Tempestades de poeira? A culpa é do desmatamento!


No último domingo, 26, regiões com alta atividade do agronegócio foram atingidas por uma tempestade de areia. A culpa é do desmatamento, dizem especialistas. Entenda o caso.

Cidades do interior de São Paulo e do Triângulo Mineiro foram impactadas pela tempestade de areia e o fenômeno pode acontecer novamente.

Diante do cenário de seca intensa, altas temperaturas, ventos fortes e solos sem cobertura vegetal, o Coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Humberto Barbosa afirmou à BBC Brasil:

Uma ventania foi formada gerando uma erosão eólica que removeu não só a poeira mas também material de queimadas recentes.

Nas imagens de satélite analisadas, foi possível observar grande quantidade de terra nua ao redor da cidade de Franca, SP. Os agricultores deixam os solos sem vegetação para o plantio no início da época das chuvas.

O ‘agro’ causa a destruição da natureza

A relação entre a tempestade de poeira com a degradação do solo é evidente. As regiões afetadas sofrem de pouca vegetação nativa, sendo o Estado de São Paulo a segunda maior área agrícola do país, perdendo apenas para o Mato Grosso, onde restam apenas 17,5% de sua vegetação original.

Segundo Gerd Sparovek, professor titular da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) e presidente da Fundação Florestal do Estado de São Paulo:

A nuvem de poeira ocorreu devido à rara coincidência da ocorrência de ventos muito fortes num período em que há grandes extensões de solo seco e sem cobertura vegetal.

O principal cultivo agrícola da região é a cana-de-açúcar. Muitos canaviais se tornam improdutivos e são derrubados para sua renovação, deixando o solo sem cobertura e desagregado.

Na principal área afetada pela nuvem de poeira, o solo de muitas propriedades foi revirado por máquinas para a preparação para o plantio, além do uso desordenado de fertilizantes pesticidas, que ocasiona na redução da quantidade de matéria orgânica no solo, que é a principal proteção de cobertura. Sem essa matéria orgânica que cobre o solo, ele fica vulnerável a se esfarelar com o vento e a ser carregado pelas chuvas. Essa movimentação do solo aumenta o risco de erosão e de tempestade de areia.

Para não deixar a terra exposta e preservar a matéria orgânica, um dos métodos que ainda é pouco utilizado é a semeadura direto na palha, onde é feito o plantio nos restos da lavoura anterior. Também, pode ser utilizada a técnica de rotação de culturas. E claro, o reflorestamento dessas áreas, que já é uma medida proposta pelo Código Florestal.

O ‘agro’ causa a destruição da natureza. É preciso reduzir as áreas sem cobertura não só pela erosão eólica mas também pela erosão hídrica.

Os vídeos publicados nas redes sociais mostram que o desmatamento provocado pelo agronegócio foi a principal causa da tempestade de areia, provavelmente na preparação para a plantação da cana-de-açúcar.

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Lara Meneguelli


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