Síndrome de SIMON: Narcisismo e Imaturidade: o Medo do Compromisso na Masculinidade Contemporânea


Você já ouviu falar na chamada Síndrome de SIMON? Embora o nome sugira uma pessoa, trata-se, na verdade, de um perfil comportamental cada vez mais comum entre homens adultos a partir dos 30 anos. Esses indivíduos apresentam um conjunto de atitudes e escolhas que refletem padrões emocionais e sociais característicos da vida contemporânea. Compreender esse fenômeno é fundamental para reconhecer os sinais e, se necessário, evitar envolvimentos que possam resultar em sofrimento emocional.

Homem solteiro se espreguiçando no sofá

Homem solteiro se espreguiçando no sofá

Origens e contexto sociocultural

O termo foi popularizado pelo psiquiatra espanhol Enrique Rojas, que o relacionou a uma extensão da chamada Síndrome de Peter Pan — caracterizada pela recusa em assumir responsabilidades adultas. Em sociedades pós-industriais, marcadas por ritmos acelerados, valores instáveis e relações superficiais, observa-se um crescente padrão de imaturidade emocional que afeta como alguns homens encaram relacionamentos, compromissos e metas de vida.

Somado a isso, vivemos o impacto das dinâmicas do pós-modernismo — ou do hiperindividualismo das sociedades hipermodernas, a depender da linha filosófica adotada. Essa era é marcada pela fragmentação de valores, pela crise de instituições e pela perda de referências sólidas, o que impulsiona o retraimento subjetivo. Em vez de vínculos duradouros, cresce a aposta na autonomia radical, o que contribui para o surgimento de fenômenos como a Síndrome de SIMON: uma resposta emocional à insegurança e ao excesso de escolhas da vida contemporânea.

Mas afinal, o que significa SIMON?

Trata-se de um acrônimo que representa cinco características principais:

  1. Solteiro (Single):  A escolha pela solteirice não é apenas uma opção de estilo de vida, mas muitas vezes uma forma de evitar vínculos duradouros ou profundos. Homens com essa característica frequentemente sabotam relacionamentos ou se afastam quando a conexão emocional se intensifica.
  2. Imaturo Afetivamente (Immature): Esses indivíduos demonstram dificuldade em lidar com emoções próprias e alheias, evitando conflitos e responsabilidades emocionais. Essa imaturidade pode ser resultado de uma educação sentimental deficiente ou falta de autoconhecimento.
  3. Materialista (Materialistic): Há uma valorização excessiva de bens materiais e status social, com uma visão de mundo centrada no superficial e imediato. O sucesso é medido por conquistas externas, negligenciando o crescimento interior e emocional.
  4. Obsessivo com o Trabalho (Obsessive): O trabalho torna-se um refúgio psicológico, onde o indivíduo se sente competente e valorizado. Essa dedicação excessiva serve como uma desculpa para evitar a intimidade e a vulnerabilidade emocional.
  5. Narcisista (Narcissistic): A autoestima desses homens depende fortemente da imagem que projetam, buscando constantemente reconhecimento e validação externa. Esse narcisismo impede uma entrega autêntica ao outro, dificultando relacionamentos profundos.

Ou seja, os ‘Simons’ são homens solteiros, imaturos, materialistas e narcisistas que evitam vínculos afetivos profundos, optando por relações passageiras e superficiais, acreditando equivocadamente que esse é o comportamento esperado ou correto para um homem nos dias atuais.

Mais um MGTOW do movimento Red Pill

A Síndrome de SIMON, embora não seja uma ideologia formal, compartilha semelhanças notáveis com movimentos como o MGTOW (Men Going Their Own Way) e Red Pill. Ambos emergem em um contexto hipermoderno, onde a individualidade é supervalorizada e os laços afetivos são frequentemente vistos como obstáculos ao sucesso pessoal.

Os adeptos do MGTOW optam por se afastar de relacionamentos com mulheres, alegando que a sociedade moderna penaliza os homens em esferas como casamento e paternidade. Essa filosofia ressoa com o comportamento dos “Simons”, que evitam compromissos emocionais profundos, priorizando relacionamentos superficiais e uma busca incessante por status e validação externa.

O movimento Red Pill, por sua vez, promove a ideia de que os homens devem “acordar” para uma suposta verdade sobre as dinâmicas de gênero, muitas vezes adotando uma postura misógina e de desconfiança em relação às mulheres . Essa perspectiva pode reforçar o comportamento dos “Simons”, que veem os relacionamentos como ameaças à sua liberdade e sucesso pessoal.

Assim, a Síndrome de SIMON pode ser vista como uma manifestação individual de tendências mais amplas presentes em movimentos como o MGTOW e Red Pill, refletindo uma masculinidade contemporânea marcada pela evasão do compromisso e pela valorização extrema da autonomia pessoal.

As Consequências para quem se relaciona com um SIMON

Relacionar-se com um homem que apresenta os traços da Síndrome de SIMON pode ser emocionalmente desgastante, por vezes, traumático. Inicialmente, esses indivíduos podem parecer atraentes: bem-sucedidos, confiantes e independentes. No entanto, à medida que o relacionamento avança, torna-se evidente a dificuldade deles em estabelecer conexões emocionais profundas.

A imaturidade afetiva e o narcisismo dos “Simons” podem levar a uma falta de empatia e comprometimento, deixando seus parceiros(as) se sentindo angustiados e desvalorizados. Além disso, a obsessão pelo trabalho e pelo sucesso pessoal pode resultar em negligência das necessidades emocionais do relacionamento.

É importante estar atento aos sinais: evasão de conversas sobre o futuro, relutância em assumir compromissos e uma tendência a priorizar constantemente os próprios interesses. Reconhecer esses padrões pode ajudar a evitar envolvimentos que resultem em sofrimento emocional.

Causas e consequências para o próprio SIMON

A origem da Síndrome de SIMON está frequentemente ligada a experiências passadas e traumas não resolvidos. Homens que cresceram em ambientes onde expressar emoções era desencorajado ou que vivenciaram relacionamentos familiares disfuncionais podem desenvolver mecanismos de defesa que os levam a evitar intimidade emocional.

A busca incessante por sucesso e validação externa pode ser uma tentativa de preencher um vazio interno, resultante de uma autoestima fragilizada. No entanto, essa estratégia é insustentável a longo prazo. Com o tempo, a falta de conexões significativas pode levar a sentimentos de solidão, insatisfação e até mesmo depressão.

Além disso, a negação contínua das próprias vulnerabilidades impede o crescimento pessoal e a construção de relacionamentos saudáveis, perpetuando um ciclo de superficialidade e isolamento emocional.

A busca por ajuda: um caminho possível

Homens que se identificam com os traços da Síndrome de SIMON raramente reconhecem a necessidade de mudança, pois acreditam que sua forma de viver é satisfatória. No entanto, momentos de crise, como sentimento de solidão, o fim de relacionamentos, ainda que superficiais,  ou a percepção de um vazio existencial, podem servir como catalisadores para a busca de ajuda.

A psicoterapia pode ser uma ferramenta valiosa nesse processo, proporcionando um espaço seguro para explorar emoções, compreender padrões de comportamento e desenvolver habilidades para estabelecer conexões emocionais mais profundas. Embora a mudança não ocorra da noite para o dia, o comprometimento com o autoconhecimento e o crescimento pessoal pode levar a uma vida mais equilibrada e satisfatória.

Repensando a masculinidade

A Síndrome de SIMON é mais um reflexo da masculinidade contemporânea que valoriza a autonomia extrema em detrimento da conexão emocional — fundamental para uma espécie inerentemente social, como a humana. Para romper as barreiras sociais do individualismo, é possível construir uma nova narrativa, onde ser homem não signifique evitar a vulnerabilidade, mas entendê-la como parte integrante da experiência humana.

Promover uma cultura que valorize a empatia, o comprometimento e o autoconhecimento é essencial para superar os padrões limitantes que alimentam a solidão, a depressão e a ansiedade — sintomas tão comuns em nossos dias. Ao reconhecer e desafiar essas ideias, podemos abrir caminho para relacionamentos mais saudáveis, num tecido social mais honesto, afetivo e equilibrado.

Fontes:

Lipovetsky, Gilles. A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo. Tradução de T. M. Deutsch. Barueri: Manole, 2005.

Rojas, Enrique. El síndrome de Simón. Instituto Rojas-Estapé, 12 set. 2016. Disponível em: institutorojasestape.com. Acesso em: 7 jun. 2025

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Redação greenMe

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