Será que você quer o que você deseja? As Nuances do Desejo em Freud e Lacan


O desejo humano é um dos temas mais complexos e fascinantes da Psicanálise. Tanto Sigmund Freud quanto Jacques Lacan abordaram esse conceito crucial, mas de maneiras distintas, lançando luz sobre as diferentes facetas do desejo e da psique humana.

O Desejo em Freud

Para Freud, o desejo estava profundamente arraigado em impulsos e pulsões de natureza tanto mental quanto somática. Ele concebia o desejo como uma busca pela satisfação das necessidades biológicas e psicológicas individuais. No entanto, Freud também introduziu o conceito do “recalque” ou repressão, onde desejos e impulsos são frequentemente reprimidos devido a conflitos internos e normas sociais. Isso implicava que o que alguém desejava poderia ser reprimido e oculto, emergindo muitas vezes de maneira disfarçada e inconsciente, como nos sonhos, nos atos falhos e nas sutilezas do humor (chistes).

O Desejo em Lacan

Lacan trouxe uma perspectiva diferente de Freud sobre o desejo. Ele argumentou que o desejo não era apenas uma busca por satisfação, mas era estruturado pela linguagem e pela falta. Lacan introduziu a ideia da “falta no Outro”, que é uma parte fundamental de sua teoria. Essa falta primordial surge quando o sujeito entra no mundo da linguagem e da cultura, e é um elemento central na construção da sua subjetividade (o seu modo único de ser).

Portanto, para Lacan, o desejo era um desejo pelo desejo do Outro, não apenas por objetos ou gratificação. Isso implicava que o que uma pessoa queria estava profundamente ligado ao desejo de ser reconhecida e validada pelo Outro, esse grande Outro que representava a autoridade e a cultura.

Além disso, para Lacan, a linguagem era sempre um trabalho metonímico do significante, o que significa que as palavras nem sempre significam o que aparentam significar. Parece complicado? Mas são as voltas que a linguagem usa para dizer o que nem mesmo sabe expressar. Ou seja, para Lacan, as palavras estão interligadas em uma teia de significantes, e o desejo muitas vezes é expresso de maneira indireta, através de jogos de linguagem, metáforas e símbolos.

Será que o que você quer você deseja?

Portanto, a colocação lacaniana “Será que você quer o que você deseja?” nos leva a refletir sobre as complexidades do desejo humano. Pode haver uma diferença entre o que uma pessoa quer conscientemente e o que seu desejo inconsciente busca. O desejo pode ser reprimido, oculto ou estruturado pela linguagem e pela falta, dependendo da perspectiva psicanalítica que adotamos.

A psicanálise nos ensina que o desejo é um território complexo e muitas vezes enigmático. Às vezes, o que pensamos que queremos pode não refletir completamente nosso verdadeiro desejo. Isso é um convite para explorarmos as profundezas de nossa psique, a entender nossos conflitos internos e a reconhecer a influência da cultura e da linguagem em nossa busca pelo que desejamos.

Assim, um bom objetivo da psicanálise é ajudar as pessoas a serem desejantes, ou seja, a sentirem desejo e a se conectarem com sua verdadeira vontade interior, em vez de serem apenas objetos de desejo do outro. Afinal, desejar é pulsão de vida, é a falta que nos impulsiona ao desejo, e compreender essa dinâmica pode ser fundamental para uma vida mais leve e autêntica.

Para finalizar, deixamos duas músicas para pensarmos sobre a questão do desejo, que talvez possam nos ajudar a responder à pergunta desse artigo.

E então? Você deseja o que você quer?

Fonte: O texto foi inspirado nas aulas de Patrícia Alcântara e Regiane Mazzola, ambas psicanalistas e professoras no Curso de Formação em Psicanálise do Instituto Falasser.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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