Entre os 10 melhores professores do mundo, uma é brasileira


É lugar comum na fala dos brasileiros que a educação brasileira é muito ruim. Os políticos aproveitam esse descontentamento para prometerem “investimento em educação”. Essa promessa ampla, sem especificidade em programas, fica no mesmo lugar comum da reclamação daquela parte da sociedade brasileira.

Acontece que a educação deve ser um projeto de país, envolvendo toda a sua sociedade, porque a política educacional – e é bem verdade que ela precisa de projetos que cuidem de muitas frentes, que vão desde a valorização da carreira docente, infraestrutura, avaliação de livros didáticos, etc. – ela deve ser promovida por toda a coletividade. Os simplismos – da classe política e da crítica popular, muito difundidos pelos meios de comunicação – não nos ajudam a sair do lugar. Pelo contrário, reforçam aquilo que o antropólogo Darcy Ribeiro denunciava:

“A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”.

O GreenMe noticia frequentemente projetos educacionais e pesquisas científicas brilhantes, alguns até premiados, feitos por alunos e professores de escolas públicas de todo o Brasil, o que demonstra que tem muita gente interessada em educação de qualidade.

A brasileira entre os melhores professores do mundo

É o caso da professora Débora Garofalo (39 anos) que, por escolha, sempre deu aulas em escola pública. Hoje, ela está entre os 10 melhores professores do mundo como finalista do Global Teacher Prize 2019, o prêmio internacional mais prestigiado da área da educação. Segundo a BBC News Brasil, o anúncio do ganhador será feito no dia 24 de março. Há representantes, além do Brasil, da Grã-Bretanha, Holanda, Austrália, Geórgia, Índia, Japão, Argentina, Quênia e EUA.

Garofalo é professora de tecnologias da escola EMEF Almirante Ary Parreiras, em São Paulo. Seus alunos, que têm entre 6 e 14 anos, buscam soluções para os problemas de sua comunidade. Um deles é o lixo.

Robótica com Sucata

À BBC, a professora explicou que:

“Coletamos lixo das ruas das comunidades próximas à escola e fizemos um primeiro carrinho movido a balão de ar. Esse carrinho virou febre e, no dia seguinte, tinha criança do lado de fora me esperando com materiais recicláveis querendo fazer o carrinho”. Foi assim que o projeto “Robótica com Sucata” nasceu e ganhou projeção internacional.

Há quatros anos, já foram cerca de 700 kg de lixo retirados das ruas pelos estudantes, o que fez a EMEF Almirante Ary Parreiras saltar, no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb), de 4.2 para 5.2. Mas o melhor resultado não é esse, mas este: alguns alunos da escola estão decididos a serem físicos, engenheiros ou programadores. Aliás, um deles já abriu o caminho para os demais:

“Um dos meus primeiros alunos passou agora em física na USP. É um orgulho enorme”, entusiasma-se a docente, cuja formação é em Letras e Pedagogia.

O prêmio do considerado “Nobel da Educação” é de US$ 1 milhão. Caso seja premiada, Garofalo diz que o destino do dinheiro será para a construção de laboratórios de robótica em escolas públicas do país.

“E, se eu não ganhar, já fica a lição de que é possível fazer grandes coisas com poucos recursos e que precisamos aprender a inovar“, ensina.

A professora conhece bem a realidade de uma escola pública e sabe que é preciso “tirar leite de pedra” para encarar os desafios. Ela afirma que é necessária uma reinvenção educacional, já que os estudantes de hoje ainda aprendem como os do passado.

“A escola precisa ser atrativa e dar sentido prático ao que é ensinado. E os professores devem envolver as crianças na resolução de problemas, torná-las protagonistas do aprendizado. O meu papel é, junto com eles, errar, testar, fazer com que cheguem às conclusões e criem, sem simplesmente entregar a eles as respostas”.

Logo, a patrulha educacional que hoje tenta ser promovida pelo Ministério da Educação, inclusive, criticando o educador Paulo Freire, referência internacional na área da Educação, passa longe de qualquer projeto sério que, de fato, pense e promova ações em prol da educação brasileira. Sobre esse tema, Garofalo afirma:

“Eu acho essa discussão totalmente infundada. Sou professora há 14 anos e nunca vivenciei isso (doutrinamento). Meu papel é fazer com que meus alunos sejam críticos e reflitam sobre diversos assuntos, sem emitir minha opinião pessoal, mas debatendo diversas vozes e opiniões“.

Garofalo comenta que no início de sua carreira percebeu que os seus alunos não iam à aula em dias chuvosos por causa do alagamento ocasionado pelo lixo. Além desse problema, eles reclamavam que o lixo trazia ratos, insetos e doenças, entre elas, a dengue. Ao ouvi-los, a professora começou a pensar em como as aulas de tecnologia podiam ser inseridas no contexto da comunidade em que seus alunos viviam.

“Não adianta falar de robótica, programação, animação se eu não envolver essa questão do lixo que, para eles, é tão importante e fundamental”, conta.

Da escola, ela e os alunos foram fazer pesquisa de campo na rua. Durante o percurso, começaram a recolher o lixo e analisar o que era sucata para reutilizar o material. Para a coleta, foi criado um carrinho movido a balão de ar. Sucesso total: o burburinho entre os alunos começou e outras crianças apareceram para participar do projeto.

Garofalo contou à BBC que pensou:

“acho que a gente encontrou o caminho para estruturar um trabalho de robótica com uma intervenção social, para que as crianças possam sensibilizar a própria comunidade e intervir na própria história”.

E assim nasceu a proposta de robótica com sucata.

Seria muito bom que o governo não apenas valorizasse mais os professores brasileiros como lhes desse a palavra, já que são eles que vivenciam a realidade de suas comunidades escolares, conhecem-na de dentro, sabem de seus problemas e têm muito conhecimento para propor soluções.

Confira a entrevista completa dessa professora que vem transformando a educação brasileira aqui.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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