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Até meados do século XX, era muito comum as pessoas buscarem um benzedor para tratar seus males, porém, com a modernidade, essa busca foi se reduzindo. Entretanto, ainda existem pessoas que exercem esse ofício como uma missão de vida e há lugares em que a forma mais acessível de tratamento é através de benzedura.
Este conteúdo traz um resgate a essa prática, compartilhando informações sobre o que é ser benzedor, em que consiste benzer e em tudo o que está relacionado a esta fascinante prática místico-curativa.
Para isso, foram consultadas algumas fontes discriminadas e ou linkadas no decorrer deste conteúdo.
Acompanhe o que vem a seguir e fique por dentro desse tema muito interessante.
Benzer é um ato antiquíssimo e ancestral. No Brasil, muitas das formas de benzimento tem relação com as culturas afro, indígena e também do catolicismo português colonial.
Muito do conhecimento sobre rezas e plantas medicinais usadas pelos benzedeiros, foi sendo passado de geração em geração, até chegar aos nossos dias.
A pessoa que passa pelo benzimento pode usufruir de diversos benefícios:
Para os benzedeiros, corpo e espírito estão ligados entre si e vinculados ao Cosmos. Sendo assim, quando algum mal atinge uma dessas partes, o tratamento precisa ser mais holístico, ou seja, integral, levando em conta que o homem não é apenas uma existência física.
É por isso que os benzedeiros são pessoas tão religiosas, desprendidas e devotas, que mantêm acesa a chama da tradição da benzedura, mesmo em meio à sociedade capitalista, onde prevalece o comércio e o lucro.
Os benzedeiros podem ser homens ou mulheres, jovens ou de mais idade. Entretanto, a maioria que exerce esse ofício, de forma tradicional, herdada de seus antepassados, são mulheres de mais idade.
Em geral, os benzedeiros exercem esse ofício de forma despretensiosa e gratuita, aceitando apenas presentes ou doações voluntárias, como uma troca, reconhecimento ou gratidão.
Ser benzedor é visto como um dom e uma missão, que se revela e se desenvolve ao longo da vida, em geral desde cedo. Por isso, ele encara essa descoberta como uma vocação designada por Deus.
Ademais, os benzedeiros não cobram nem fazem propaganda de seus feitos. Porém, se tornam reconhecidos pela comunidade por causa de suas boas ações e curas realizadas.
A modernidade trouxe muitos avanços na cura e na medicina, mas nem por isso o benzimento deixou de existir e, embora seja um ofício em extinção, em muitos lugares a tradição segue forte, principalmente nas pequenas cidades rurais e longe dos centros urbanos.
É o que comprova a pesquisa “Rezas, Crenças, Simpatias e Benzeções: costumes e tradições do ritual de cura pela fé” de autoria de Vanda Cunha Albieri Nery, Coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa, no Centro Universitário do Triângulo, em Uberlândia/MG.
Por meio de entrevistas realizadas com benzedores da cidade de Uberlândia/MG, esta pesquisadora coletou alguns depoimentos de vários benzedeiros que exercem este ofício da forma tradicional, herdada de pais para filhos.
Um deles é o benzedor Aldoresti José Rosa, de Uberlândia, que contou ter descoberto o seu dom aos 18 anos, e quando entrevistado estava com 70 anos.
Ele tem uma opinião distinta da maioria dos benzedores, pois acredita que a pessoa que recebe a benção não precisa ter fé, pois quem mais precisa de benzimento são exatamente aqueles que estão desprovidos de fé.
“A cura depende mais da preparação espiritual da pessoa que está fazendo a prece.” – diz ele.
A pesquisadora Vanda encontrou outros diversos benzedeiros em pequenas cidades do interior, povoados da zona rural ou até mesmo nas periferias das grandes cidades.
Nesses lugares, principalmente os mais afastados e carentes de recursos médicos, os benzedeiros, com suas rezas e remédios fitoterápicos são a única solução para o alívio da dor e até para a cura de uma doença.
Em várias cidades brasileiras, nas quais a população se encontra mais desfavorecida de assistência médica, os benzedeiros com uso de chás, óleos, ervas, rezas, orações, benzeções, evocações, cantos e simpatias, ajudam as pessoas a terem a solução para seus males.
Os benzedeiros acreditam que eles são intermediários do Divino e que a cura é realizada por Deus, através deles.
Tradicionalmente, o ato de benzer consiste em realizar rezas específicas, orações e fazer o sinal da cruz sobre a pessoa a ser benzida, o que pode envolver o uso de plantas, amuletos, defumações e velas.
A bênção é uma forma de estabelecer conexão com o espiritual e interceder junto ao Divino para dar assistência àquele que necessita do benzimento.
Em geral, os benzedeiros são procurados para tratar problemas que costumam afligir a população de qualquer faixa etária ou gênero sexual.
Os problemas físicos ou espirituais mais comuns, pelos quais os benzedeiros são procurados são:
Para realizarem a cura dos males que assolam os enfermos que os procuram, o benzedeiros empregam também o uso de plantas para realizar o benzimento propriamente dito:
Além disso, estas plantas podem ser utilizadas de diversas formas, como, banhos, defumação e rituais.
Outras aplicações das plantas são voltadas para tratar vários problemas de saúde através de chás, garrafadas, xaropes e unguentos.
Algumas dessas plantas são:
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O ato de benzer envolve uma espécie de ritual e varia de benzedor para benzedor, conforme sua prática e experiência. Mas, em geral, é de praxe o benzedor utilizar um copo com água no local, onde se procederá o benzimento e, no final, a pessoa benzida tomar essa água, considerada benta.
Uma das orientações para passar pelo benzimento é que não se deve cruzar as pernas, os pés ou as mãos durante o ritual.
É comum os benzedeiros utilizarem uma agulha e um carretel de linha para, como eles costumam dizer “coser de jeito” para curar “desmentidura” (contusão muscular), “carne quebrada” (luxação), “nervo rendido” (lesão do nervo) ou “osso partido” (osso trincado).
Além disso, eles costumam fazer antes orações como Pai Nosso e Creio em Deus Pai e, em seguida, vão costurando simbolicamente a área afetada, pronunciando uma reza específica e fazendo o benzimento com o sinal da cruz por várias vezes.
Algumas rezas específicas utilizadas para benzimento variam de acordo com o problema a ser sanado.
Seguem algumas dessas rezas:
“Cristo nasceu, Cristo ressuscitou!
Emendai esta carne, este nervo, esse osso que aqui quebrou.”
Antes de fazer a reza, os benzedeiros avaliam se a espinhela da pessoa está caída. Para isso, medem o tamanho do braço em posição vertical. Em seguida, tiram a medida dos ombros. Se houver diferença, existe o problema.
Após realizar essa avaliação e constatar que o problema é esse, eles realizam a seguinte reza, por três vezes seguidas:
“Jesus Cristo nasceu, espinguela caiu.
Jesus Cristo levantou, espinguela emborcou.
Jesus Cristo ressuscitou, espinguela de (fala-se o nome) levantou.”
O benzedor coloca a mão direita sobre o coração da pessoa afetada e faz a seguinte reza por três vezes:
Com dois (olhos) puseram
Com três (Santíssima Trindade) eu tiro.
Com o nome do Pai,
Do Filho e do Espírito Santo,
Sai quebranto! (Fonte: Ortencio 1997, pg. 229).
Com o galho de qualquer planta se faz o sinal da cruz no peito da criança, rezando:
“Jesus quando andou no mundo pra tudo ele rezou.
Rezou para olhares de quebranto, que desta criança vão saindo, varridas com galho de oliveira.
Amém!”
Rezar em seguida um Credo, um Pai-Nosso, uma Ave-Maria, uma Salve-Rainha e acender um incenso para anular o mau-olhado. (Fonte:-Rezas, pg. 15).
A título de curiosidade, veja como pode se dar o quebranto e mau-olhado:
Maria Januária, uma das benzedeiras tradicionais entrevistadas na pesquisa de Vanda, diz que:
“A benzeção está acabando, porque as pessoas estão perdendo a fé.”
Seja como for, o fato é que o acentuado materialismo tem provocado o distanciamento das pessoas dessa prática. Por isso, tem sido difícil encontrar benzedores, principalmente em centros urbanos.
O teólogo e historiador José Lucindo Pinheiro, justifica isso explicando que a tradição dos benzedores está acabando em função do avanço tecnológico que está sendo empregado sobretudo na medicina.
“Está prevalecendo mais a mentalidade comercial.
As pessoas hoje acreditam mais na medicina do que no benzedor.”
Não existe nenhum mal em buscar na medicina ocidental e comercial a cura para as doenças. Acontece que em muitos casos, a medicina comum não consegue nem diagnosticar muito menos tratar certas patologias de origem “misteriosa”. Quando a racionalidade não explica certos fenômenos, as pessoas buscam no misticismo as respostas para suas perguntas, e as curas para os seus males.
Segundo terapeutas, espiritualistas e religiosos contemporâneos, é possível benzer e ou orar por alguém mesmo à distância.
Durante a pandemia isto aconteceu de forma recorrente, pois com o isolamento social, até o benzimento e outras práticas de cura como: Reiki, Johrei e Passes foram realizados de forma virtual.
A gaúcha Jacqueline Naylah, escritora, bióloga, patologista com 15 anos de experiência como terapeuta holística, autora do livro “Eu Te Benzo – O Legado de Minhas Ancestrais” e criadora de um curso de benzimento on-line, atesta que isto é possível.
Agora, a pergunta que não quer calar: o benzimento à distância funciona?
De acordo com Jacqueline, para realizar o benzimento à distância, é necessário que se tenha algo que represente aquele que necessita do benzimento:
Dessa forma, ela acredita que o benzimento pode funcionar:
“Creio na eficiência tanto presencial quanto à distância do Reiki, do benzimento ou em qualquer outra intenção de auxiliar as pessoas a se harmonizarem e curarem” – diz ela.
Segundo Jacqueline Naylah, há possibilidade de uma pessoa ter esse dom, que algum antepassado familiar longínquo tinha, mas que acabou se perdendo da história familiar.
Esse dom, pode estar adormecido e se manifestar pelo anseio interno da pessoa, por suas características, interesses e afinidades. Dessa forma, é possível, a pessoa despertá-lo e desenvolvê-lo, dedicando-se a aprender mais sobre o ato de benzer e desenvolver essa prática.
E você, sente que tem o dom de benzer?
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Passou pela experiência de ser benzido?
Conte para nós, nos comentários, para enriquecermos e ampliarmos esse tema.
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Categorias: Saúde e bem-estar
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