Ansiedade: quando vira transtorno, é hora de procurar ajuda


Atualmente parece que as pessoas estão cada vez mais ansiosas, vivem estressadas e poucos são os momentos de relaxamento e total tranquilidade.

As preocupações e o medo tomaram conta da vida e se tornaram sentimentos comuns e rotineiros, tudo muito dentro do “novo normal” da pandemia.

Mas como saber quando esses sentimentos estão ultrapassando o limite do aceitável?

Nesse artigo, tentamos responder essa pergunta através de alguns conceitos sobre os transtornos de ansiedade, utilizando informações disponibilizadas no site do SUS, além de opiniões de especialistas. Porém, fica o alerta desde já: somente um profissional capacitado poderá fazer uma avaliação e apresentar um diagnóstico e tratamento.

Mas voltando à pergunta…

Como saber quando a ansiedade pode se tornar um transtorno?

A psicóloga Michelle Nicolau, especialista em psicologia social e saúde e atendimento clínico, de São Paulo, explica que, num primeiro momento, pode-se apontar duas situações: uma quando afeta a vida e a saúde, ou interfere no comportamento ou no desempenho e desenvolvimento no trabalho, na escola, nas tarefas diárias e comuns a todos.

E outra tem relação com o tempo, a duração, a persistência do sintoma.

Importante verificar se não se trata de uma resposta ou um efeito de uma situação estressante ou traumática, um luto, uma perda.

Medo e ansiedade provisórios, com frequência induzidos por situações estressantes, são absolutamente normais e a até necessários. São sentimentos que carregamos para ajudar na sobrevivência, como forma de proteção e prevenção dos perigos.

Mas quando esses sentimentos são persistentes, com longa duração, mesmo quando as situações ditas estressantes já cessaram e passa a interferir na saúde, na vida e rotina das pessoas, é preciso investigar a causa e se necessário, tratar os sintomas.

A questão toda está na ênfase que se dá aos pensamentos ansiosos e quais os comportamentos que acompanham esse sintoma.

“Ansiedade tem caráter de futuro, o indivíduo quer garantir o que vai acontecer, controlar, e acaba vivenciando na fantasia, o que dificulta vivenciar o presente. A ansiedade assusta internamente”, explica a psicóloga Michelle.

De acordo com os pesquisadores e médicos psiquiátricas, Álvaro Cabral Araújo e Francisco Lotufo Neto, em artigo intitulado “A nova classificação Americana para os Transtornos Mentais – o DSM-5”, publicado pela Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, os profissionais de saúde de diferentes áreas devem utilizar o DSM para auxiliar no diagnóstico dos transtornos psiquiátricos.

DSM-5 – Transtorno de Ansiedade

DSM-5 é uma sigla inglesa para Diagnostic and Statistical Manual, Manual de Diagnóstico e Estatística, em tradução literal, e o número 5 é usado para indicar que já foram feitas cinco revisões. A sigla serve para tornar os diagnósticos mais práticos e compreensíveis a todos os médicos.

De acordo com o DSM-5, disponível no site do SUS,

“Transtorno de Ansiedade incluem transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados”.

Medo é a resposta emocional à ameaça iminente real ou percebida, necessária para luta ou fuga.

A ansiedade é a antecipação de ameaça futura, sendo mais frequentemente associada a tensão muscular e vigilância em preparação para perigo futuro e comportamentos de cautela ou esquiva.

Sintomas comuns do Transtorno de Ansiedade

Os sintomas mais comuns são:  

  1. Sentir-se nervoso ou tenso.
  2. Sentir-se anormalmente inquieto.
  3. Dificuldade de se concentrar devido às preocupações.
  4. Temor de que algo terrível aconteça.
  5. Sentimento de que o indivíduo possa perder o controle de si mesmo.
  6. Sintomas físicos como cefaleia, tonturas, dores, enjoos, vômitos.

De acordo com a intensidade e quantidade da ocorrência desses sintomas, pode-se especificar a gravidade do quadro, para

  • leve, com dois sintomas,
  • moderada, três sintomas e
  • moderada-grave, quatro ou cinco sintomas.
  • Já a condição grave, exige todos os sintomas, mais agitação motora.

Muitos dos transtornos de ansiedade se desenvolvem na infância e tendem a persistir se não forem tratados, a maioria ocorre com mais frequência em indivíduos do sexo feminino na proporção de aproximadamente 2:1.

Tipos de Transtornos de Ansiedade

O DSM trata o assunto no capítulo “Transtornos da Ansiedade” e o divide em fobias, pânico e ansiedade indeterminada, por uso de substância ou medicamento ou doença.

Geralmente, o transtorno de ansiedade está associado à comorbidades, ou seja, é comum ocorrer simultaneamente com outros transtornos, como de personalidade, depressivos, obsessivo-compulsivo e outros.

Os transtornos de ansiedade diferem entre si nos tipos de objetos ou situações que induzem medo, ansiedade ou comportamento de esquiva e reação, sendo assim classificados:

Transtorno de Ansiedade de Separação

Medo ou ansiedade excessivos de separação daqueles com quem o indivíduo tem apego. Pode ser caracterizado pela presença de pelo menos três das seguintes condições:

  • Sofrimento excessivo e recorrente para sair de casa ou se afastar de figuras importantes de apego.
  • Preocupação excessiva e persistente de perda de pessoas importantes, ou com doenças, ou morte, sequestro, acidente, monstros, ladrões.
  • Relutância persistente ou recusa a sair, afastar-se de casa, ir para a escola, trabalho ou a qualquer outro lugar, em virtude do medo da separação.
  • Temor persistente e excessivo ou relutância em ficar sozinho ou sem as figuras importantes de apego em casa ou em outros contextos, dormir fora de casa
  • Pesadelos repetidos envolvendo o tema da separação.
  • Queixas repetidas de sintomas (cefaleias, dores abdominais, náusea ou vômitos) quando se separa de pessoas importantes.
  • Quando se fala em excessivo e persistente, quer dizer tem duração mínima de pelo menos quatro semanas em crianças e adolescentes e geralmente seis meses ou mais em adultos.

O Transtorno de Ansiedade de Separação, além de questões hereditárias estão associadas a fatores ambientais, ocorrem geralmente após uma perda (p. ex., a morte de um parente ou animal de estimação; doença; mudança de escola; divórcio; ou seja, um desastre que envolveu períodos de separação das figuras de apego).

Em jovens adultos, outros exemplos de estresse vital incluem sair da casa dos pais, iniciar uma relação romântica e tornar-se pai.

A superproteção e a intromissão parentais podem estar associadas ao transtorno de ansiedade de separação.

Mutismo seletivo

Dificuldade de falar em público, por exemplo, gerando ansiedade excessiva e persistente nessas situações. Em crianças, não existe nenhum problema na fala, mas ela não consegue se comunicar com seus pares, ou pessoas que não são do seu círculo afetivo.

O mutismo seletivo pode resultar em prejuízo social, uma vez que as crianças podem ficar excessivamente ansiosas para se engajar em interações sociais com outras.

À medida que as crianças com mutismo seletivo crescem, podem enfrentar um isolamento social cada vez maior.

Fobia específica

Medo ou ansiedade extrema e persistente de alguma coisa específica, animais, altura, injeção, sangue.

Transtorno de Ansiedade Social ou Fobia Social

Medo ou ansiedade acentuados em situações sociais que o indivíduo é exposto, como manter uma conversa, palestras, apresentações. Em crianças, a ansiedade deve ocorrer em contextos que envolvem seus pares, e não apenas interações com adultos.

Não deve ser confundido com timidez, que é um traço de personalidade comum e não é patológica, não é incapacitante e não gera sofrimento excessivo ou afetação na vida comum.

Ataque de pânico

De acordo com o DMS-5, “um ataque de pânico é um surto abrupto de medo intenso ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem 4 (ou mais) dos seguintes sintomas:

  • Palpitações, coração acelerado, taquicardia.
  • Sudorese.
  • Tremores ou abalos.
  • Sensações de falta de ar ou sufocamento.
  • Sensações de asfixia.
  • Dor ou desconforto torácico.
  • Náusea ou desconforto abdominal.
  • Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio.
  • Calafrios ou ondas de calor.
  • Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento).
  • Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo).
  • Medo de perder o controle ou “enlouquecer”.
  • Medo de morrer.

O Transtorno do Pânico (mais conhecido por síndrome do pânico) se refere a ataques de pânico inesperados recorrentes, é um surto abrupto de medo.

“O termo recorrente significa literalmente mais de um ataque de pânico inesperado. O termo inesperado se refere a um ataque de pânico para o qual não existe um indício ou desencadeante óbvio no momento da ocorrência – ou seja, o ataque parece vir do nada, como quando o indivíduo está relaxando ou emergindo do sono (ataque de pânico noturno)”.

Pode acontecer de forma esperada, ou seja, em situações que o indivíduo sabe ser desencadeante do ataque.

A frequência e a gravidade também são variadas.

A idade média de início do Transtorno do Pânico, nos Estados Unidos, é de 20 a 24 anos. Um pequeno número de casos começa na infância, e o início após os 45 anos é incomum, mas pode ocorrer.

É um distúrbio frequentemente associado a outros transtornos de ansiedade, transtorno depressivo e Transtorno Bipolar.

Mas cuidado, não confunda.

Os ataques de pânico não têm uma explicação pré-definida, por vezes podem ser desencadeados pelo medo do ataque em si, ao contrário de outros transtornos, em que o pânico pode ocorrer em resposta a situações sociais temidas, por exemplo, fobia de aranhas.

O DMS alerta que o ataque de pânico não é um transtorno mental:

“Os ataques de pânico podem ocorrer no contexto de um transtorno de ansiedade, além de outros transtornos mentais (p. ex., transtornos depressivos, transtorno de estresse pós-traumático, transtornos por uso de substâncias) e algumas condições médicas (p. ex., cardíaca, respiratória, vestibular, gastrintestinal).

Atenção! 

Os fatores de risco que mais levaram os indivíduos a terem um ataque do pânico, afora a coexistência de outros transtornos mentais, foram:

  • Temperamentais: afetividade negativa e sensibilidade à ansiedade, ou seja, aqueles que acreditam que a ansiedade faz mal.
  • Ambientais: experiências negativas, doença ou morte de pessoas amadas, fumar e uso de drogas ilícitas ou de prescrição controlada.

Agorafobia

Esse transtorno é caracterizado por medo ou ansiedade de pelo menos duas ou mais das 5 situações seguintes:

  1. Uso de transporte público.
  2. Permanecer em espaços abertos.
  3. Permanecer em locais fechados.
  4. Permanecer em uma fila ou ficar em meio a uma multidão.
  5. Sair de casa sozinho.

Transtorno de Ansiedade Generalizada

Esse transtorno caracteriza-se pela ansiedade e preocupação excessivas, desproporcional ao perigo real apresentado, gerando expectativas não concretas, ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, interferindo em diversos eventos ou atividades, como estudo ou trabalho.

O indivíduo não consegue controlar a situação de inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele, não consegue se concentrar e tem situações de “branco” na mente, irritabilidade, tensão muscular, perturbação do sono.

Esses sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo

Os outros tipos são transtorno de ansiedade por indução de medicamento, Transtorno de Ansiedade Devido a Outra Condição Médica e transtorno de ansiedade não especificado, que não serão detalhados aqui, mas podem ser encontradas descrições no DSM-5.

Questão de cultura

Além da análise comportamental e clínica, outros aspectos da vida devem ser analisados como fatores genéticos e fisiológicos, culturais, ciclo de vida, temperamentais, ambientais e modificadores de curso.

De acordo com o manual, “transtornos mentais são definidos em relação a normas e valores culturais, sociais e familiares”.  Assim, os “limites” entre normalidade e patologia variam em diferentes culturas com relação a tipos específicos de comportamentos.

Conhecer esses valores e como eles estão inseridos na vida do paciente, devem ser considerados quando das interpretações de psicopatologia.

É hora de procurar ajuda

O que foi descrito nesse artigo é meramente informativo e não substitui, de forma alguma, a avaliação por um profissional capacitado.

A psicóloga Michelle faz um alerta, explicando que a dificuldade das pessoas em procurarem ajuda, é  porque muitas delas acreditam que podem resolver sozinhas seus problemas de ansiedade, e até mesmo acreditam que a psicoterapia seja um tratamento elitizado. Existem ainda, aqueles que são descrentes da psicologia.

Isso tudo força uma separação importante entre quem procura e, principalmente, quem fica numa análise, por exemplo.

Procurar ajuda é procurar viver melhor.

Talvez te interesse ler também:

Há mais Tipos de Depressão e Ansiedade do que se Pensa

8 conselhos que qualquer psicólogo daria para combater a ansiedade

Ansiedade pode estar relacionada à gordura, diz estudo




Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...