Ruas e parques lotados: por que as pessoas não estão respeitando o isolamento social no Brasil?


Esta semana, muitas pessoas perceberam que as ruas de suas cidades estavam mais cheias de gente. Seja da janela de casa, seja no caminho de ida ao supermercado, essa observação causou estranheza e receio em muitas pessoas.

Por que os brasileiros saíram às ruas e parecem estar deixando de seguir o isolamento social?

As causas parecem ser multifatoriais. Nesta semana, caiu o “quinto dia útil”, ou seja, dia de receber o pagamento de salários, pensões e aposentadorias. Muitos trabalhadores e aposentados, por não terem acesso ao serviço bancário on line, encheram bancos e lotéricas para receber o pagamento.

O jornal Tribuna On line mostrou as ruas cheias de gente nas principais cidades do Espírito Santo por essa razão. Uma entrevistada pelo jornal disse que não pôde sacar o dinheiro da aposentadoria da mãe porque o caixa eletrônico funciona pelo sistema de identificação biométrico, logo a aposentada teve que sair de casa para sacar o benefício. Em algumas cidades, chegou a acabar o dinheiro dos caixas, gerando filas de até quatro horas.

Em São Paulo, a cidade brasileira com mais registros de Covid-19, a situação tampouco é diferente. Muitas pessoas estão desrespeitando as recomendações de isolamento do Ministério da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do decreto estadual de São Paulo. Neste domingo (5), uma fotógrafa registrou a Praça do Pôr do Sol, no Alto de Pinheiros, cheia de pessoas.

A fotógrafa Bruna Arcângelo, que mora perto da praça, disse ao G1 que tem visto muita movimentação de pessoas, especialmente de famílias e pessoas fazendo caminhadas e atividades físicas. Ela registrou, através de um drone, a praça cheia de gente e de vendedores ambulantes.

No Rio de Janeiro, também as pessoas estão se avolumando nas ruas. De acordo com O Globo, um levantamento feito pela empresa CyberLabs mostrou que 85% dos cariocas aderiram ao isolamento social. Entretanto, na última semana, sobretudo em bairros como Ipanema e Leblon, houve um aumento de 10% na circulação de pessoas.

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Riscos subestimados

O clima de aparente normalidade para muitos brasileiros é difícil de explicar e de entender. Talvez o fato de nenhum conhecido ter, ainda, sido infectado pelo novo coronavírus esteja deixando as pessoas céticas em relação à gravidade da pandemia que já matou milhares de pessoas em todo o mundo.

Estamos vivendo uma época, também, de muita desconfiança dos brasileiras em relação às narrativas dos meios de comunicação. Uma pesquisa realizada pela Câmara dos Deputados, em 2019, mostrou que 79% dos brasileiros se informam pelo WhastApp.

Soma-se a isso o descrédito do presidente Jair Bolsonaro à imprensa, aos jornalistas e à ciência. A estratégia adotada pelo presidente em relação ao enfrentamento do coronavírus, expressa em seus pronunciamentos oficiais, parece ser a de confundir as pessoas ao usar diferentes discursos em cada um deles. Como indaga Leonardo Sakamoto em sua coluna no UOL, em qual das “verdades” de Bolsonaro devemos acreditar?

As declarações oficiais e as não oficiais são contraditórias e, portanto, trazem pouco conforto e segurança à população. Uma pesquisa recente do Datafolha divulgou que 51% dos brasileiros acham que o presidente mais atrapalha do que ajuda e 17% dos eleitores de Bolsonaro se arrependeram de ter votado nele.

Projeções atuais

De fato, a população tem que se preocupar e fazer o que está ao seu alcance: isolar-se em casa, evitar aglomerações e manter os cuidados básicos de higiene. É claro que muitas pessoas simplesmente não podem se isolar nem se higienizar devidamente. Infelizmente esta é uma dura realidade para muitos de nós. Mas a responsabilidade social faltou, como vimos, também em áreas nobres do país como no Alto de Pinheiros (SP) e no Leblon (RJ).

Em muitos estados, como Minas Gerais, o secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, disse que as projeções atuais é de que “o pico de acometimento da população, que antes estava previsto para o fim de abril, agora tem como previsão o dia 4 ou 5 de maio”, informa a Tribuna de Minas.

Minas Gerais, depois de São Paulo, é o estado com o maior número de leitos do Brasil. Hoje, 45% dos leitos de enfermaria estão 45% e os da UTI têm 56% de taxa de ocupação.

Entretanto, essa não é a situação da maior parte dos demais estados brasileiros, sobretudo, os do norte e nordeste. O Amazonas já está com a rede pública de saúde na iminência de um colapso. Nessa segunda-feira, 95% das 293 vagas de UTIs dos hospitais públicos e privados do estado estavam ocupadas. O secretário estadual da Saúde, Rodrigo Tobias de Sousa, disse ao The Intercept que na próxima semana os leitos de UTI já terão se esgotado.

É fundamental que os brasileiros se conscientizem da importância de seguir a recomendação de isolamento social dos organismos de saúde. Só assim serão evitados novos contágios e o colapso dos leitos hospitalares.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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