1000 cientistas franceses chamam para uma rebelião ante a crise climática


Ao mesmo tempo em que mais publicações científicas têm alertado para o estado de emergência climática no planeta Terra, menos os governos tomam ações concretas no sentido de evitar uma iminente catástrofe.

Face a esse impasse, cerca de 1000 cientistas da França, de todas as áreas, fizeram um chamado, na seção “Tribuna”, do jornal francês Le Monde, aos cidadãos para a desobediência civil e o desenvolvimento de alternativas.

Limite intolerável

Os cientistas signatários do chamado explicam que, independentemente de suas áreas de pesquisa, está claro que os sucessivos governos têm se mostrado incapazes de colocar em prática um plano de ação forte e rápido para enfrentar as crises climática e ambiental. Por isso, essa inércia chegou a um limite intolerável.

As análises científicas são incontestáveis e as catástrofes se mostram aos nossos olhos. Nós estamos correndo o risco de uma extinção em massa, diversas espécies estão desaparecendo a cada dia e os níveis de poluição são alarmantes (plástico, pesticidas, metais pesados, etc.).

Isso sem falar do clima, que já ultrapassou 1 °C da temperatura adicional em relação à era pré-industrial e a concentração de CO2  na atmosfera nunca foi tão elevada em milhões de anos.

De acordo com o relatório de emissões 2019 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUE), os compromissos assumidos pelos países no âmbito do Acordo de Paris de 2015 nos colocam em uma trajetória de pelo menos + 3 ° C até 2100, considerando que sejam respeitados.

Consequências irreversíveis

O objetivo de limitar o aquecimento global abaixo de + 1,5 ° C agora está fora de alcance, a menos que as emissões globais sejam reduzidas em 7,6% ao ano, enquanto aumentaram 1,5% ao ano nos últimos dez anos.

Cada grau adicional aumenta o risco de ir além dos pontos de inflexão, causando uma cascata de consequências irreversíveis (descongelamento de blocos de gelo, lentidão das correntes oceânicas, etc.). Estudos preparatórios para o próximo relatório do IPCC (CNRS-CEA-Météo France) sugerem que os relatórios anteriores subestimaram a extensão das mudanças já em andamento. O aquecimento global de mais de 5 ° C não pode mais ser descartado se a atual fuga das emissões de gases de efeito estufa continuar.

As sociedades humanas não podem seguir ignorando o impacto de suas atividades no planeta sem sofrer as consequências, como muitos estudos vêm mostrando e refletindo o consenso científico. Se continuarmos nesse caminho, o futuro de nossa espécie é sombrio.

Os governos têm sido cúmplices em negligência, visto que não reconhecem esse beco sem saída, em defesa de interesses econômicos. Na França, país de onde falam os cientistas, as políticas atuais de proteção ao clima e à biodiversidade  – como em todo o resto do mundo – estão aquém dos desafios contemporâneos que todos nós enfrentamos.

Os políticos estão impondo à população mundial um liberalismo econômico que causa desigualdades sociais e problemas ambientais enormes. Consumismo deliberado, promoção de tecnologias supérfluas e que consomem energia estão completamente desalinhados com a transição ecológica e social que deveríamos estar promovendo.

Os cientistas demandam às autoridades que digam a verdade sobre a gravidade e a urgência da situação atual, causada pelo esgotamento do nosso modelo econômico. Além disso, eles apelam aos políticos que tomem imediatamente medidas que reduzam de forma significativa a emissão de carbono na França e que o Parlamento francês trate as questões ambientais como pautas urgentes.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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