Vida intrauterina: o aprendizado começa antes do bebê nascer  


Grande parte das pessoas se prepara com afinco para a chegada de um bebê. É hora de comprar o enxoval, pensar em questões como parto, puerpério, amamentação. É ali o começo de uma vida que os pais sempre desejam que seja plena e feliz. Mas o que pouca gente pensa é que a vida do bebê começa bem antes, ainda no útero. Dentro do ambiente intrauterino, o feto está recebendo inúmeros estímulos, aprendendo, ouvindo. Embora as pesquisas no tema ainda sejam tímidas, já existem estudos que mostram que o bebê, quando está na barriga vive uma vida ativa e dinâmica. Saiba abaixo mais sobre vida intrauterina.

O aprendizado do feto

Uma das pesquisadoras da área, Annie Murphy Paul, autora do livro “Origens: Como os nove meses antes do nascimento moldam o resto de nossas vidas” e colunista do Time na seção “Briiliant: The Sciente of Smart” mostra como é rica a vida intrauterina em uma das entrevistas que concedeu.

“Muito do que uma mulher grávida encontra na sua vida diária – o ar que respira, a comida e bebida que consome, os produtos químicos aos quais está exposta, até mesmo as emoções que sente – são partilhados, de alguma forma, com seu feto. Constituem uma mistura de influências tão individuais e idiossincráticas quanto a própria mulher. O feto trata essas contribuições maternas como informação, como o que gosto de chamar de ‘cartões postais biológicos do mundo exterior’”, conta a cientista.

Segundo ela, essas investigações fazem parte de um campo novo conhecido como “origens fetais” e pode transformar a gravidez em algo que nunca foi antes: uma fronteira científica. Nesse sentido, a grávida não é alguém “esperando” o seu bebê nascer, mas sim uma influência que pode ser altamente positiva, se bem conduzida.

A linguagem na vida intrauterina

Já a pesquisadora Patricia Kuhl, coautora e diretora do Instituto de Aprendizagem e Ciências do Cérebro, da Universidade de Washigton, mostra o alcance dessa influência materna. No estudo em questão, descobriu-se que, logo nas primeiras horas de vida, o bebê já consegue diferenciar a língua nativa de uma língua estrangeira.

O desenvolvimento da audição ocorre por volta da 30ª semana de gestação. Nas últimas dez semanas, o feto já consegue ouvir a conversa de suas mães. No entanto esses sons que o bebê ouve entram abafados, são de baixa frequência. Nesse sentido, embora eles não entendam o que está sendo dito, eles conseguem escutar desse modo peculiar o que está sendo falado. Particularmente a música pode ter um efeito benéfico. E isso ocorre com qualquer tipo de música, não somente com Mozart.

O professor associado de psicologia na Penn State, Rick Gilmore, ressalta que há um estudo bem conhecido feito na Universidade da Carolina do Sul que parece provar essa aprendizagem intrauterina. Na pesquisa, as mães leram Dr. Seuss em voz alta enquanto estavam grávidas. Quando nasceram, esses bebês foram testados e os pesquisadores notaram que eles reconheciam o Dr. Seuss em outras histórias e a voz de suas mães.

“Há amplas evidências de que os fetos estão captando informações do mundo exterior. Eles são especialmente receptivos aos sons do corpo da mãe e do ambiente externo”, diz o estudioso.

A vida intrauterina e os aspectos emocionais

No que diz respeito aos impactos no desenvolvimento psicológico do bebês, ainda há muito a investigar. No entanto, muitos estudiosos da área já concordam que a vida começa a contar bem antes do nascimento e fatores como estresse, uso de substâncias nocivas e a própria dieta da mãe podem influenciar a vida da criança, já nos primeiros dias de vida.

Um bom exemplo é um estudo sobre crescimento intrauterino dos filhos de mulheres que estavam grávidas na época dos ataques de 11 de setembro, nos EUA. De acordo com esse material, houve indicações de que experiências estressantes durante a gravidez podem afetar processos intrauterinos. Em outra pesquisa, os cientistas observaram que o uso excessivo de celulares durante a gravidez pode ter relação com ocorrência de problemas emocionais e hiperatividade nos filhos. Já existem inúmeros estudos que mostram que o estresse na gravidez pode estar relacionado a distúrbios mentais e físicos dos filhos. No entanto, nenhuma das pesquisas é conclusiva. São necessários mais estudos para afirmar que a saúde emocional das crianças possa ser afetada já antes do nascimento.

De todo modo, os especialistas concordam que uma gravidez tranquila, com adoção de uma alimentação saudável e prática de atividades físicas é benéfica para o bebê, no período intrauterino. Dar afeto, mostrar que o bebê é bem-vindo e cuidar de si são atitudes que as gestantes podem e devem adotar para buscar um melhor bem-estar e aprendizado para seus filhos.

Fontes:

  1. CNN
  2. University of Washington
  3. Pennsylvania State University
  4. Gunther Meinlschmidt and Marion Tegethoff. How Life Before Birth Affects Human Health and What We Can Do About ItJunho, 2015.

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Cintia Ferreira

Paulistana formada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro, tem o blog Mamãe me Cria e escreve para greenMe desde 2017.


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