O sexo frágil da pandemia: homens são mais vulneráveis ao Coronavírus


Já se sabe que o Coronavírus praticamente não afeta as crianças. Por outro lado, torna-se potencialmente mais perigoso quanto mais avançada é a idade. Os estudos publicados até agora indicam que a taxa mortalidade é de 0,4% para as pessoas de 40 anos; de 1,3%  aos 50; de 3,6% aos 60; de 8%  aos 70; e de 14,8% entre os que tem 80 anos ou mais.

Mas as variações de letalidade não são observadas apenas entre as diferentes faixas etárias: em menos de três meses de surto, os pesquisadores perceberam também que os homens são mais vulneráveis que as mulheres.

Mas por quê?

As hipóteses formuladas pelos cientistas giram em torno de fatores tanto biológicos quanto sócio-culturais.

O hormônio feminino

Para os que apostam nas explicações biológicas, o estrogênio, hormônio sexual feminino, pode ser a peça-chave. Nesse grupo está Sabra Klein, do departamento de microbiologia molecular e imunologia da Escola de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, nos EUA.

Em entrevista à BBC, a cientista defendeu que o estrogênio pode estimular o sistema imunológico, ajudando o organismo não só com a eliminação de uma infecção viral, mas também na resposta às vacinas.

“Vários estudos realizados com camundongos infectados pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (Sars) mostraram que o estrogênio contribuiu sem dúvida para a maneira como as fêmeas controlavam melhor a infecção do que os machos”, explicou Klein.

Segundo a pesquisadora, o mesmo ocorreu com o vírus da gripe comum. Os dados científicos coletados nos surtos anteriores, portanto, respaldam sua hipótese de que o estrogênio esteja contribuindo para a maior imunidade do sexo feminino também na atual pandemia de coronavírus. No entanto, Klein observa que, sendo o novo surto recente, ainda não há pesquisas que demonstrem isso de forma definitiva.

Segundo a BBC Brasil, pesquisas anteriores, realizadas a partir da coleta e análise de mucosas nasais de homens e mulheres, revelaram que o estrogênio reduz a quantidade de vírus da gripe que se replica nas células infectadas, sugerindo um possível efeito protetor do hormônio sexual feminino.

Para a cientista Janine Austin Clayton, esses estudos, disse à BBC, reforçam “a importância de estudar as células de homens e mulheres e considerar o sexo como uma variável biológica ao coletar e analisar os dados das células”.

Diretora associada de pesquisa em Saúde da Mulher no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, Clayton afirmou ao New York Times que

“há algo sobre o sistema imunológico feminino que é mais exuberante”.

No entanto, existem desvantagens quando se trata de doenças autoimunes, como artrite reumatóide e lúpus, às quais as mulheres são mais suscetíveis.

Os fatores culturais

As duas cientistas também concordam que fatores sócio-culturais precisam ser levados em conta. Os primeiros dados sobre o novo Coronavírus, coletados e analisados na China, onde o surto se originou, já revelavam diferenças entre homens e mulheres. Embora o vírus atingisse igualmente pessoas de ambos os sexos, os estudos publicados no final de fevereiro pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças chinês indicaram que a taxa de mortalidade para os homens era de 2,8%, contra 1,7% entre as mulheres.

No caso da China, especificamente, um fator cultural pode estar influenciando de forma decisiva nessa equação: de acordo com estudo publicado pelo Centro Nacional de Informação Biotecnológica dos Estados Unidos (National Center for Biotechnology Information, ou NCBI), e divulgado pelo New York Times, o país asiático concentra um terço dos fumantes do mundo. Estamos falando de 316 milhões de pessoas, responsáveis por 40% do consumo de tabaco no planeta. No entanto, apenas 2% das mulheres chinesas são fumantes, enquanto metade dos homens soltam suas baforadas no país.

Como o Coronavírus ataca os pulmões, o tabagismo aumenta o risco de complicações quando há um quadro de infecção.

Conforme noticiamos aqui, o Instituto Superior de Saúde da Itália também chamou a atenção para o maior risco entre os fumantes. No país europeu, não há tanta discrepância entre homens e mulheres no que se refere ao consumo de tabaco, embora elas também existam por lá.

Doenças pré-existentes

As doenças pré-existentes também influenciam no grau de risco de uma pessoa infectada. De novo, a balança desequilibra: por exemplo, não só há uma maior incidência de diabetes tipo 2 entre os homens, como a pressão arterial deles costuma ser mais alta que a das mulheres. Além disso, as doenças cardiovasculares são mais comuns entre os homens, considerando-se as faixas etárias das pessoas mais afetadas e com risco de morte por Coronavírus.

Como destacou Clayton, é preciso levar em conta fatores que não se relacionam a questões biológicas, mas que podem ser explicados a partir das diferenças entre homens e mulheres no que se refere a comportamentos e papéis sociais. Um exemplo seria a disposição em procurar um médico quando um e outro apresentam algum problema de saúde.

“De acordo com um estudo dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, as mulheres americanas são 33% mais propensas que os homens a procurar um médico quando se sentem mal”, explicou a cientista à BBC.

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Gisele Maia

Jornalista e mestre em Ciência da Religião. Tem 18 anos de experiência em produção de conteúdo multimídia. Coordenou diversos projetos de Educação, Meio Ambiente e Divulgação Científica.


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