Uma enorme quantidade de caixões em uma vala comum. A crise do novo coronavírus em Manaus


Tem causado comoção a situação do estado do Amazonas em relação ao novo coronavírus.

Ontem, circulou pelas redes sociais um vídeo que mostra trincheiras usadas como valas comuns para abrigar a enorme quantidade de caixões das vítimas fatais de Covid-19. Câmaras frigoríficas foram instaladas nos cemitérios para preservar os corpos daqueles que ainda não foram enterrados.

O último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde registra 193 mortes provocadas pela doença em todo o Amazonas. O índice de letalidade no estado, de 8,5%, está dois pontos percentuais acima da média nacional, informa o Estado de Minas.

Atualmente, o Amazonas tem a pior taxa de mortalidade por coronavírus do Brasil. A capital, Manaus, concentra 80% dos casos confirmados do estado, o pior índice entre as capitais

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), diante da crise pediu auxílio ao governo federal, em uma reunião no dia 20 com o vice-presidente, Hamilton Mourão. Em entrevista a Folha de S. Paulo, ele criticou o presidente Jair Bolsonaro por ter “lavado as mãos” diante do aumento do número de mortes no Amazonas ao dizer “não sou coveiro”. Arthur Virgílio ainda criticou Bolsonaro pela sua insistência em estimular o fim do isolamento social.

“Não sei se ele serviria para coveiro. Talvez não servisse. Tomara que ele assuma as funções de verdadeiro presidente da República. Uma delas é respeitar os coveiros”, disse Virgílio, que chegou a chorou falando do assunto.

Várias razões levaram ao caos

Para entender por que o Amazonas chegou a esse estado crítico de contágio, a BBC News Brasil entrevistou profissionais de saúde do estado. Uma das razões apontadas é o clima, visto que, nesta época do ano, chove-se demasiado na região Norte, o que acarreta o aumento de crises respiratórias. A chegada do novo coronavírus justamente coincidiu com a temporada de chuvas na região.

De acordo com a imunologista Bárbara Baptista, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Amazonas:

“Na época de chuvas, as pessoas ficam mais em ambientes fechados, com pouca ventilação, respirando o mesmo ar, o que gera um aumento de infecções virais”.

Um agravante dessa situação é que este ano tem chovido acima da média, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Em janeiro, apenas em Manaus, choveu 441,9 mm em janeiro – a média do mês fica entre 270 a 300 mm.

Outro ponto levantado por Baptista é que os amazonenses não seguiram as recomendações de isolamento social. Era comum, ainda em março, ver pessoas transitando normalmente pelas ruas e estabelecimentos como farmácias e supermercados. Além disso, os comércios permaneceram abertos por algum tempo após os primeiros registros de casos da doença em Manaus.

O professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Bernardino Albuquerque alerta que a situação pode agravar-se ainda mais:

“Estamos entrando em um momento muito difícil, em que a doença está saindo da classe média para as classes menos favorecidas, nas quais as medidas de isolamento são muito mais difíceis de serem aplicadas, porque há mais pessoas vivendo em casas menores”.

É preciso lembrar que a região Norte do país concentra a maior parte dos povos indígenas do Brasil, entre eles, os povos isolados, que têm um sistema imunológico muito frágil.

Negacionistas não enxergam a realidade

Apesar de todas as informações disponíveis nos mais diversos meios e canais de comunicação sobre o problema que aflige o Amazonas, uma reação negacionista surgiu nas redes sociais, conforme informa Leonardo Sakamoto em sem blog no UOL.

Entretanto, a realidade é que pessoas estão morrendo e os vivos estão sofrendo, porque não podem enterrar os seus mortos e viver as etapas de um luto.

A situação no Amazonas é tão crítica que Arthur Virgílio disse ao Folha do Acre que irá escrever uma carta aos líderes do G20 pedindo ajuda, já que o governo federal parece estar desdenhando da crise sanitária no estado, que já tem 91% dos seus leitos ocupados.

O prefeito de Manaus disse que o “ponto de barbárie” a que o Amazonas chegou foi devido ao não cumprimento da horizontalidade da quarentena, a única forma conhecida e praticada no mundo inteiro para combater o novo coronavírus.

O pior cego é o aquele que não quer ver. #fiqueemcasa #mantenhaoisolamento

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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