SPFW: a arte quase destruída pelo rompimento da Barragem do Fundão


Ronaldo Fraga é um talento! O valor da sua arte coloca a criatividade a serviço do questionamento.

Imerso em um mundo considerado por alguns como superficial, a moda para o estilista mineiro serve não apenas ao estético como também ao ético.

Questionadora, provocadora e crítica, a arte de Ronaldo Fraga não se acomoda: incomoda – no melhor dos sentidos.

Quem não se lembra da São Paulo Fashion Week (SPFW) de 2018, quando o estilista levou para a passarela “Desastre de Mariana” emocionando o público com peças bordadas por artesãs de Barra Longa, uma das regiões atingidas pelo rompimento da Barragem do Fundão, sob a responsabilidade da mineradora Samarco?

Fraga organizou um desfile-manifesto resgatando a memória daqueles que foram abandonados pela mineradora e pelos governos do estado e federal.

Minha Casa em Mim

Desta vez, ele surpreende novamente lançando o projeto “Minha Casa em Mim”, que estimula o empreendedorismo de artesãos e pequenos produtores mineiros de Mariana e Barra Longa.

O “Minha Casa em Mim” resgata a memória do artesanato e da culinária tradicionais mineiras, ressignificada por 175 vítimas do rompimento da Barragem do Fundão.

O estilista apresentou a sua obra inovadora na SPFW deste ano aproveitando para homenagear a também estilista Zuzu Angel, vítima da ditadura militar. As peças apresentadas em um convidativa mesa posta – como um bom mineiro gosta – são jogos de mesa bordados à mão ao cuscuz, luminárias ao vinho de jabuticaba, almofadas a rosquinhas de leite caseiras em diálogo com o trabalho de Zuzu, que foi pioneira em usar em suas coleções referências da cultura popular brasileira.

De acordo com  Heloisa Tolipan, os artesãos receberam as consultorias de Ana Vaz,  designer têxtil, Baba Santana, referência em papietagem, e do designer Marcelo, especialista no uso do bambu, a fim de que pudessem aprimorar técnicas e habilidades, além de serem orientados sobre gestão de negócios, incluindo técnicas de gerenciamento de uniformização da produção, embalagem, procedimentos sanitários e precificação de produtos.

Para Mirian Rocha, da Associação de Culturas Gerais, o projeto encabeçado por Fraga tem um valor inestimável:

“Esses artesãos e pequenos produtores nunca foram valorizados e a própria população nunca reconheceu a importância da economia criativa dessas comunidades. Sem dúvida, com ‘Minha Casa em Mim’ conseguimos dar visibilidade ao grupo reforçando uma economia associativa e colaborativa”.

A presidente da Associação Movimento Renovador de Mariana, a bordadeira Raimunda Maria dos Anjos, diz que:

“Aprendemos que podemos agregar a cidade em nossos produtos com novas formas e possibilidades. Com a chegada do projeto, ganhamos espaço, a melhora na renda pessoal e aprimoramos nosso trabalho. Afinal, se você borda contando uma história, o produto tem mais valor”.

A obra organizada por Fraga fomenta a economia criativa, a colaboração e a sustentabilidade, conceitos fundamentais para serem transformados em ação, como o estilista mineiro sabe fazer com beleza e criatividade.

Se você quer conhecer mais desse projeto inovador, acesse aqui a loja virtual: www.minhacasaemmim.com.br

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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