesma quantidade emitida pelo Canadá. Essa mudança também poderia resultar em um aumento líquido de 700.000 empregos até 2040, principalmente em países de baixa renda, de acordo com o relatório.

A diretora-executiva do Unep, Inger Andersen, afirmou que o objetivo do relatório é fornecer informações aos países envolvidos nas negociações de um tratado global sobre plástico, destacando as opções disponíveis. Ela expressou otimismo de que um acordo global possa ser alcançado até 2024, enfatizando que há uma forte determinação em resolver o problema da poluição plástica em todas as partes do mundo.

Andersen ressaltou que, apesar de ainda haver uma demanda por plástico, é necessário repensar onde e como o utilizamos, promovendo maior reutilização e reciclagem, e diminuindo o uso de produtos plásticos de uso único. A transição para uma abordagem mais sustentável é fundamental para enfrentar o desafio da poluição plástica de maneira eficaz.

Fontes:

  1. UNEP
  2. The Guardian

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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