O que as empresas já estão fazendo para substituir o plástico e driblar o problema do lixo


Todo mundo já está consciente de que o planeta não suporta tanto lixo plástico. Oceanos e mares estão repletos de sacolas e embalagens plásticas que não apenas poluem como interferem na fauna marinha, a ponto de levar à morte diversas espécies. Também nós ainda não sabemos com clareza quais são os efeitos do microplástico no nosso organismo. Logo, é preciso repensar os nossos hábitos em relação a esse material tão poluente.

O problema do lixo plástico é tão grave que ele representa 75% do lixo marinho, de acordo com Larissa Kuroki, coordenadora de conteúdos e metodologias do Instituto Akatu, uma ONG que atua em projetos de consumo consciente.

Consciência tranquila

Muita gente fica com a consciência tranquila ao comprar um produto cujo rótulo diz “embalagem reciclável”. Mas você sabe realmente o que isso significa?

Conforme já informamos aqui: reciclagem não é a solução para o problema do plástico em nosso planeta! Isso porque a reciclagem abarca alguns problemas.

O primeiro deles é que, na maioria das cidades brasileiras, a coleta seletiva é inexistente ou não funciona a contento. Sem falar que nem toda a população tem informação suficiente e correta para fazer a separação do lixo.

Uma outra questão é que a grande maioria do plástico não é reciclável, isso porque muito plástico é composto de polímeros diversos, o que dificulta ou impede a reciclagem. Pasmem: apenas 9% do plástico no mundo é reciclado! 91% vai ficar aí por + 400 anos

Além disso, produtos como esponjas, rótulos de embalagens e outros tipos de plásticos são considerados impuros, porque são misturados a outros químicos, como tinta e componentes não recicláveis e, no mais, a reciclagem é sempre um processo industrial que deixa sua pegada de carbono.

A reciclagem é apenas uma solução para o problema do lixo plástico, e não o único e principal recurso para evitá-lo ou minimizar o seu dano. Pense que por mais que se recicle o plástico, ele permanece sendo um material de decomposição tão lenta que secular (400 anos estimativamente).

O brasileiro é um consumidor exigente

Segundo dados divulgados pelo jornal Tribuna de Minas, ao mesmo tempo em que o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo é, também, o que menos recicla. Paradoxalmente, o consumidor brasileiro tem grande preocupação com a questão do lixo plástico. O país ocupa o sexto lugar no ranking dos consumidores que mais demandam sustentabilidade por parte das empresas.

A demanda do mercado tem feito as empresas a repensarem a forma como os seus produtos são colocados à venda, já que isso impacta positivamente na imagem das marcas. As embalagens precisam ser funcionais e conter produtos de qualidade, um desafio nem sempre fácil.

Embora haja mais soluções sendo desenvolvidas para evitar o uso do plástico, é preciso que os produtos sejam bons e se mantenham bem conservados. Toda uma engrenagem está sendo mobilizada para esse fim: pesquisas científicas para o desenvolvimento de novos materiais, reciclagem de PET, embalagens em refis, plástico verde feito da cana-de-açúcar, sistema de lógica reversa – tudo para atender um consumidor mais consciente sobre o problema do lixo para o meio ambiente.

As apostas hoje em dia são as embalagens compostáveis, biodegradáveis, reutilizáveis, retornáveis ou, em qualquer modo, feitas com matérias-primas menos impactantes como os materiais recicláveis ou feitos de papel prensado, bambu ou vidro.

Consumidor: não se deixe enganar

Claro que, de olho nessa fatia de mercado em expansão, muitas empresas adotam a retórica “green” para vender os seus produtos. Por isso, é preciso ter atenção para não comprar gato por lebre e ser vítima de “greenwashing”.

A palavra designa o uso do conceito de sustentabilidade em vão. Ou seja, empresas que não têm uma filosofia ambientalista em si, mas que tenta vender produtos para a fatia ecológica do mercado.

Para não cair na lábia das falsas empresas ecologicamente corretas, informe-se de que empresa se trata em seu site e em suas redes sociais.  Vá aos links institucionais “sobre nós” e “o que fazemos” para obter mais detalhes sobre a visão e a missão da empresa. Mande um e-mail caso não encontre as informações que procura.

Busque por certificações nos rótulos dos produtos, que garantem terem sido produzidos conforme divulgado pela empresa.

Opte por adquirir produtos fabricados por pequenos produtores, de preferência de produtores locais. Isso permite que você tenha acesso direto a quem está envolvido na cadeia produtiva e ainda evita emissão de gases de efeito estufa produzido com o transporte das mercadorias.

O plástico não é o único vilão

Não adianta apenas colocar na conta do plástico a responsabilidade pelo lixo ambiental. Há opiniões divergentes a respeito. Elvira Fortunato, vice-reitora da Universidade Nova de Lisboa e diretora do Centro de Investigação de Materiais dessa universidade, defende que há vantagens em substituir plástico por papel:

“Trata-se de um material eco-sustentável, totalmente degradável quando exposto ao meio ambiente e é totalmente reciclável. Esta substituição é especialmente relevante no caso dos plásticos mais finos de uso único”, informa o site português Sapo.

A fala dela faz eco à da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP) de que “não faz sentido” avançar com restrições ao plástico se não for provado que existem alternativas ecológicas melhores e com menor impacto ambiental. Um estudo da Agência da Proteção Ambiental da Dinamarca e outro do Governo do Quebeque (Canadá) apontam que os sacos de plástico comuns são menos danosos ecologicamente do que materiais como o algodão (porque esta é uma cultura onde se usa muito agrotóxico) ou um plástico mais duro (porque provavelmente reciclável ou reutilizável). O papel extraído de madeira reflorestada ou renovável não é o mesmo do extraído de florestas virgens, por isso o papel pode não ser um material melhor do que o plástico para o meio ambiente, ainda que sua decomposição, dependendo de vários fatores (tintas e outras químicas usadas), seja menor a do plástico.

Até um carro elétrico pode poluir mais que um a diesel, dependendo da fonte de energia usada para abastecer o carro elétrico.

O conceito da sustentabilidade é um conceito complexo que abarca muitos fatores. Mas uma coisa é certa e todos estão de acordo: o consumo deve ser diminuído e os materiais descartáveis devem ser substituídos pelos reutilizáveis, ou seja, a forma de uso dos materiais é que deve ser colocada em discussão e ação.

Tanto empresas quanto consumidores devem fazer a sua parte. Estes precisam reavaliar as suas formas de consumo, a fim de que causem o menor impacto possível ao meio ambiente. Dessa forma, estarão também forçando as empresas a buscarem alternativas no sentido de um consumo (mais) consciente.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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