Autismo: causas e curas. O que se sabe até agora?


O autismo é ainda uma incógnita para a ciência e, por consequência, para a sociedade. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) vem sendo investigado por cientistas, a fim de entender as suas causas e formas para tratá-lo da melhor maneira.

A dificuldade em entender o autismo é que o transtorno é multifacetado, já que varia em graus de intensidade e pode apresentar-se com diversas nuances para cada indivíduo. Por isso, é considerado um espectro de transtornos cujas características recorrentes são:

  • dificuldades no convívio social,
  • comportamento repetitivo,
  • ansiedade e
  • transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

O que causa o autismo?

O que mais as pessoas querem saber é o que causa o autismo para poderem evitar.

É muito comum que um dos pais se sinta culpado por genética, falta de amor, uso de alguma substância tóxica ou química (ainda que seja medicamento), gestação conturbada. Outros desconfiam de causas como vacinas, poluição, etc.

O fato é que o autismo segue sendo um mistério para a ciência. Mas vejamos o que sabe até agora.

O pesquisador Charles Nelson, professor de Pediatria e Neurociência na Universidade Harvard e responsável por um laboratório do Hospital Infantil de Boston dedicado à pesquisa cognitivista em crianças, em uma reportagem para a BBC afirma que não é possível saber a causa absoluta em muitos casos.

Entretanto, as pesquisas recentes têm defendido a hipótese de que se existe “uma vulnerabilidade genética com um gatilho ambiental. E sabemos que é um distúrbio do desenvolvimento do cérebro que aparece muito cedo. Então a pergunta é: o que faz o cérebro ir nessa direção?”, indaga o especialista.

Recentemente, Maria Claudia Brito, fonoaudióloga, doutora em áreas de Autismo e Linguagem, postou um vídeo no Youtube falando sobre as causas do autismo.

Ela aponta a genética e a hereditariedade como principais causas, além da epigenética que é, como o Dr. Nelson explicou, uma vulnerabilidade genética com gatilho ambiental.

Com base nos mais recentes estudos publicados nos Estados Unidos, a Dra. Maria C. Brito, levanta os seguintes dados:

  • a cada 44 pessoas, 1 está no espectro do autismo.
  • estudos mais recentes e de grande amplitude, indicam que a genética e a hereditariedade são as principais causas
  • epigenética (genética mais fatores ambientais, uso de substâncias, etc).
  • idade paterna (acima de 40anos)
  • idade materna (acima de 35)

Diagnóstico

Como explica a Dra.Maria no vídeo acima, o diagnóstico é puramente clínico. Não existem características físicas que definam o autismo.  Por isso, o diagnóstico não é simples.

As possíveis causas e a dificuldade de diagnóstico geram muita frustração para as famílias com casos de autismo.

É comum os pais se sentirem culpados por acreditarem que eles são os responsáveis pelo autismo de seus filhos, sem falar que os resultados ao tratamento podem ser lentos. Em desespero, esses pais buscam terapias alternativas, as quais podem ser muito perigosas por não terem qualquer comprovação científica.

Existe cura para o autismo?

Essa é a primeira pergunta que muitos pais se fazem quando têm seus filhos diagnosticados com autismo:  autismo tem cura?

A verdade é que, não sendo considerada doença, não se falaria em cura e sim de uma saída do espectro do autismo.

É consensual que, quanto mais cedo for diagnosticado, mais possibilidades de uma criança com autismo levar uma vida de ótima qualidade.

Chega de preconceito!

Nelson afirma que cerca de 10% das crianças diagnosticadas precocemente que receberam acompanhamento adequado desde o primeiro ano de vida saíram do espectro autista, nos EUA.

Um ponto alertado pelo médico é o foco dado às fragilidades do indivíduo com autismo, e não aos seus pontos fortes, o que reforça o estigma sobre esses pacientes. Ao contrário disso, devemos estimular seus pontos fortes, algo que ainda não é feito.

Pessoas com autismo podem ser geniais. Exemplos não faltam!

A jovem ativista climática Greta Thunberg, diagnosticada com a síndrome de Asperger (que atualmente é parte do espectro autista), reacendeu esse debate. A jovem vem demonstrando grande habilidade em se comunicar e conseguir sensibilizar o público internacional para a causa ambiental.

“Os interesses restritos (das pessoas com TEA) podem se tornar seu ponto forte. Essas pessoas às vezes têm habilidades excepcionais e memórias incríveis. As que são boas com números podem se tornar matemáticas brilhantes, por exemplo”, destaca Nelson.

Elon Musk, o homem mais rico, talvez o mais inteligente do mundo, também revelou recentemente ter Asperger:

Tratamentos

Existem vários tipos de terapias, inclusive medicamentosa, e outras multidisciplinares que vão da musicoterapia à psicomotricidade, passando por reeducação alimentar porque muitas pessoas têm problemas de seletividade alimentar.

Mas um dos tratamentos que mais popularizou é feito com o chamado MMS, uma substância que foi divulgada como “a cura” para crianças autistas. Entretanto, o MMS é bastante perigoso, por ser nada mais nada menos que dióxido de cloro, um químico alvejante usado em produtos de limpeza altamente corrosivo.

No Brasil, a substância está proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2018, por causa dos riscos que provoca quando ingerida, como; vômito, diarreia até danos à garganta e problemas respiratórios que podem até mesmo serem fatais.

A importância do diagnóstico precoce

Nelson e sua equipe estão realizando uma pesquisa em bebês a partir de 3 meses de idade que têm irmãos mais velhos com autismo. A pesquisa identificou padrões de alto risco em seus cérebros, o que pode ajudar a prever o desenvolvimento do transtorno e a realizar um diagnóstico precoce para ele.

O estudo evidenciou que os sinais do autismo podem ser observados antes dos 12 meses de vida de um bebê, o que explica que a associação das vacinas com o transtorno é infundada. Nelson explica que:

“Quando você tem um filho com autismo e ninguém consegue explicar por que, você sai em busca de causas, e busca causas simples. Os pais frequentemente culpam a si mesmos primeiro; ‘foi algo que fiz durante a gravidez’. E as vacinas acabaram sendo algo conveniente a que atribuir a culpa. Mas não havia nenhuma base para isso.”

A próxima fase da pesquisa é ampliar o número de casos investigados para constituir uma amostra mais significativa do ponto de vista científico:

“Nossos estudos são os maiores do mundo, mas são pequenos, com algumas centenas de crianças. Precisamos de milhares delas e precisamos ter certeza de que [o que está sendo observado no estudo] se trata de autismo, e não de um desenvolvimento atípico do cérebro“, diz o médico.

Caso isso seja provado, ajudaria sobremaneira no diagnóstico do TEA, que costuma ser feito pelos médicos quando as crianças têm cerca de 2 anos de idade. As crianças identificadas com TEA costumam apresentar os seguintes sinais:

  • não respondem quando chamadas por seus próprios nomes,
  • rejeitam o contato visual e
  • têm desenvolvimento motor atípico.

O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento do autismo. Quanto mais cedo for feita a intervenção por especialistas, mais respostas positivas ao tratamento as crianças dão.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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