Por que não devemos julgar Juliana Marins?


Essa história da Juliana Marins morta na Indonésia mexeu com todo mundo. Todos queremos buscar responsáveis e culpados — seja para puni-los, seja para nos colocar num lugar seguro, do tipo: “eu jamais teria ido a um lugar desses”.

Juliana Marins, turista morta em vulcão na Indonésia. Foto Divulgação

Juliana Marins, turista morta em vulcão na Indonésia. Foto Divulgação

De fato, pode-se dizer sim que os turistas de aventura, conscientes ou não, expõem suas vidas mais ao risco do que um turista “comum”, aquele que faz tudo certinho no bem-bom da segurança: hotel 5 estrelas, museus, etc. Mas a vida é insegura por si só. O museu pode sofrer um ataque terrorista, o hotel 5 estrelas pode pegar fogo. Claro, dadas as proporções, as chances de algo dar ruim são muito menores — mas nunca inexistentes. Resumindo: para morrer, basta estar vivo. Mas vamos lá…

Vídeos da Juliana Marins no seu Instagram mostram ela na garupa de uma moto, correndo o risco de, em um deslize do motoqueiro, se machucar gravemente; pulando em cachoeiras, o que também poderia ser perigoso. Tudo dentro do esperado para quem gosta de aventura — assumindo ou não os riscos de suas escolhas.

Mas não devemos julgar Juliana por ter escolhido estar naquele lugar, por vários motivos. Primeiramente porque todos nós temos pulsões de morte. Uns fumam, outros vivem de batatinha chips e Coca-Cola, outros se relacionam com narcisistas tóxicos e perigosos — e por aí vai. Uns vão para Santorini (Grécia), Reykjavík (Islândia), Stromboli ou Nápoles (Itália) e, ainda que não queiram fazer tour na boca do vulcão, foram para lugares em que, só de estar ali, correm o risco de morrerem facilmente se um vulcão decidir jorrar sua lava sem aviso prévio — porque a natureza não tem isso de avisar.

Portanto, mesmo que a responsabilidade de todos os envolvidos nessa desventura possa, e talvez deva, ser apurada — inclusive da própria garota que escolheu a Indonésia como destino —, não podemos julgar as escolhas de cada um, porque muitas vezes são escolhas inconscientes. E mesmo que, hipoteticamente, em um mundo honesto, o governo da Indonésia decidisse, de agora em diante, avisar aos aventureiros — até firmar contrato — que, em caso de problema, não haverá resgate, não haverá nada, mesmo assim muita gente irá comprar o pacote da desaventura. Porque tem gente que gosta disso. E quem não gosta, quem fica em casa vendo Netflix, comendo pipoca de micro-ondas com Coca-Cola, não está mais seguro nem pulsando mais vida…

Todos nós somos assim, todos sem exceção, temos um lado que ama o seguro e outro o inseguro. Como a vida e a morte são dois lados de uma mesma moeda, não tem como se livrar dessa verdade: não dá pra viver com medo de morrer, porque não se vive; nem dá pra morrer querendo viver, porque se morre mesmo.

É claro que se esperava que a história terminasse bem, como muitas vezes terminou, mas é justo também se perguntar o quanto um resgate pode ou deve se arriscar para salvar uma vida que, de alguma forma, assumiu o risco de estar ali. São dilemas da vida, são tomadas de consciência de que há algo muito maior que nós, que devemos humildemente reconhecer e assumir as próprias escolhas sendo estas mais ou menos seguras, mas nunca sob o nosso controle.

Que sirva como provocação filosófica — para além das questões dos culpados e não culpados.

Julgar é fácil e cômodo, mas somente quando se ocupa um lugar à distância.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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