Mais da metade dos empregos no Brasil em risco por causa dos robôs


Um estudo feito pelo Laboratório de Aprendizado de Máquina em Finanças e Organizações da UnB (Universidade de Brasília), que avaliou 2.602 ocupações profissionais brasileiras, chegou a uma conclusão preocupante: grande parte delas será extinta brevemente.

A pesquisa consultou 69 acadêmicos e profissionais de aprendizado de máquina (campo da inteligência artificial no qual computadores descobrem soluções sozinhos após analisar decisões prévias) e analisou as descrições de suas ocupações fazendo associação de riscos.

As profissões de maior e menor risco ameaçadas pelos robôs

A conclusão é de que, até 2026, 30 milhões de empregos no Brasil podem desaparecer, caso as empresas decidam substituir seus profissionais humanos registrados com carteira assinada por robôs – considerando as carreiras mais ameaçadas pela tecnologia – são elas: taquígrafo; torrador de café; cobrador de transportes coletivo; engenheiros químicos; carregadores de armazém; árbitros de vôlei e outros

Já as funções que envolvem criatividade e contato humano são as de risco quase zero, como babás, psicólogos, acompanhantes de idosos, enfermeiros e artistas.

Mais da metade das contratações humanas ameaçadas

As profissões de maior risco de sofrerem automação representam 54% dos empregos formais do país. Levando em conta as contratações com carteira assinada no fim de 2017 (segundo a Rais, do Ministério do Trabalho), cerca de 25 milhões (57,37%) ocupavam vagas com probabilidade muito alta (acima de 80%) ou alta (de 60% a 80%) de automação.

O professor e pesquisador da UnB Pedro Henrique Melo Albuquerque afirma que é necessário um estudo mais aprofundado com estimativas mais refinadas. Ele considera que a automação, necessariamente, não irá abrir mão do trabalho humano, mas alerta que o aprendizado de máquinas se alimenta de fonte de big data de qualidade que, geralmente, não se encontra disponível em empresas de países em desenvolvimento.

Além disso, é preciso levar em conta as limitações orçamentárias, já que automações virtuais – como um software para uma empresa – requerem um investimento menor do que um robô, por exemplo.

Robos imperfeitos x contato humano

A própria tecnologia, às vezes, não ajuda muito, como no caso dos programas de reconhecimento de voz usados na taquigrafia. Eles costumam cometer erros de digitação, fazendo com que a checagem tarde mais do que o trabalho de um taquígrafo. Entretanto, pode ser uma ferramenta útil para evitar lesões por esforço repetitivo.

As categorias de profissionais também vão acabar exercendo pressão política, como aconteceu, ano passado, nos Correios. Foi cogitada a extinção do cargo de operador de triagem e transbordo, cuja função é verificar manualmente pacotes e cartas e separá-los de acordo com o destino.

Trabalhadores da empresa pressionaram o governo federal e o cargo foi mantido, sem prazo para a extinção, que só acontecerá quando os 14 mil operadores ainda em atividade se aposentarem ou “forem migrando para outras atividades compatíveis”.

Já um exemplo de automação bem-sucedida, porque não pode ser empregada para totalidade do serviço, ocorre com o cargo de atendente. Os canais de autoatendimento agilizam o serviço para o cliente, mas os atendentes são necessários porque o consumidor muitas vezes exige o contato pessoal.

Desemprego x profissões do futuro

É claro que a notícia deixa os brasileiros preocupados, sobretudo, por causa da alta taxa de desemprego que assombra o país. De acordo com dados relativos a 2018 divulgados pelo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicizados pela Agência Brasil, a taxa de desocupação no último trimestre do ano foi de 11,7%, o que corresponde a 12,4 milhões de pessoas desempregadas.

No caso das ocupações de alto risco, seriam necessárias políticas públicas e programas empresariais para reorientar investimentos em formação profissional.

Por outro lado, as “profissões do futuro”, como cientistas e programadores ligados a inteligência artificial e aprendizado de máquina, devem tornar-se cada vez mais requeridas.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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