Breadcrumbing: as Migalhas de Pão no Joguinho Tóxico do Amor


Em um mundo cada vez mais conectado pelas redes sociais, surgem novas dinâmicas nas relações amorosas, na maioria das vezes, pouco ou zero saudáveis. Uma delas é o breadcrumbing, um termo que pode soar inofensivo à primeira vista, mas que esconde uma realidade dolorosa para aqueles que o experimentam.

O que é o breadcrumbing?

Imagine-se seguindo um caminho marcado por migalhas de pão, com a esperança de chegar a algum lugar. No entanto, o caminhante que deixou essas migalhas nunca está completamente presente, dando apenas pequenas doses de atenção e afeto. O breadcrumbing em relacionamentos amorosos é exatamente isso: um parceiro que mantém a outra pessoa interessada, mas sem nunca se comprometer totalmente.

Essa prática é alimentada pela facilidade das redes sociais, onde é possível manter contato mínimo e intermitente sem muito esforço. Mensagens esporádicas, curtidas em fotos e comentários ocasionais criam uma ilusão de conexão, mantendo o outro na corda bamba emocional.

O grande problema do breadcrumbing é que ele não visa a construção de um relacionamento sólido e significativo. É apenas um jogo de poder, onde um dos parceiros tem controle sobre a situação, enquanto o outro fica preso em uma teia de esperança ilusória. Aquele que pratica o breadcrumbing não está disposto a levar as coisas para o próximo nível, e essa falta de comprometimento pode causar um grande sofrimento na “vítima”.

A dinâmica da fome com as migalhas

Você tem fome de quê? Na dinâmica da fome com as migalhas há sempre um desequilíbrio entre o amor dado e o recebido porque, se de um lado uma pessoa se recusa a dar, do outro é necessário que uma outra pessoa aceite não receber. Isso caracteriza uma dinâmica de ambivalência, ou seja, um não existe sem o outro. Tal dinâmica tende a prolongar a relação indefinidamente, mesmo que seja percebida como insatisfatória e prejudicial.

A pessoa que recebe migalhas de afeto experimenta sensações conflitantes, oscilando entre momentos de proximidade e ausência por parte do parceiro. A ausência se torna uma arma poderosa, mantendo o outro em suspense e criando um ciclo vicioso de dependência emocional.

Manipulação

O breadcrumbing não deixa de ser uma forma de manipulação emocional, onde uma das partes dá apenas o suficiente para manter o parceiro preso emocionalmente. Nem precisaria dizer que aí está configurado um relacionamento tóxico. Mesmo consciente de que merece mais, a pessoa presa nesse ciclo encontra dificuldades para terminar o relacionamento, continuando a implorar amor, na ilusão de que um dia alguma coisa mude, afinal, ela está recebendo alguma coisa, poucas migalhas, mas “alguma coisa”.

O pior é que o manipulador afetivo disposto a dar apenas migalhas, muitas vezes, tem dificuldades emocionais e relacionais profundas, resultantes de experiências passadas, especialmente na infância. Esse comportamento pode ser uma forma de escapar de suas próprias inseguranças e medos, ao mesmo tempo em que alimenta sua autoestima de forma superficial e egoísta.

Como reconhecer as migalhas

Reconhecer o breadcrumbing é o primeiro passo para não cair nessa armadilha emocional. Mensagens espaçadas, falta de continuidade nas conversas e desaparecimento repentino após momentos de proximidade são sinais claros desse comportamento.

É importante estar atento a esses padrões e não se deixar envolver em relacionamentos que não oferecem reciprocidade e comprometimento genuíno. No final das contas, o breadcrumbing é uma forma de autodefesa emocional para quem o pratica, mas pode deixar um rastro de dor e frustração para aqueles que estão do outro lado.

Construir relacionamentos saudáveis requer honestidade, comprometimento e empatia, ingredientes que o breadcrumbing simplesmente não oferece.

Portanto, é essencial reconhecer quando estamos sendo alvo desse joguinho tóxico e tomar medidas para proteger nossa própria saúde emocional.

Como sair dessa e parar de comer migalhas

Para parar de comer migalhas e sair desse ciclo vicioso, é essencial que a “vítima” do breadcrumbing tome medidas para encerrar o relacionamento. Aqui estão algumas etapas importantes a serem seguidas:

  1. Tome consciência dos mecanismos envolvidos: Reconheça que o parceiro que oferece migalhas de afeto não sentirá a necessidade de mudar sua atitude a menos que seja confrontado com as consequências de suas ações.
  2. Foque nos seus próprios desejos: Não se subestime ou justifique as ações do outro de forma exagerada. Reconheça que suas próprias necessidades e desejos são igualmente importantes em um relacionamento.
  3. Expresse seus pensamentos e sentimentos: Não retenha suas emoções por medo ou insegurança. Abra-se para discussões honestas sobre suas intenções e expectativas, permitindo que ambas as partes expressem seus sentimentos.
  4. Estabeleça e mantenha limites: Proteja-se definindo limites claros e respeitando-os. Se você não se valorizar, o outro tampouco o fará. Mantenha-se firme em suas decisões e necessidades.

É importante cuidar de si mesmo e buscar apoio psicológico, como terapia ou psicanálise, para lidar com as dificuldades emocionais e reconstruir sua autoestima. Decidir não aceitar migalhas não é egoísta, mas sim um passo necessário em direção a relacionamentos mais saudáveis e satisfatórios.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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