Tudo sobre javalis: problemas e soluções para a superpopulação da espécie


Há anos que os javalis vêm sendo considerados vilões. Eles invadem centros urbanos, comem plantas da lavoura, são considerados um perigo para outros animais e também para o ser humano. Mas o que muita gente ignora, é que as causas da reprodução descontrolada dessa espécie, tem a ver com os efeitos da intervenção humana sobre a natureza. Vamos saber tudo sobre os javalis.

Notícias, publicações e vídeos têm aos montes mostrando o lado mau e agressivo desse animal, bem como os problemas que ele traz para o sistema de vida humano.

Além disso, diversos representantes públicos e vários cidadãos apoiam ações violentas, a fim de eliminar essa espécie, tratando-a como praga e recorrendo a atos brutais como a caça com armas de fogo e até facões.

As causas das invasões de javalis

Primeiramente foi o homem que invadiu o espaço desse animal, e por tabela tirou a fonte de alimentos dele, o introduziu em áreas onde os javalis não existiam, e provocou a redução dos seus predadores naturais como o lobo, por exemplo.

Toda ação tem uma reação. Então, é preciso avaliar bem a questão da caça ao javali, para não criar piores consequências.

Javalis no Brasil

Provavelmente, o javali-europeu foi introduzido pela primeira vez na Argentina e Uruguai por volta do século XX para fins de criação.

No Brasil, esse animal foi introduzido em meados da década de 1990, com diversos criadores que criavam este animal para comercializar sua carne. Porém, com a proibição pelo IBAMA da importação e criação de javalis em 1998, os criadores acabaram por soltar os animais no final dos anos 1990.

Daí em diante, inúmeros exemplares da espécie começaram a se espalhar e a procriar, causando o aumento populacional desproporcional dessa espécie.

Desvantagens da caça aos javalis

A caça a esse animal tem feito sua espécie aumentar ainda mais, resultando em uma superpopulação de milhões de javalis, só no Brasil.

Esse método cruel é como enxugar gelo, porque os javalis são animais resistentes, adaptáveis, têm forte instinto de preservação e praticamente não têm predadores. Por isso, em várias partes do mundo vem acontecendo o mesmo problema.

Outra desvantagem da caça é que essa prática violenta provoca a destruição da organização dos grupos de javalis, causando a dispersão dos indivíduos e favorecendo a reprodução das fêmeas jovens, o que não aconteceria se estivessem vivendo sob ordem natural.

Numerosos estudos, incluindo alguns realizados na França e Suíça, mostram que a pressão da caça aumenta a multiplicação dessa espécie. Por isso, soluções sem sangue seriam muito mais eficazes.

Os perigos da caça

Com certeza, as consequências do aumento e das invasões dos javalis causam medo. Mas também a ação de caçadores que usam armas e cães sujeitos a exploração, maus-tratos, mutilações e até morte, também amedronta.

A caça também provoca acidentes e mortes, tanto de pessoas como de animais, além de tornar os javalis mais acuados e ferozes.

Queixadas e catetos (porcos do mato) por exemplo, são protegidos por lei e não devem ser caçados no Brasil, mas com a caça aos javalis, podem ser confundidos e mortos.

A título de exemplo, na Itália, desde 2007, segundo a Associazione Vittime della Caccia, 1.000 pessoas morreram devido à caça. Dessa forma, fica notório que a ameaça não parte somente dos javalis, mas também da prática da caça.

Ações de entidades de proteção animal

Para os representantes da proteção animal brasileira, o Brasil não pode ver o javali como uma espécie invasora, porque ela foi importada e nunca foi feito um controle populacional dessa espécie.

Além do mais, não se pode resolver um problema com um outro problema, causando dor e sofrimento não só ao javali, mas aos cachorros usados na caça e até aos humanos, já que são usadas armas que podem ferir quem faz parte, e até quem não faz, já que um tiro perdido pode ferir e matar alguém.

O Hong Kong Wild Boar Concern Group (grupo de preocupação com javalis de Hong Kong) uma organização civil que protege os javalis e educa o público, alega que a urbanização invadiu o habitat dos javalis e que a alimentação dos animais foi modificada pelos hábitos humanos, levando cada vez mais javalis a entrarem nas áreas urbanas para se alimentarem. Uma forma de remediar essa situação é o governo  reconstruir ou compensar seu habitat invadido.

A ONG World Animal Protection (Proteção Animal Mundial), em uma publicação escrita pelo biólogo e Gerente de Campanha da Vida Silvestre, João Almeida, também esclarece por que a caça é ineficiente, já que a caça de javalis foi liberada para a população desde 2013 e, de lá para cá, os dados disponíveis mostram que a população da espécie aumentou vertiginosamente.

A União Internacional Protetora dos Animais – Uipa, também é contra a caça, enviando ao Ibama um ofício se opondo a forma como vem sendo feito o controle de javalis. A entidade também protocolou em fevereiro de 2019, a representação contra a caça junto ao Ministério Público Federal (MPF).

Além dessas medidas, esta ONG, em uma publicação em seu site, expôs várias formas de se lidar com o problema de forma mais ética e humanitária.

Confira a publicação em -> Controle Populacional do Javali-Pretexto para a liberação da caça.

Denúncias, investigações e evidências

A indignação dos representantes da causa animal tem fundamento porque a crueldade envolvida na caça ao javali já foi manchete no Fantástico em  julho de 2016.

Essa crueldade também foi evidenciada no texto Com arapucas e jaulas, caçadores tentam conter avanço dos javalis, publicado no site GaúchaZH em 2014.

Mais recentemente, novamente o Fantástico trouxe à tona a problemática da caça aos javalis, através de uma reportagem investigativa que foi ao ar em setembro de 2021, e também publicada no G1.

A matéria trata da relação da caça ao javali com o aumento de caçadores certificados, além de intensificar o armamento no Brasil.

Outro ponto levantado é que ao passo que o número de caçadores aumentou vertiginosamente, a população de javalis também aumentou.

O próprio Ibama confirma isso pois, segundo dados desse órgão, depois que a caça foi liberada,  havia javalis em 563 municípios brasileiros em 2016. O número quase triplicou em 2019, sendo que os animais apareceram em 1.536 municípios, a maioria deles nas regiões Sul e Sudeste.

Métodos mais éticos para lidar com o problema

Especialistas e ativistas apontam para outras formas de prevenir danos causados por javalis através de diferentes soluções, como:

  • a instalação de cercas altas e fortes para proteger as plantações
  • a esterilização, realizada por meio de uma injeção contraceptiva, como por exemplo, a GonaCon, que vem sendo usada para controle populacional de espécies que se multiplicam muito.
  • criadores autorizados e regulamentados desses animais
  • reservas naturais onde possam viver e serem monitorados

Tudo sobre javalis

Ouve-se falar tão mal desse animal e pouco se conhece sobre a sua natureza, como se comporta em seu habitat natural e em condições favoráveis. Por isso, saiba tudo sobre o javali.

Outros nomes do javali

A palavra javali vem do árabe djabali ou hinzir-djabal, que significa “porco montanhês” ou “porco do mato”.

O nome científico do javali é Sus scrofa. Essa espécie é também conhecida como:

  • javali-euroasiático
  • porco-selvagem-euroasiático
  • javardo
  • porco-bravo
  • porco-monteiro (no Pantanal)
  • porco-montês

Distribuição geográfica

Essa espécie é nativa da Europa, Ásia, Ilhas Sonda e Norte da África, sendo que a subespécie do javali-europeu (Sus scrofa) foi introduzida nas Américas e na Oceania.

Habitat

Os javalis preferem bosques com bastante vegetação onde possam se proteger e se alimentar. Em sua ampla área de distribuição geográfica, ocupam bosques temperados e até florestas tropicais. Não habitam desertos nem altas montanhas.

Características

O corpo do javali é robusto, peludo, e possui patas relativamente curtas. Ele tem uma cabeça grande, triangular, com olhos pequenos.

O tamanho e o peso dos javalis adultos dependem de fatores ambientais. Por exemplo: javalis que vivem em áreas áridas com pouca oferta de alimento, tendem a atingir tamanhos menores do que os que habitam áreas com abundância de alimentos e água.

Em geral, os javalis são animais de grande porte, sendo que os machos da espécie podem pesar entre 50 e 250 kg e as fêmeas entre 40 e 200 kg.

Animais dessa espécie medem entre 1,40 e 1,80 m de comprimento.

Os machos são consideravelmente maiores que as fêmeas, além de terem dentes caninos maiores.

Os pelos do javali são rijos e nos adultos variam entre as cores vermelho-escuro e acastanhado. Já os filhotes apresentam pelagem cor de terra clara com listras negras. A pelagem dos filhotes escurece com a idade.

O tempo de vida desse animal em estado selvagem gira em torno de 2 a 10 anos e cerca de 20 anos em cativeiro.

Fortes habilidades

A boca é provida de enormes dentes caninos afiados que se projetam para fora, sendo que os caninos superiores são curvados para cima, e os inferiores, maiores ainda, chegam a ter 12 cm de comprimento de parte exposta.

Os dentes caninos são usados como forma de ataque e defesa, desde disputa entre machos ou luta contra predadores.

O javali também tem a habilidade de saltar obstáculos de até 1,50 metro de altura.

Ele consegue correr a uma velocidade máxima de até 40 km/h, dependendo do seu peso.

Os poderosos músculos do seu pescoço, conferem força para cavar até 10 cm de profundidade em solo duro e compacto, também podendo levantar pedras de até 50 kg!

Predadores dos javalis

O principal predador natural do javali é o lobo-cinzento, que usa como estratégia cercar sua presa, através de sua matilha (bando de lobos), separando o javali de seu grupo.

Hábito alimentar

O javali é um animal onívoro, ou seja, come alimentos de origem vegetal e animal. No entanto, ele prefere comer raízes, frutos, castanhas e sementes.

Quando necessário, na falta de oferta de alimentos preferidos, os javalis se alimentam de  caracóis, minhocas, insetos, ovos de aves e pequenos mamíferos e até animais mortos.

Ele passa grande parte do dia fuçando e cavando a terra em busca de comida.

Comportamento

O javali não é territorialista, ou seja, ele consegue viver em seu habitat com outras espécies ou grupos de javalis.

Ele vive em grupos matriarcais, onde as crias são lideradas pela mãe, normalmente com três a cinco animais. Entretanto, é possível encontrar grupos com mais de vinte indivíduos.

Em geral a javalina ou gironda (a fêmea adulta do javali) que domina o grupo é a de maior idade e tamanho, e age como guarda, ficando um pouco mais afastada dos demais. Ela é capaz de dar sua vida para defender os outros e ajudar eles a fugirem.

Os machos em idade reprodutiva são mais solitários, mas podem ser vistos acompanhados por um ou mais machos jovens.

Durante o dia, o javali é normalmente sedentário, pois ele fica descansando em pequenas depressões no terreno, feitas por ele próprio.

De noite, ele é bastante ativo, chegando a percorrer distâncias que podem variar de 2 a 14 Km.

Esse animal gosta de tomar banho de lama, porque o ajuda a se refrescar já que que os javalis não suam por terem glândulas sudoríparas atrofiadas, então, eles não conseguem transpirar.

Reprodução

Durante a fase de reprodução, os machos adultos solitários buscam fêmeas no cio.

Se necessário, o macho luta contra seus rivais para conquistar as fêmeas.

A gestação das fêmeas dura cerca de 110 dias e as ninhadas chegam de 2 a 10 filhotes que após uma semana já podem acompanhar a mãe em suas andanças. O desmame acontece aos 3-4 meses de idade.

A maturidade sexual é alcançada aos 8-10 meses, porém,  os machos jovens são impedidos de acasalar-se pelos machos mais velhos.

O javali vivendo em equilíbrio na natureza

Quando não existem fatores estressantes ou que interferem no habitat e desenvolvimento do animal, ele vive conforme sua natureza.

Veja um exemplo disso no vídeo do canal Explore Croatia, com javalis convivendo com outras espécies e a mamãe javali cuidando de sua cria:

Como visto nas imagens acima, em circunstâncias favoráveis os javalis não são invasivos e ferozes. Entretanto, em situações adversas, até o ser humano pode se tornar agressivo ou violento.

Foco, união e investimento na solução

Considerando todos os pontos levantados neste conteúdo, é oportuno enfatizar que é preciso tratar a problemática relacionada aos javalis através de soluções pensadas e formuladas em conjunto com biólogos, órgãos públicos ambientais, entidades da defesa animal, ecologistas, veterinários, cientistas e, sobretudo, tendo o apoio do governo para viabilizar as soluções encontradas, através de investimento financeiro e de políticas públicas.

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Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


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