Coronavírus: constelação de novas variantes exige ação global


O SARS-CoV-2 é um vírus, que como qualquer outro, sofre mutação. O problema aqui é que além de novo, ele vem sofrendo mutações muito rápidas, deixando os pesquisadores para trás.

Segundo cientistas, hoje existe uma “constelação de novas variantes do coronavírus” pelo mundo.

Na corrida para conter a pandemia, que já virou uma sindemia, falta tempo hábil para conhecer os efeitos e imunizantes necessários para conter o vírus “raiz”, que ainda é novo e apresenta mais dúvidas que certezas.

Além disso, agravando esse quadro, surgem novas cepas, por vezes, mais agressivas e letais e igualmente, desconhecidas.

No caso do novo coronavírus, que já infectou mais de 100 milhões de pessoas no mundo em apenas um ano, era esperado que ocorressem mutações, porque o vírus está no auge, em plena atividade, e o que é pior, não parece que ele esteja ficando mais “bonzinho”, ao contrário, as novas cepas vêm se mostrando mais letais e com maior capacidade de transmissão.

O governo do Reino Unido afirmou que dados iniciais indicam que a nova cepa do vírus é 30% mais letal e aumentou o ritmo de contágio em até 70%.

Na semana passada, cientistas genômicos da África do Sul anunciaram uma nova variante do coronavírus por trás do aumento de casos no país e afirmaram que ela é cerca de 50% mais contagiosa do que as versões anteriores, porém, até agora, não mostrou maior probabilidade de hospitalização ou morte.

No Brasil, o instituto Adolfo Lutz confirmou 21 variantes do coronavírus circulando só no estado de São Paulo, sendo que a nova variante do coronavírus que surgiu em Manaus, vem ganhando destaque.

Identificada primeiro por autoridades de saúde no Japão, que identificaram em 4 turistas amazonenses no país, segundo dados oficiais, essa nova cepa já é o vírus predominante que circula na capital do estado do Amazonas, além de já ter sido identificada em outros estados, como São Paulo.

A nova variante de Manaus evoluiu de um vírus já mutante, o que seria uma nova linhagem do SARS-CoV-2, a B.1.1.28. Inclusive em dezembro do ano passado, pesquisadores da Fiocruz do Rio de Janeiro já tinham confirmado um caso de reinfecção por meio dessa nova linhagem.

A variante de Manaus evoluiu regionalmente a partir dessa mutação, e agora, ganhou uma cepa, uma linhagem própria, que leva o nome de P.1.

De diferente, ela possui 10 mutações no gene que codifica a proteína S (gancho usado pelo coronavírus para se conectar às células humanas), três delas na chamada região de ligação com o receptor.

Do Rio Grande do Sul, uma nova linhagem

Pesquisadores do Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, identificaram casos de reinfecção e coinfecção em pacientes com Covid-19 no estado gaúcho.

O estudo, divulgado na semana passada, caracterizou cinco linhagens diferentes em circulação, sendo que uma delas, considerada nova, é denominada VUI-NP13L.

E é aí que reside todo o receio das mutações rápidas e constantes do SARS-CoV-2. Em casos de reinfecção e de coinfeção, ou seja, num mesmo paciente, foram encontradas duas linhagens diferentes de coronavírus.

Dúvidas circulam como as novas variantes

Será que os anticorpos daqueles que foram infectados naturalmente ou das pessoas imunizadas é capaz de conter essas novas variantes?

Será que nosso sistema imune vai conseguir reconhecer os vírus mutantes?

Segundo Fernando Spilki, coordenador da pesquisa na Feevale, foram encontradas no estado do Rio Grande do Sul variantes do vírus identificadas no Rio de Janeiro.

Segundo o pesquisador disse ao Correio do Povo,

“essa disseminação generalizada de uma mutação recentemente identificada no Rio de Janeiro também foi encontrada em solo gaúcho. Isso é preocupante, pois sabe-se que essa mutação pode estar associada a um escape de anticorpos formados contra outras linhagens do vírus. É mais uma evidência que essas novas linhagens podem causar problemas mesmo em pessoas que já tenham uma imunidade prévia contra o SARS-CoV-2”.

Fernando ainda faz um alerta em relação à coinfecção. O pesquisador explicou que a mistura de genomas de diferentes vírus é um dos fenômenos que está na base das mutações, que levam à evolução de coronavírus.

E quais as consequências dessas mutações em termos globais?

Pesquisas futuras serão necessárias para entendermos qual será o real impacto dessa e de outras variantes genéticas que estão se disseminando no planeta.

Mas algumas questões, de plano, já podem ser levantadas.

Talvez tenhamos que nos conformar que o caminho possa ainda ser longo e árduo. Há quem acredite porém que este caminho poderia ser menos penoso se as medidas protetivas e preventivas continuassem a ser adotadas.

Para os que acreditam nessa tese, este não é o momento de se ter pressa de voltar “ao normal” pois, as únicas formas de conter a pandemia seriam a imunização global, juntamente com o uso de máscaras e com o distanciamento social.

Isso porque, o caminho ideal para evitar a evolução desses mutantes é vacinar o maior número possível de pessoas para tentar conter a alta atividade do vírus “raiz”.

Mas sabemos que não é possível imunizar a população do mundo tão rapidamente, para então, sugerir que a circulação do vírus e suas mutações estejam controladas.

Então o que fazer?

Se não há comprovação de que a vacina ou a resposta natural do sistema imune das pessoas conseguirá combater as mutações, pode ser que sejam necessárias novas vacinas periódicas, como ocorre com a vacina da gripe, que anualmente tem de ser refeita para atender à mutação do vírus.

Além disso, enquanto países ricos correm para garantir seus lotes de vacinas, países pobres não conseguem sequer testar os infectados, e aí que mora o perigo.

A probabilidade de que muitas pessoas, principalmente de países mais pobres, não tenham acesso às vacinas por algum tempo, sugere que mais novas variantes estarão incubando ao redor do mundo, ainda que outros países consigam imunizar grande parte da sua população, talvez não seja possível conter a propagação do vírus.

Isso pode significar que regras de restrição continuarão a ser necessárias por um longo período.

Medidas restritivas e protetivas serviriam como contrapeso à balança com a vacina, na tentativa de conter a propagação do vírus, enquanto os cientistas desenvolvem vacinas para conter as novas variantes, impedindo um ciclo sem fim da propagação do vírus.

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Juliane Isler

Juliane Isler, advogada, especialista em Gestão Ambiental, palestrante e atuante na Defesa dos Direitos da Mulher.


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