Cientistas pedem pelo fim dos filtros de cigarro (bitucas)


Adivinha para que servem os filtros de cigarro (as famosas bitucas). Se você respondeu “para diminuir os riscos do cigarro à saúde humana”, você errou! Se você respondeu “para causar danos ao meio ambiente”, você acertou!

Os filtros de cigarro são uma forma extremamente comum de lixo e representam uma ameaça significativa para os animais e o meio ambiente.

De acordo com um artigo publicado no Tree Hugger, cientistas pedem pelo fim desse lixo. O artigo diz que, segundo um estudo (1) realizado pela Universidade de Gotemburgo, os filtros de cigarro liberam milhares de produtos químicos tóxicos e fibras plásticas no ambiente, causando graves danos aos ecossistemas aquáticos.

Ou seja, não é apenas lixo: é lixo plástico, químico e de difícil decomposição.

Os filtros não filtram

Antes da década de 1950, menos de 1% dos cigarros eram filtrados. No entanto, com a descoberta das ligações entre o tabagismo e o câncer, a indústria do tabaco passou a criar filtros como uma medida para produzir cigarros “mais seguros”. Os filtros se tornaram amplamente adotados como uma estratégia de marketing para tranquilizar os fumantes preocupados com a saúde.

No entanto, os filtros não cumpriram sua promessa de tornar o ato de fumar mais seguro. Estudos (2) mostraram que os filtros não reduziram efetivamente os riscos à saúde associados ao tabagismo. Na verdade, eles tornaram o fumo ainda mais viciante e perigoso. Além disso, os filtros são compostos por acetato de celulose, um tipo de plástico, e podem lascar, liberando fibras microplásticas que os fumantes podem inalar.

Os filtros de cigarro são uma das formas mais comuns de lixo encontradas em espaços públicos e praias em todo o mundo. Mesmo com a diminuição nas vendas de cigarros ao longo das décadas, ainda foram vendidos cerca de 203,7 bilhões de cigarros nos Estados Unidos em 2020. Globalmente, estima-se que cerca de 4,5 trilhões de bitucas de cigarro usados entrem no meio ambiente a cada ano.

Plástico altamente tóxico

O estudo da Universidade de Gotemburgo destaca que os filtros de cigarro são descartados com mais frequência do que outros tipos de lixo. Enquanto a taxa de descarte inadequado de outros tipos de lixo é de cerca de 17%, a taxa de descarte de bitucas de cigarro chega a 65%. No entanto, muitos fumantes não têm consciência do impacto ambiental negativo desses filtros. A maioria dos fumantes não sabe que os filtros são feitos de plástico, o que indica uma falta de percepção sobre o problema.

Cada filtro de cigarro contém aproximadamente 15.000 fibras microplásticas, que podem ser liberadas a uma taxa de cerca de 100 fibras por dia na água. Além disso, esses filtros liberam uma série de produtos químicos tóxicos, incluindo resíduos de pesticidas, dióxido de titânio, triacetina, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs), nicotina, metais pesados e outros compostos derivados da colheita, processamento e combustão do tabaco.

Essas toxinas presentes nos filtros de cigarro representam uma ameaça aos animais e ecossistemas aquáticos. Estudos mostraram que peixes expostos a concentrações equivalentes às toxinas liberadas por apenas um filtro de cigarro podem sofrer danos genéticos e comportamentais, bem como alterações em seu sistema reprodutivo.

É hora de proibir esse lixo

Diante dessas descobertas, pesquisadores e ativistas estão pedindo a proibição dos filtros de cigarro. Essa medida representaria uma mudança institucional relativamente pequena, mas teria um impacto significativo na redução da poluição plástica e na promoção de um consumo mais sustentável. Além disso, essa proibição estaria alinhada com os esforços internacionais em combater a poluição plástica.

Em resumo, os filtros de cigarro são um problema ambiental sério e amplamente negligenciado. Seu descarte inadequado e a liberação de produtos químicos tóxicos e fibras plásticas representam uma ameaça à vida aquática e aos ecossistemas (além de não diminuirem os riscos do tabagismo ao fumante).

É necessário aumentar a conscientização sobre esse problema e adotar medidas efetivas, como a proibição dos filtros de cigarro de plástico, a fim de mitigar os impactos negativos no meio ambiente.

Leia aqui, em inglês, o artigo completo na Tree Hugger.

Fontes:

  1. Estudo Smokers behaviour and the toxicity of cigarette filters to aquatic life: a multidisciplinary study, publicado na revista Microplastics and Nanoplastics.
  2. Estudo How Tobacco Smoke Causes Disease: The Biology and Behavioral Basis for Smoking-Attributable Disease: A Report of the Surgeon General.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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