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Desde 2003, a ilha de Ibiza enfrenta uma invasão silenciosa, mas devastadora: a cobra-de-ferradura (Hemorrhois hippocrepis), espécie não venenosa que chegou escondida em caixas com cepas de oliveiras ornamentais importadas para a ilha. Os ovos dessas serpentes estavam nos torrões de raiz das árvores e, ao chegarem à ilha, eclodiam, formando populações invasoras. Hoje, esse ofídio já ocupa cerca de 90% de Ibiza e tem se expandido inclusive para ilhéus próximos, chegando a nadar curtas e longas distâncias, atingindo até uma milha mar adentro.
A captura sistemática de serpentes reflete o crescimento geométrico da população:
A serpente invasora devora sem dó a lagartixa pitiusa (Podarcis pityusensis), espécie endêmica e símbolo de Ibiza e Formentera, reduzindo sua presença em toda a ilha – atualmente, a lagartixa sobrevive em apenas cerca de 30% do território.
As lagartixas desempenham um papel ecológico vital, ajudando no controle de insetos, e sua perda impacta diretamente o equilíbrio da cadeia trófica insular.
Além disso, observa-se o desaparecimento de pequenos mamíferos, morcegos e aves menores, com consequências diretas para a polinização, controle de insetos e dispersão de sementes – processos essenciais para a resiliência do ecossistema.
Além do colapso ecológico, há preocupação crescente entre turistas. Vão além dos relatos sobre lagartixas: surgem casos de serpentes nadando perto de embarcações e banhistas. Um relato em 24 de junho descreveu uma serpente de 1,8 m acompanhando um barco de turistas alemães. Embora não seja venenosa, a cena causou pânico. A imprensa britânica relata que alguns visitantes preferem evitar banhos no mar ou até cancelam suas férias.
Ibiza é uma ilha protegida, isolada e com todos os seus predadores naturais – como as lagartixas – sem preparo genético para predadores recentes como essa espécie de serpente, que ali encontrou um ambiente repleto de presas e sem condições naturais de contenção.
Erradicar a espécie é considerado impossível no curto prazo. As ações em curso incluem:
As serpentes podem sobreviver longos períodos sem alimento e até se alimentar de aves ou coelhos quando sua presa principal escasseia.
A destruição ecológica é em cascata: a ausência de pequenos répteis e mamíferos pode favorecer pragas agrícolas, demandando mais uso de pesticidas.
Nos ilhéus isolados, mesmo um único ofídio pode extinguir populações inteiras, dadas as condições de isolamento genético.
A invasão por Hemorrhois hippocrepis em Ibiza não se limita a um desconforto turístico: trata-se de uma crise ecológica profunda, que ameaça desde a espécie símbolo da ilha (lagartixas) até o equilíbrio de todo seu ecossistema. A resposta, ainda que incisiva, envolve manejo em grande escala e esforços de conservação de longo prazo – um cenário complexo, sem soluções fáceis, que demanda atenção contínua da comunidade científica, gestores ambientais e sociedade.
Fontes:
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Categorias: Biodiversidade
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