A vitória de Rafaela no país onde 60% das escolas públicas sequer têm quadras de esportes


Ser um campeão olímpico não é fácil nem aqui nem na China. O feito requer muita dedicação, força, garra, um pouco de sorte e inteligência emocional, mas também requer infraestrutura material, física, um lugar para treinar, um dinheiro para sobreviver durante os anos de treinamento.

Uma vitória no Brasil e em outros países pobres, onde o esporte é um luxo muitas vezes subsidiado pelos pais do esportista, uma medalha, claro, acaba tendo um valor maior porque coloca uma lente de aumento sobre a determinação e a vontade de vencer do próprio atleta, obrigado a se virar dentro da falta de estrutura que tem.

Como ser campeão olímpico em um país onde 60% das escolas públicas sequer têm quadras de esportes? E as que têm muitas vezes são de escassa infraestrutura, sequer têm cobertura para proteção do sol e da chuva. Os dados são do Senso Escolar 2015 e mostram como a educação física é subestimada em nosso país.

Rafaela Silva, nascida na famosa favela Cidade de Deus, mulher e negra, tinha tudo para ser uma perdedora na vida mas com sua garra e determinação quis o destino que ela se tornasse uma campeã olímpica. Disse a judoca ao Jornal O Dia:

“É muito bom para as crianças (de lá) assistirem agora ao judô. Se eu puder ajudá-las com esse resultado, mostrar que uma criança que saiu da Cidade de Deus, que começou no judô por brincadeira e hoje é campeã olímpica, isso é inexplicável. Se elas têm um sonho, elas têm que acreditar, porque esse sonho pode se realizar.”

Mas no Brasil, entre um atleta ter um sonho e este se realizar, o caminho é tão longo que realmente não precisa subir ao pódio para ganhar uma medalha.

O que quero dizer é que a medalha de Rafaela é um orgulho e valoriza infinitas vezes o seu feito, mas deve servir de exemplo não para que as nossas crianças pobres tenham uma força hercúlea e olímpica de perseguirem seus sonhos, e sim que o governo se atente para o fato de que temos talento, temos muitos futuros campeões que hoje podem estar entrando no mundo do crime. Basta dar oportunidade e crer nessa molecada linda para que tenhamos esperança de dias melhores neste país.

É esta a mensagem que gostaríamos que uma medalha passasse. Que fosse além da força pessoal de cada atleta, que é evidente, muito válida, mas que pode ser uma exceção em um contexto difícil senão impossível. Seria interessante que cada medalha fosse vista como uma inspiração para se fazer do esporte uma via de saída para tantos problemas que enfrentamos, entre os quais, a violência, a falta de perspectiva de nossos jovens e a baixa qualidade do ensino público. Aliás seria propriamente este o melhor legado olímpico que poderíamos receber: um maior investimento em esporte.

Especialmente indicado para você:

YUSRA MARDINI – OLIMPÍADAS RIO 2016

IDADE NÃO É DOCUMENTO: OKSANA CHUSOVITINA – GINASTA OLÍMPICA, 41 ANOS, GUERREIRA, MULHER




Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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