Não chamem de hambúrguer, mas sim de disco vegetariano


O parlamento europeu pretende impedir que alimentos comumente feitos à base de carne, recebam o mesmo nome quando feito de vegetais.

Segundo reportagem do jornal TheGuardian, o comitê de agricultura do parlamento europeu aprovou, na semana passada, a proibição de produtores de comida vegetariana usarem nomenclatura normalmente usada para descrever a carne.

O parlamento europeu votava projetos sobre revisões nos regulamentos de rótulos de alimentos quando o assunto foi levantado e, por aprovação de 80% dos presentes, designações como bife, salsicha, hambúrguer ficaram protegidas e não poderão ser utilizadas para descrever alimentos feitos à base de legumes e vegetais.

No entanto, para ter validade, precisam ser votadas pelo plenário do parlamento após as eleições europeias de maio, antes de serem apresentadas aos Estados membros e à Comissão Europeia, de forma impositiva.

Porém, tendo em vista a maciça aprovação, com larga maioria de 80%, é bem possível que esse projeto seja mantido pelo plenário.

A exemplo do que ocorreu em 2017, quando uma empresa alemã acionou o Tribunal de Justiça Europeu que decidiu que produtos à base de plantas, como soja e tofu, não deveriam ser vendidos como leite ou manteiga, ficando restritos à nomenclatura para comercialização de produtos apenas de origem animal.

Ano passado, na França, os parlamentares aprovaram uma emenda a um projeto de lei que proíbe qualquer produto que seja amplamente baseado em ingredientes de origem animal ser rotulado como de origem vegetal. O projeto ainda não foi aprovado.

Nome aos bois

Mas por que essa perseguição à comida vegetariana?

O nome é um só: indústria da carne e o receio da concorrência!

Na indústria do marketing alimentício parece que tudo é válido, até oferecer brinquedo na compra de um sanduíche nada saudável.

Todos os públicos são utilizados. Idosos representados em iogurte para ossos fortes. Cardiopatas, manteiga com pouco colesterol. Crianças, personagens de desenhos nas embalagens das bolachas.  Cabelos sedosos e brilhantes nas embalagens do shampoo.

Mas quando se fala do mercado vegetariano, ao reverso, parece que tudo é proibido.

Eu me lembro que quando era criança era comum umas plantas de rua, que dizíamos venenosas, quando quebrado o caule, soltava um “leitinho”. De fato, era branco e viscoso, lembrava leite, mas não era leite, mas nem por isso não podíamos chamar de leite.

O leite de leguminosas, o leite de coco, parece leite, tem aparência de leite, porque não pode ser chamado de leite?

Mas voltemos às carnes.

Obviamente, se o produto é feito com aparência de salsicha, bife ou hambúrguer, porém seu ingrediente não é a base de origem animal, não parece justo que seja proibido de atribuir o mesmo nome.

Na questão do marketing, é muito mais interessante vender hambúrguer de soja ou feijão preto do que discos de vegetais.

Parece que tem mais a ver com garantia de mercado e monopólio, do que qualquer outra justificativa que se possa apresentar para tamanha ingerência da liberdade nominativa da comida, e o processo evolutivo que ocorre sobre ela.

O TheGuardian entrevistou o socialista francês MEP Éric Andrieu, responsável por supervisionar esse tipo de legislação, que demonstrou concordar com a regra proibitiva, alegando “respeito à história gastronômica da comida” e garantiu que o “lobby da carne não está envolvido nisso”.

ONGs como o Greenpeace, sustentam que isso é um golpe contra os alimentos sustentáveis e o nome “Veggie disc” – disco vegetariano, em tradução literal- é absolutamente desagradável para denominar hambúrgueres à base de plantas.

Molly Scott Cato, uma eurodeputada verde que faz parte do comitê de agricultura, foi ouvida e disse que apesar de tudo, viu com bons olhos a discussão sobre o tema, porque mostra que de fato, a indústria da carne está preocupada com a redução do mercado e está percebendo que as pessoas, principalmente as mais jovens, estão deixando de comer carne por responsabilidade ambiental e isso é um bom sinal.

E um avanço!

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Juliane Isler

Juliane Isler, advogada, especialista em Gestão Ambiental, palestrante e atuante na Defesa dos Direitos da Mulher.


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