Coronavírus: 18 etnias indígenas infectadas, entre aldeias e cidades. Dados divergem do governo


As imagens da enorme quantidade de caixões em uma vala comum em Manaus foram notícia no mundo inteiro. Para a maioria das pessoas, a capital do Amazonas é automaticamente associada aos nossos povos indígenas, e o risco de um genocídio acaba sendo preocupação mundial. Existe realmente essa possibilidade? Será que os números que o governo disponibiliza são reais?

De acordo com um levantamento feito pelo De Olho nos Ruralistas, 18 povos indígenas já foram infectados com o novo coronavírus. Segundo reportagem de Maria Fernanda Ribeiro, pelo menos 10 etnias enfrentam pandemia em seus territórios e cidades, tanto com casos de infectados quanto de mortos. Os registros apontam casos concentrados na região amazônica, mas o vírus já começou a se espalhar por outros estados, como Pernambuco, Ceará, Espírito Santo e São Paulo.

Dados divergem do governo

Até a semana passada, pelo menos dez óbitos foram ligados à Covid-19, mas há outros casos suspeitos e os números são diferentes dos divulgados pela Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, porque este não considera em seus dados os indivíduos que vivem na cidade, o que gerou críticas severas das organizações indígenas e da sociedade civil.

De acordo com a última divulgação da Sesai, de 22 de abril, quatro mortes haviam sido confirmadas, sendo de um Kokama, de um Sateré-Mawé, de um Yanomami e de um Tikuna. Outras tantas teriam ficado de fora do boletim oficial.

Valéria Paye, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) afirma que os dados disponibilizados pela Sesai trazem mais perguntas do que respostas e a falta de indicações precisas, dificultam, inclusive, no auxílio a esses povos indígenas pelas entidades civis.

Outro grande problema é que o Sesai informa qual Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) houve caso de Covid-19, só que esses Distritos são muito extensos englobando uma região enorme, com várias aldeias existentes, tem Dsei que chega a ter mais de 100 aldeias.

Esses dados tão abrangentes, mostram claramente a dificuldade encontrada para localizar e ajudar esses povos.

Quantos indígenas somos?

Segundo o último Censo Demográfico, realizado em 2010, havia 896 mil pessoas que se declararam ou se consideraram indígenas no país, sendo que somente 57,7% residiam em terras indígenas oficialmente reconhecidas.

Fica claro, portanto, quantas pessoas autodeclaradas indígenas estão de fora dos dados da Sesai e pior, em áreas de alto risco de infecção pelo coronavírus.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostrou que um terço dos indígenas residem em municípios com alto risco para epidemia de Covid-19, porque residem próximos a grandes centros urbanos.

É uma população muito alta para ser renegada pelos dados oficiais e seria de grande valia se a Sesai modificasse a forma de identificação dos indígenas infectados, incluindo aqueles moradores também das cidades, bem como especificasse a localização deles, não somente por Dseis, para facilitar a chegada de ajuda a esses povos.

Enquanto isso, o Cacique Raoni – liderança indígena conhecida mundialmente – lançou a campanha   “Covid-19: protejamos os guardiães da Amazônia!” para ajudar os povos indígenas a se protegerem da negligência do governo brasileiro, o que poderia causar, segundo especialistas, um genocídio dos povos originários no Brasil.

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Redação greenMe

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