Biblioteca humana: em vez de páginas, consulte vidas que são um livro aberto


As bibliotecas, outrora frequentadas por aqueles que adoravam ler, perderam seus espaços para os PDFs e e-readers. Claro que estes são um grande avanço para quem deseja ler um título difícil de ser encontrado em sua cidade ou apenas quer condensar seus livros preferidos em único suporte. Entretanto, as bibliotecas não são apenas um espaço de leitura, mas, também, de contemplação.

O escritor argentino Jorge Luis Borges dedicou, em um de seus contos mais famosos, “A biblioteca de Babel”, uma reverência a essas guardiães do saber:

O UNIVERSO (que outros chamam a Biblioteca) compõe-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados por balaustradas baixíssimas. De qualquer hexágono, vêem-se os andares inferiores e superiores: interminavelmente.

Ademais, as bibliotecas prestam serviços comunitários importantes, sobretudo, as de bairro, levando cultura para regiões desfavorecidas. Um espaço, portanto, que deve ser valorizado.

Assim nasceu a biblioteca humana

Em 2000, uma biblioteca especial chamou a atenção no Festival de Roskilde: a biblioteca humana. Esse projeto, que foi iniciado em Copenhague pela ONG Stop the Violence, tinha o objetivo de diminuir o preconceito entre os jovens celebrando a diferença. Através do diálogo, da tolerância e da compreensão, o projeto colocou em contato pessoas de diferentes estilos e culturas, como informou o site Muhimu.

No início dos anos 2000, a Dinamarca havia recebido muitos imigrantes. A multiculturalidade que chegava ao país era recebida, também, por sentimentos pejorativos e preconceitos. Assim nasceu a biblioteca humana como uma plataforma para fomentar o diálogo e tornar o outro – causador do medo e da intolerância – um conhecido.

Como funciona

A biblioteca humana funciona assim: os usuários consultam o “catálogo” disponível, no qual encontram pessoas com histórias para contar, como uma Sherazade em “Mil e uma noites”. Durante meia hora, o usuário pode sentar-se para conversar com alguém que queira compartilhar suas histórias.

Pessoas em situação de marginalidade social, por sua condição econômica, social, física, ideológica, têm voz para contar as suas histórias e, assim, romper com estereótipos. A biblioteca ensina a não julgar um livro pela capa.

Dentre os “títulos” que já passaram pela biblioteca estão:

– História de um cigano
– Veterano da Guerra do Iraque
– Criança órfã
– Filho de sobreviventes do Holocausto
– Atleta olímpico
– Mulher gorda
– Cristão crítico

As bibliotecas humanas cresceram e, hoje, já estão em mais de 50 países. A única coisa necessária para que ela funcione é que haja pessoas dispostas a conversar.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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