Curiosidade mata: harpias são mortas no MT para saciar “curiosos”


Diz o dito popular que curiosidade mata. Mas, ao invés de matar o curioso, a curiosidade fez como vítimas harpias (Harpia harpyja) da região do Mato Grosso.

As harpias, as maiores aves de rapina da Amazônia, estão em perigo de extinção. Segundo o biólogo Everton Miranda, 181 águias da espécie foram mortas em apenas dois anos no norte do Mato Grosso, em uma região conhecida como o Arco do Desmatamento.

O especialista decidiu investigar a razão desse extermínio fazendo um trabalho de campo. Segundo o G1, ao entrevistar moradores da região, descobriu algo surpreendente: 80% dos relatos revelaram que as harpias foram mortas por mera curiosidade e a motivação dos demais 20% foi por retaliação à ave por atacar animais, visto ser ela um predador natural de macacos e bichos-preguiça.

Miranda conta que ouviu as seguintes justificativas dos entrevistados:

‘”Matei pra ver com a mão’, ‘atirei pra ver o tombo’, ‘matei por que nunca tinha visto um ‘gavião’ desse tamanho’ eram algumas das respostas que eu recebia”.

Diante desse cenário, o biólogo desenvolveu um projeto para transformar a harpia em símbolo do turismo local no intuito de tentar despertar alguma consciência ambiental nos moradores.

“O comportamento da harpia é conveniente ao turismo: elas não se deslocam, fixam ninho em um local e não saem dali se não forem forçadas a sair. Então, precisávamos localizar os ninhos e montar torres de observação próximas para que o turista observasse a aves”, explica Miranda.

Com a ajuda dos próprios moradores, incluindo os povos indígenas, ele conseguiu mapear os ninhos da ave, dando início ao turismo de observação de harpias no Mato Grosso, em 2017. Desde então, apenas 3 harpias foram abatidas.

A iniciativa gerou renda, diminuiu a morte das aves e levou educação ambiental para a região, que tem um outro problema ainda não resolvido: o desmatamento.

O Arco do Desmatamento é uma região de 500 mil km² da Amazônia que vem sendo desmatada por causa do avanço do agronegócio e da pecuária e acarretando a perda do habitat natural da harpia. Miranda ressalta que:

“A espécie é considerada Vulnerável à Extinção, dado que 93% de sua distribuição atual está na Amazônia. Os outros 7% são poucas populações viáveis em regiões da América Central e da Mata Atlântica”.

As aves não estão conseguindo encontrar alimentos porque não há mais locais abertos para caça, já que suas presas são mamíferos habitantes de árvores da floresta amazônica que desapareceram devido ao desmatamento.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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