Tartarugas-marinhas em risco: nascem mais fêmeas que machos por causa do plástico


Estão nascendo principalmente tartarugas-marinhas do sexo feminino devido ao aquecimento global e também à poluição por plástico. Sendo animais já em risco de extinção, a situação é preocupante!

Em uma entrevista à National Geographic, Camryn Allen, cientista da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional do Havaí, conta que trabalhava com hormônios para rastrear a gravidez de coalas, e usou o mesmo conhecimento para saber uma questão inusitadamente difícil na biologia: saber se uma tartaruga-marinha é macho ou fêmea, o que não é detectável apenas observando.

É importante saber o sexo destes animais porque o calor da areia onde os ovos são colocados determina, em última instância, se uma tartaruga-marinha será macho ou fêmea.

Como a mudança climática é uma ameaça para a vida em geral, através das tartarugas-marinhas seria possível ter um indício a mais sobre os efeitos do aquecimento global sobre a vida da Terra.

E qual foi a surpresa da cientista ao notar que, de fato, tem nascido mais fêmeas que machos, pelo menos na Ilha Raine, Austrália, no maior e mais importante local de nidificação de tartarugas-verdes (Chelonia mydas) do Oceano Pacífico. Em 2018 uma pesquisa revelou uma disparidade tremenda entre os sexos: as tartarugas bebês fêmeas superaram os machos em 116 para 1.

O resultado assusta porque estamos falando de espécies marinhas já ameaçadas de extinção, e o lixo plástico está piorando a situação.

Como assim?

Detritos plásticos

Não bastasse o aquecimento global causado pela emissão de gases de efeito estufa, o lixo plástico, a praga do século, também contribui para o aquecimento das areias das praias e, por consequência, pode ser mais um fator determinante no sexo das tartarugas-marinhas.

Um estudo recente revelou que os detritos plásticos encontrados nas praias aumentam a temperatura das areias.

Cientistas do IMAS – Institute for Marine and Antarctic Studies – examinaram o lixo plástico que se acumula na Ilha Henderson e nas Ilhas Cocos (Keeling), ilhas remotas do Oceano Pacífico, para entender os impactos da poluição por plástico nos ecossistemas.

O estudo, publicado no Journal of Hazardous Materials, descobriu que os plásticos acumulados nos sedimentos das praias agem como isolantes térmicos, aumentando as temperaturas máximas diárias em quase 3ºC.

Ainda há muito a ser descoberto sobre os efeitos da poluição por plástico nos vários ecossistemas, e inclusive para a saúde humana dado que estamos comendo, bebendo e respirando microplástico o tempo todo.

Dra. Jennifer Lavers, autora principal do estudo e pesquisadora do IMAS, explica que:.

“As praias arenosas não foram foco de pesquisas anteriormente, então esta é a primeira vez que dados in situ do mundo real sobre flutuações térmicas circadianas de sedimentos de praia foram coletados – e isso revela que os plásticos acumulados aumentam os extremos diários de temperatura.

“Encontramos aproximadamente 3 kg de plástico por metro quadrado em algumas das superfícies de praia das ilhas Henderson e Cocos, e alguns desses locais são remotos e desabitados”.

Terra sufocada

Este estudo mostrou que o acúmulo rápido de detritos plásticos representa um risco significativo de calor para as todas as regiões costeiras. O calor retira das espécies os seus invólucros térmicos.

Como explica a cientista:

“Plásticos acumulados em sedimentos de praia alteram essencialmente as entradas e saídas térmicas, como a absorção de radiação infravermelha, que causa flutuações de temperatura que podem ter um efeito significativo em ectotérmicos terrestres como caranguejos e tartarugas”, disse Lavers.

“Ectotérmicos são animais que dependem de fontes externas de calor corporal e são vitais para habitats de praia saudáveis, mas muitos têm limites de tolerância térmica estreitos.

“Com a produção global de plástico dobrando quase a cada década e muitos dos detritos de plástico que se acumulam em nossos oceanos eventualmente chegando às praias de todo o mundo, as cargas de detritos baixas e moderadas que observamos em Henderson e Cocos provavelmente farão a transição para detritos altos nas próximas décadas ”, continua.

Os impactos do lixo plástico para a vida na Terra estão apenas começando a dar as caras. De material revolucionário, o verdadeiro vírus que ameaça nossas vidas é esse lixo, que infelizmente parece difícil de controlar.

É preciso agir com urgência sobre a forma como produzimos e gerenciamos o plástico (e que na pandemia só aumentou, diga-se de passagem).

Não é só as tartarugas e não é só um canudinho, é a vida de todos nós.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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