Fake news das vacinas: quanto mais absurdas mais as pessoas acreditam


Enquanto vários países já iniciaram a vacinação de suas populações, tantos outros entraram na disputa pela compra das vacinas, numa corrida que, na lei da oferta e da procura, vence quem pode pagar mais.

E nessa corrida um tanto quanto injusta, mas desesperada para salvar vidas, ainda existem pessoas que se recusam à vacinar.

Medo, receio, descrença da eficácia, conspirações de todos os tipos e muita, muita fake news, ou melhor, notícias falsas: “culpa do Bill Gates“, “chip na vacina“, “altera o DNA”, “entorta a cara” ou até “vira jacaré”… tem de tudo.

Assim como aconteceu com o início da pandemia, com a chegada das vacinas a história continua…

Mas afinal, o que é verdade e o que é fake news sobre as vacinas?

No mundo foram diversas teorias, uma mais maluca que a outra. Mas qual intuito das pessoas em inventarem notícias. E pior, por que as pessoas acreditam tão facilmente em tudo, sem questionarem?

Por aqui, as principais fake news foram alimentadas com o que já estava circulando nas notícias internacionais ou foram criadas pelos movimentos “anti-vax”, os anti-vacinas e, infelizmente, circularam nas redes sociais incentivadas, inclusive, por políticos, principalmente os apoiadores do presidente Bolsonaro.

Isso porque, o presidente do Brasil chegou a declarar várias vezes, que duvida da eficácia das vacinas e que inclusive não pretende se vacinar. E depois dessa declaração, incoerentemente, o presidente impôs sigilo de 100 anos sobre seu cartão de vacinação.

A vacina que transforma as pessoas em jacaré

Uma fala do presidente virou piada, gerando vários memes na internet.

Numa entrevista, Jair Bolsonaro afirmou que

“Lá no contrato da Pfizer, está bem claro nós (a Pfizer) não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu”.

De péssimo gosto, a “piada” feita pelo presidente só reforça o medo e o receio das pessoas em tomarem a vacina.

Assim, muita fake news circulou e continua circulando e sendo fomentada pelas redes.

Conheça as principais delas:

Vacina afeta o DNA das pessoas

A deputada federal bolsonarista Bia Kicis, do PSL, publicou em sua conta do Twitter, em dezembro do ano passado, que as vacinas contra a Covid-19 são experimentais e que podem afetar os seres humanos, inclusive provocar alteração no DNA.

Normalmente, como não poderia deixar de ser, todas essas fake news são replicadas sem provas, questionamentos, sem qualquer embasamento científico ou ainda, baseado no suposto depoimento de um falso profissional ou especialista.

Tão logo a publicação da deputada veio à tona, ela foi imediatamente rebatida e vários perfis de pesquisadores, cientistas e jornalistas se manifestaram também pelo Twitter avisando sobre a fake news.

Mas o mal já estava feito.

Muitas vezes, somente desmentir a fake news em muitos casos não resolve.

Ao contrário, a realidade mostra que só o fato de ter chegado nas redes sociais, nos grupos de whatsapp, de ter sido compartilhado, ainda que propositadamente, por figuras públicas, comprova a força e o alcance que uma notícia falsa pode ter.

Na ocasião, o post da deputada já tinha mais de duas mil curtidas e outras centenas de compartilhamentos, tudo o que uma fake news precisa para decolar.

Vacina com células de fetos abortados

Outra grande fake news que circula por aqui é quase uma teoria da conspiração.

“5G é usado para espalhar Coronavírus, que por sua vez será “curado” com uma vacina repleta de microchips criados por Bill Gates, mas como as forças Illuminati são extremamente malvadas, o Conglomerado Farmacêutico Internacional e seus líderes sionistas usarão fetos abortados para produzir a vacina”.

Basta um post no Twitter, algumas milhares de curtidas e pronto, a fake news está disseminada.

Nesse caso, um tuíte do site Estudos Nacionais, replicando uma postagem do Portal Brasil Livre, indicando um estudo, enganava os leitores, insinuando que a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford é produzida a partir de fetos abortados, levando a crer que bebês tinham que morrer para a vacina ser produzida.

O tuíte trazia o link de um estudo tentando dar credibilidade à postagem, e como muitos sequer vão ler do que se trata, a notícia falsa logo vira “verdadeira”, e nos comentários à publicação, isso fica claro.

Em menos de três dias, já havia milhares de comentários de pessoas condenando a atitude e afirmando que não iriam tomar a vacina!

Sequer foram checar o próprio artigo citado na postagem, o qual explica que as células foram retiradas de um feto abortado legalmente na Holanda nos anos de 1970 que deram origem à linhagem de células HEK-293 que, desde então, é usada na indústria farmacêutica em todo o mundo.

Tentando atingir o maior número de pessoas que não buscam checar fontes ou respaldos científicos, principalmente sobre teorias que, quanto mais absurdas mais plausíveis de serem confirmadas sem questionamentos, essa foi uma das fake news que mais “colou” e circulou nos  grupos de whatsapp.

A verdade é que as células dos fetos usadas em pesquisas, servem para testes em verificação in vitro e laboratorial. Além disso, muitas delas já se tratam de células replicadas, de fetos antigos, não significando de forma alguma que fetos terão que ser abortados para isso, quiçá de forma ilegal.

Para colocar uma pá de cal na questão, o próprio Vaticano, maior representante da Igreja Católica no mundo, afirmou que na pandemia podem ser utilizadas “todas as vacinas reconhecidas como clinicamente seguras e eficazes” e que “é moralmente aceitável que eles usem vacinas contra a Covid-19, mesmo que tenham utilizado “linhas celulares de fetos abortados no seu processo de pesquisa e produção”.

O chip do Bill Gates

Já no caso da vacina com chip do Bill Gates, a história entrou para a fake news porque, em março de 2019, ele disse em uma entrevista que, em algum momento, “teremos alguns certificados digitais” ​​para mostrar quem se recuperou da Covid-19, foi testado e recebeu a vacina.

Isso levou a um artigo amplamente compartilhado, com o título: “Bill Gates usará implantes de microchip para combater o coronavírus”.

O artigo faz referência a um estudo financiado pela fundação de Gates, sobre uma tecnologia que pode armazenar os registros de vacinas de uma pessoa em uma tinta especial administrada ao mesmo tempo que a injeção.

No entanto, a tecnologia não é um microchip e, sim, mais parecida com uma tinta, uma tatuagem invisível, que nada mantém relação com chip ou possibilidade de que pessoas sejam rastreadas ou monitoradas.

Mas, mesmo com as explicações dos pesquisadores envolvidos nas pesquisas, mesmo com a divulgação da entrevista completa de Gates, para milhares de pessoas, parece que quanto mais absurda a mentira, mais ela recebe atenção e credibilidade.

Vacina sem eficácia

Outra grande fake news que vem circulando pelo Brasil é que a vacina Coronavac não tem eficácia.

A situação é tão desastrosa e estarrecedora que, mesmo após outros países terem verificado a eficácia, mesmo outros países já estarem aplicando a vacina, mesmo após a certificação, verificação e aprovação pela Anvisa que, inclusive por estudos técnicos confirmou a eficácia da vacina, é recorrente casos de pessoas que duvidam da vacina.

Um caso recente, uma enfermeira na linha de frente do combate à Covid-19, publicou um vídeo no Instagram no local de trabalho, ou seja, no hospital, sem máscara, zombando da vacina Coronavac.

Em outro, questiona a eficácia da vacina, afirma que, para ela, a vacina é água, porque “uma vacina com eficácia de 50% não tem validade”.

A conduta foi tão nociva, tão horrenda, advinda de uma profissional de saúde, que além de ter sido demitida do hospital onde trabalha, também está sendo alvo de investigação pelo Ministério Público.

Se até uma profissional de saúde, que atua na linha de frente em combate à doença foi “contaminada” com esse tipo de notícia falsa, quiçá os meros leitores mais desatentos.

É grave o que acontece no mundo por causa das fake news.

Vídeo manipulado mostra seringa vazia

Com o único intuito de fomentar notícia falsa e prejudicar a população, um grupo divulgou um vídeo na internet mostrando uma profissional da saúde, supostamente vacinada contra a Covid-19, com uma seringa vazia.

No vídeo original, a mesma mulher aparece sendo vacinada normalmente, com uma dose da Coronavac.

O caso ocorreu no município de Quixadá, no Ceará, e a prefeitura já divulgou nota para informar que se trata de fake news.

No entanto, como não é raro, o vídeo viralizou com milhares de curtidas, compartilhamentos e mensagens de pessoas duvidando da vacina e afirmando que não iriam tomá-la.

Vacina causa câncer e transmite HIV

Essa semana um vídeo aleatório de um pastor cearense chamado Davi Goes, afirma que a vacina modificará o DNA do vacinado e o levará ao desenvolvimento de câncer.

Outra grande bobagem dita pelo tal pastor, é que ele ouviu dizer de um cientista francês, que a vacina está contaminada com o vírus HIV.

Essa mentira pode ter relação com o tipo da vacina (como é o caso da vacina da Oxford e a Sputnik) que utilizam o adenovírus, vetor viral que já foi utilizada em pesquisas para desenvolvimento de uma vacina contra o HIV.

Mas, percebam, uma coisa não mantém relação com a outra.

Seja no caso do pastor, da enfermeira, do chip do Gates ou dos fetos abortados, são informações falsas que podem, de fato, afetar e colocar em risco a vida e saúde das pessoas, e é um papel de cada um, consciente, em verificar uma notícia antes de replicá-la ou tomá-la como verdade.

Verificação da notícia

Por isso, verifique uma notícia, sempre.

Leia atentamente, reflita, consulte a fonte, se se trata de artigo cientifico, se ele foi publicado, se está respaldado por profissionais gabaritados, se eles existem, se estão vinculados a universidades ou institutos de pesquisas.

Depois, certifique-se que a informação foi veiculada junto aos grandes meios de comunicação, (tv, jornais e revistas), se a notícia é verdadeira, muito provavelmente terá sido publicada nos principais jornais de grande circulação.

Por fim, consulte sites especializados em verificação de notícias falsas.

Sites como o E-farsas  e o Comprova, verificam conteúdos enganosos e são uma excelente ferramenta para descobrir se a notícia é falsa.

Alguns estados brasileiros criaram o seu próprio site de verificação de notícias falsas, como é o caso do AntiFake, uma página do Governo do Estado do Ceará, que alerta para publicações falsas.

Agora, uma coisa é certa. As vacinas acabaram de começar a ser administradas, a Covid-19 é uma doença nova e existem ainda muitas dúvidas e incertezas a respeito dela.

Apesar de tudo o que é relativo à pandemia ainda ser muito complexo e nebuloso, a única certeza que podemos ter é que existem sim pessoas sérias trabalhando para entender e resolver a situação. De certo, fake news e teorias da conspiração não ajudam. O vírus existe e mata, o resto é conversa de whatsapp.

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Juliane Isler

Juliane Isler, advogada, especialista em Gestão Ambiental, palestrante e atuante na Defesa dos Direitos da Mulher.


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Este artigo possui 2 comentários

  1. Bud
    Publicado em 29/01/2021 às 6:03 pm [+]

    Péssimo texto, carregadíssimo de conteúdo ideológico e muito mal escrito.
    O autor não sabe usar a palavra “quiçá”. Então deveria consultar um dicionário antes de cometer uma aberração dessas (“…que fetos terão que ser abortados para isso, quiçá de forma ilegal.”).


  2. Bud
    Publicado em 29/01/2021 às 6:09 pm [+]

    O fato de não ser mais necessário abortar para continuar fazendo as vacinas não desfaz a relação das vacinas com aborto. É um caso análogo à rejeição de algumas pessoas a produtos testados em animais – não é necessário o produto conter partes dos animais para ter relação com os testes. Alguém poderia argumentar: Os testes já foram feitos e o produto já foi aprovado, portanto, para se produzir mais desse produto não se farão mais testes.


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