O novo epicentro global do coronavírus é o Brasil


A imprensa de todo o mundo vem anunciando desde a semana passada: o Brasil é a bola da vez do novo coronavírus.

O jornal francês La Presse fez uma matéria sobre o assunto cujo título é: “Covid-19: Brasil diante de uma hecatombe anunciada”.

Se o desastre já havia sido anunciado, por que o país não fez nada para evitá-lo? De acordo com Domingos Alves, do Laboratório de Inteligência em Saúde da Universidade de São Paulo (USP), a questão já não é mais saber se o Brasil será o principal ponto de contaminação de Covid-19 do mundo: ele já é. O professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto assegurou ao The Wall Street Journal:

O Brasil já é o epicentro global do coronavírus“.

A estimativa de um grupo de pesquisadores da Covid-19, do qual Alves é parte, é de que o Brasil contabiliza mais de 1,3 milhão de casos de coronavírus. Isso representa 16 vezes mais o número de casos confirmados pelo Ministério da Saúde.

As razões para a preocupação

O país tem, ainda, a maior taxa de contaminação do mundo: 2,8, de acordo com um estudo recente publicado pelo Imperial College de Londres. O Brasil já é, também, o segundo país do mundo (atrás apenas dos Estados Unidos) que registra mais casos diariamente.

A situação é preocupante no Brasil por diversas razões:

  • o país tem dimensões continentais, o que dificulta uma política abrangente para todos;
  • grande parte da população é altamente vulnerável, como os habitantes de favelas e comunidades indígenas;
  • muitas pessoas não aderiram ao confinamento;
  • o número de testes é ínfimo;
  • o presidente da República não leva a sério a emergência do coronavírus, o que acaba por confundir a população.

O ministro da Saúde, Nelson Teich, chegou a admitir que o Brasil pode ultrapassar, brevemente, a marca das mil mortes diárias, ao mesmo tempo em que o presidente Jair Bolsonaro disse que o isolamento social é “inútil”.

Entretanto, não é isso que os números dizem. Em Blumenau, por exemplo, o número de casos dobrou em apenas uma semana após a reabertura do comércio. A cidade catarinense parecia estar vivendo uma realidade paralela com hotéis, pousadas, restaurantes, cafés, bares, lanchonetes, lojas de rua, shoppings centers e academias funcionando normalmente. O resultado é que o total de casos confirmados na cidade saltou para 174% em duas semanas, de acordo com a BBC News Brasil.

Fim do isolamento social

Especialistas ouvidos pela BBC disseram que a evolução da epidemia em Blumenau está diretamente relacionada ao fim do isolamento social, porque os sintomas da Covid-19 aparecem, em geral, 14 dias após a infecção.

A agência internacional Reuters também deu destaque ao aumento de casos da infecção no Brasil. Após analisar dados de saúde pública das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, ficou evidente uma migração da epidemia dos bairros ricos para os arredores urbanos.

Moradores de Brasilândia, um bairro pobre na região norte de São Paulo com o maior número de mortes por coronavírus na cidade, revelaram à Reuters que os bares estão lotados e festas ao ar livre atraem várias pessoas aos finais de semana.

É difícil desenhar um cenário real para o Brasil, que realizou apenas 1.600 milhão de testes. A título de comparação, de acordo com o Yahoo News, os EUA, país onde muitos especialistas acreditam não estar testando o suficiente, realizaram 20.200 milhões de testes.

Por isso, Domingos Alves defende medidas muito mais rigorosas:

“É impossível prever quando o Brasil atingirá o pico de contaminação, mas uma coisa é certa: quanto menos pessoas estiverem confinadas, mais a curva se ampliará e mais mortos haverá devido à sobrecarga do sistema de saúde”.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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