O que Significa Humanização de Animais?


A humanização de animais é um fenômeno cultural que reflete a crescente consideração de nossos animais de estimação como membros da família. Esse movimento se manifesta de várias maneiras, abordando questões que vão desde o registro de pets, passando pelo veganismo até o narcisismo espiritual, o especismo e o mercado que cresce em torno dessa relação especial. Vamos explorar esses tópicos e examinar por que os animais nos humanizam.

Veganismo e Ética Animal

O veganismo, uma prática que envolve a exclusão de produtos de origem animal da dieta e do estilo de vida, é muitas vezes uma manifestação da ética animal. A crescente consciência sobre o sofrimento dos animais nas indústrias de carne, laticínios e entretenimento levou muitas pessoas a adotarem uma dieta vegana. A humanização de animais está intrinsecamente ligada a essa mudança, já que reconhecemos que os animais merecem respeito e consideração semelhantes às dos seres humanos. Até aqui, tudo bem! Mas essa abordagem criou um tipo de preconceito.

Hoje em dia existe uma espécie de louvor ao veganismo, no sentido que muitos acreditam que veganos são pessoas melhores, espiritualmente mais evoluídas etc e tal. A isso chamamos Narcisismo Espiritual.

Narcisismo Espiritual

O narcisismo espiritual é um fenômeno em que algumas pessoas se consideram espiritualmente evoluídas seja porque frequentam igrejas, porque meditam, porque praticam caridade ou…. porque são vegetarianas ou veganas.

Isso mesmo! Tem gente que se acha espiritualmente evoluída por não comer carne ou derivados de animais.

Embora a escolha de uma dieta ética seja louvável, o narcisismo espiritual pode se manifestar quando se adota uma atitude de superioridade em relação aos outros que não seguiram o mesmo caminho. O paradoxo surge quando aqueles que se consideram espiritualmente evoluídos não conseguem demonstrar respeito em relação às escolhas dos outros. A verdadeira evolução espiritual inclui a capacidade de respeitar as escolhas individuais, promovendo a compreensão e a tolerância, em vez de julgar e condenar. Portanto, a jornada espiritual não está apenas relacionada ao que colocamos em nossos pratos, mas também à maneira como nutrimos nossos corações e mentes com compaixão e aceitação.

A Origem do (termo) Especismo

Isso é muito interessante! Richard D. Ryder e Peter Singer desempenharam papéis cruciais na construção do conceito de “especismo” e na promoção da conscientização sobre os direitos dos animais.

Richard D. Ryder introduziu o termo “especismo” em seu livro “Speciesism” (Especismo) em 1970. Ryder usou esse termo para destacar a discriminação e o tratamento injusto de animais com base em sua espécie, em uma analogia direta com o racismo e o sexismo.

Ryder foi pioneiro ao destacar a necessidade de considerar a igualdade e a ética nas relações entre seres humanos e outras espécies, mas Peter Singer ficou mais conhecido por causa de seu trabalho na ética e pelos direitos dos animais, especialmente em seu livro “Libertação Animal” (Animal Liberation), publicado em 1975. Singer argumenta que todos os seres sencientes merecem consideração moral, independentemente de sua espécie, e defende mudanças significativas nas práticas humanas em relação aos animais, como a oposição à exploração animal em diversas áreas.

Juntos, Ryder e Singer desempenharam um papel fundamental na introdução e promoção do conceito de especismo, levando a debates éticos mais amplos sobre o tratamento de animais e a luta pelos seus direitos em todo o mundo.

Então, embora o conceito especismo seja eivado de direitos aos animais, o termo não quer dizer que quem come carne é um homem das cavernas e os veganos são seres superiores. O termo significa que vivemos em uma inter-relação tal, de modos que vivemos em uma sociedade onde ninguém deve ser considerado melhor que ninguém, pois cada um desempenha um papel que, por menor que pareça, é útil ou necessário para a manutenção do todo.

De 8 a 80

Daí, do nada que eram os animais, desprovidos de dores e sentimentos, fomos ao 80, ao tratarmos animais como humanos! Mas os animais não são são humanos. Compartilhamos de um mesmo reino (Animalia) somos sensíveis, fofos, incríveis.. o que quiser, mas somos muito diferentes em termo de família, gênero, espécie, etc.

O que isso quer dizer? Que tem gente tratando gato e cachorro como humano e causando muito mal aos próprios animais que, talvez, não estejam a fim de viver como humanos, cheios de regras e horários para manicure (patacuri) e outras bobagens do reino humanoide.

Tratando Animais Como Filhos

Muitos tutores tratam seus animais como filhos, fornecendo-lhes cuidado, amor e atenção. Essa prática reflete um desejo de garantir o bem-estar dos animais e criar um ambiente de apoio para eles, mas atenção! Não é uma boa ideia, nem tampouco ética, querer que os animais se comportem como pessoas. Eles não são pessoas (por bom ou ruim que isso possa significar). Trate-os bem e isso inclui deixar que eles vivam suas próprias naturezas.

O Mercado Por Trás da Humanização de Animais

O crescente mercado de produtos e serviços relacionados a animais de estimação, como alimentos de alta qualidade, produtos de cuidados e serviços de saúde, reflete a importância que atribuímos aos nossos companheiros peludos. No entanto, é vital garantir que essa indústria também respeite o bem-estar animal.

Nós os Humanizamos  e Eles nos humanizam

Os animais nos humanizam de muitas maneiras. Eles nos ensinam sobre amor incondicional, paciência e empatia. Sua presença nos traz alegria, consolo e um senso de pertencimento. Eles nos lembam da importância de cuidar e nutrir seres indefesos, promovendo qualidades positivas em nós.

Do modo inverso, nós queremos humanizar os animais forçando-os a serem como nós.

Conclusão

A humanização de animais é uma expressão de nossa evolução cultural em relação aos animais de estimação. Ela envolve questões complexas, como ética, especismo e responsabilidade. À medida que continuamos a aprofundar nossa compreensão das necessidades e sentimentos dos animais, é importante equilibrar o amor por nossos pets com a responsabilidade de cuidar deles de maneira adequada e ética. A humanização de animais nos lembra da beleza da conexão entre seres humanos e animais e nos desafia a sermos melhores tutores e defensores de todos os seres vivos sem que, com isso, queiramos que os animais sejam como nós.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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