Esturjão: um fóssil vivente, história, caviar e curiosidades


O esturjão é um peixe fascinante, cuja origem remonta centenas de milhões de anos. Por isso, ele é praticamente um fóssil vivo ou ser jurássico dos tempos atuais.

Infelizmente, a fama deste peixe não se deu pela sua ancestralidade, mas sim pelo caviar obtido de suas ovas, um prato caríssimo e considerado requintado pelas altas rodas da sociedade. Por isso, estes peixes passaram a ser cobiçados e alvos da pesca predatória.

A consequência desta prática inescrupulosa e mercenária é que atualmente a maioria das espécies de esturjão estão em risco de extinção.

Saiba mais sobre os esturjões, pois um maior conhecimento sobre eles pode ser uma forma de apoiar a preservação dessa espécie.

Classificação científica

O nome esturjão refere-se às espécies de peixes da família Acipenseridae, incluindo os gêneros Acipenser, Huso, Scaphirhynchus e Pseudoscaphirhynchus.

Origem

Os esturjões compõem uma das mais antigas famílias de peixes ósseos e são nativos de rios e lagos da Europa Central.

Os verdadeiros esturjões aparecem no registro fóssil durante o Cretáceo Superior.

Deste período para cá, os esturjões passaram por poucas mudanças morfológicas e evolução excepcionalmente lenta, o que lhes conferiu o status de fósseis vivos.

Os motivos pelos quais esses animais evoluíram de forma lenta podem ser vários. Por exemplo:

  • longo intervalo de geração
  • tolerância à amplas faixas de temperatura e salinidade
  • falta de predadores
  • pelo tamanho de suas armaduras de placas ósseas que funcionam como escudos
  • a abundância de presas no ambiente bentônico (profundezas das águas)

Como passaram por poucas transformações, eles ainda compartilham várias características primitivas, como:

  • cauda heterocerca (barbatana caudal de certos peixes, em que o lado dorsal é mais desenvolvido que o ventral) 
  • escamação reduzida
  • mais raios de barbatana do que elementos ósseos de suporte
  • e suspensão da mandíbula

Características

Existem cerca de 30 espécies de esturjão que, como características em comum têm:

  •  O grande porte, sendo que algumas espécies podem atingir tamanhos gigantescos!
  • É comum estes peixes medirem em torno de 2 a 3,5 metros. Algumas espécies chegam a alcançar  5,5 metros.
  • Eles têm esqueletos principalmente cartilaginosos como os tubarões, e seus corpos são protegidos por fortes escudos ósseos, o que os ajuda a manter os predadores afastados. Infelizmente só não conseguem manter afastado o predador mais perigoso de todos: o homem.
  • Em geral, os esturjões possuem corpos alongados, com ausência de escamas e cobertos por placas ósseas ou escudos, além de terem extremidades caudais alongadas.
  • Não possuem dentes, têm focinho protuberante e achatado e quatro “bigodes”, que funcionam como órgãos táteis que servem para detectar moluscos, crustáceos e peixes pequenos, dos quais se alimentam.

Alimentação

Os esturjões se alimentam de criaturas que vivem nos fundo dos seus habitats aquáticos, como:

  • mariscos
  • crustáceos
  • pequenos peixes

Por não terem dentes, eles se alimentam através da sucção.

Acredita-se que para detectar suas presas eles usam eletrorreceptores e que, além de serem úteis para obtenção do alimento, servem para o acasalamento e migração.

Os eletrorrecptores ficam localizados na cabeça e são sensíveis a campos elétricos gerados por outros animais.

Salto fora da água

Muitos esturjões saltam para fora da água e esse movimento pode ser ouvido à longa distância.

Os motivos que levam os esturjões a esse comportamento podem ser vários:

  • uma forma de comunicação
  • captura de presas no ar
  • exibição do acasalamento
  • para ajudar a lançar ovos durante a desova
  • escapar de predadores
  • eliminar parasitas

Habitats

Nativos das águas temperadas do Hemisfério Norte, os esturjões vivem em habitats que compreendem áreas das águas de áreas subtropicais e subárticas da América do Norte e da Eurásia.

Na América do Norte, eles são encontrados ao longo da costa do Oceano Atlântico.

Na Eurásia (territórios entre Europa e Ásia) são encontrados em maior abundância nos rios do sul da Rússia e Ucrânia.

Eles também vivem ao longo da Costa Atlântica Europeia, e ainda na região do Mediterrâneo.

No Oceano Pacífico, eles vivem no Rio Amur, ao longo da fronteira entre a Rússia e a China, na Ilha Sacalina e no rio Yangtzé e outros rios do nordeste da China.

Ciclo de vida

Os esturjões são peixes de ciclo de vida longo e maturação sexual tardia.

Podem viver em média de 50 a 60 anos e a primeira desova ocorre depois dos 15 ou 20 anos de idade.

Reprodução

Os esturjões são  peixes anádromos, que se reproduzem em água doce e se desenvolvem até a forma adulta no mar.

Algumas espécies de esturjão vivem em estuários de água salobra à salgada durante a maior parte do ano, mas no período de desova, para a reprodução, seguem para lagos de água doce.

As condições ambientais podem interferir na reprodução dos esturjões.

Os fatores ideais para a reprodução deles são:

  • período da primavera
  • águas claras com substrato raso de rocha ou cascalho, onde os ovos podem aderir
  • temperatura e fluxo da água adequados para oxigenação dos ovos

A reprodução ocorre através das seguintes etapas:

  1. Uma única fêmea pode liberar de 100.000 a 3 milhões de óvulos, mas nem todos serão fertilizados.
  2. Os ovos fertilizados tornam-se pegajosos e aderem pelo contato com o substrato inferior.
  3. São necessários 8 a 15 dias para que os embriões se transformem em larvas de peixes.
  4. Durante esse tempo, eles são dependentes de seus sacos vitelinos (membrana que envolve o óvulo) para nutrição.
  5. As correntes do rio carregam as larvas rio abaixo para áreas de remanso (pequena enseada) e onde os alevinos (recém eclodidos dos ovos) passam seu primeiro ano de vida,  alimentando-se de larvas de insetos e crustáceos.
  6. Durante seu primeiro ano de crescimento, eles atingem entre 18 a 20 cm de comprimento, e migram de volta para as correntes de fluxo rápido no rio principal.

Curiosidades

Os esturjões estão entre os maiores peixes de água doce.

 As maiores espécies de esturjão são:

  1. primeiro lugar -> o beluga (Huso huso) vive no mar Cáspio, no mar Negro e no mar Adriático e pode crescer mais de 7 metros e meio, e pesar mais de 1.400 kg.
  2. segundo lugar –> o kaluga (Huso dauricus), da Rússia e China (pode medir até 6 m e pesar mais de 1,300 kg)
  3. terceiro lugar ->  o esturjão Branco (Acipenser transmontanus) que vive na costa oeste dos Estados Unidos (pode atingir até 6 metros de comprimento e pesar  1.100 kg).

Imagens dos esturjões

Este vídeo do canal Animal Fact Files mostra imagens de esturjões e descreve alguns fatos sobre estes seres marinhos.

Observação: para ver as legendas traduzidas, clique no botão de configuração na barra inferior e ative a tradução automática:

Caviar = Crueldade + Extinção

Mais de 85% das espécies de esturjão são classificadas como criticamente ameaçadas pela IUCN.

Uma das principais  causas que contribuem para essa deplorável situação é a produção do caviar que além de tudo envolve crueldade, já que provém da matança de fêmeas de esturjão cujas ovas não foram ainda fertilizadas.

As ovas não-fertilizadas e frescas de esturjão passam pelas seguintes etapas de produção para virar o caviar:

  1. A fêmea de esturjão é capturada viva, levada até uma mesa de metal onde ainda atordoada é lavada e o seu ventre é então aberto com ela viva, pois morta liberaria toxinas nas ovas.
  2. Retiram-se as ovas que em seguida são peneiradas, lavadas, escorridas e triadas, conforme a consistência, tamanho e cor.
  3. Depois são salgadas em um tempo máximo de 15 minutos após extração.
  4. Em seguida são levemente secas e acondicionadas em latas hermeticamente fechadas.
  5. Depois de extraídas as ovas, a fêmea é morta e encaminhada para processamento, para a produção e comercialização de sua carne. No caso dos esturjões de aquacultura, tem-se adotado a remoção cirúrgica das ovas, sem a morte das fêmeas para que elas continuem a produzir mais  ovas durante o seu tempo de vida.

Outras ameaças

Além de serem alvo da pesca comercial, eles também sofrem ameaças à sua preservação provenientes de causas como:

Além de todas essas causas, os esturjões são de crescimento lento, por isso, demoram para se reproduzir, favorecendo a redução de suas espécies.

Se não fossem todas estas ameaças, as espécies de esturjão poderiam viver bem mais e se procriarem para que futuras gerações possam conhecer esse fantástico descendente jurássico!

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Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


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