A Fraude da Reciclagem: Indústria do Plástico Nos Enganou por Décadas


Nos últimos anos, a reciclagem tem sido apontada como uma solução crucial para lidar com o problema crescente de resíduos plásticos. No entanto, um novo relatório revelou uma verdade chocante: a indústria do plástico sabia há décadas que a reciclagem não era uma solução viável, mas continuou a promovê-la ativamente. Neste artigo, exploraremos os detalhes desse engano de longa data e suas implicações.

As Mentiras da Indústria do Plástico

Um relatório do Center for Climate Integrity (CCI) expõe a verdade por trás da reciclagem de plásticos. Por mais de 30 anos, empresas que produzem plástico sabiam que a reciclagem não era economica nem tecnicamente viável. Além de optarem por ocultar essa informação do público, continuaram a promover a reciclagem como uma solução sustentável para os resíduos plásticos, enganando consumidores e autoridades.

“Os plásticos fazem parte de um setor conhecido como “petroquímico”, ou produtos fabricados a partir de combustíveis fósseis, como petróleo e gás. Mais de 99% dos plásticos são produzidos a partir de combustíveis fósseis. Existem “milhares de tipos diferentes de plástico, cada um com sua composição química e características próprias”. A grande maioria destes plásticos não pode ser “reciclada” – o que significa que não podem ser recolhidos, processados e refabricados em novos produtos. Em 2021, a taxa de reciclagem de plástico nos EUA era estimada em apenas 5-6%. Apesar de décadas de promessas da indústria, a reciclagem de plástico não conseguiu se tornar uma realidade devido a limitações técnicas e econômicas há muito conhecidas.

Primeiro, certos tipos de plásticos não têm mercados finais (ou seja, empresas que compram e utilizam materiais recicláveis para fabricar novos produtos) e, portanto, são impossíveis de reciclar. Até à data, só existem mercados viáveis para garrafas e jarros de plástico de tereftalato de polietileno (PET) e de polietileno de alta densidade (PEAD). Eles são conhecidos como plásticos nº 1 e nº 2, respectivamente, de acordo com os Códigos de Identificação de Resinas (RICs) da indústria. Depois de realizar uma revisão de 10 anos sobre reciclagem de plástico, em 1991, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) concluiu que “parece que no momento apenas dois tipos poderiam ser considerados para transformação em objetos de alta qualidade, PET e HDPE”, especificamente aqueles provenientes de garrafas. Isto continua verdadeiro mais de 30 anos depois. Embora uma minoria de programas municipais de reciclagem em todo o país possam recolher plásticos com RICs #3-7, na verdade não os reciclam. Em vez disso, esses plásticos são incinerados ou enviados para aterros sanitários”, lê-se na introdução do relatório.

As Revelações

O relatório expõe as mentiras da indústria do plástico, revelando documentos internos que mostram como as empresas reconheceram há décadas a inviabilidade da reciclagem de plásticos. Apesar desse conhecimento, eles continuaram a promover campanhas de reciclagem e a usar símbolos enganosos de reciclagem em suas embalagens.

As Consequências do Engano

A indústria do plástico tem um histórico de priorizar o lucro sobre o meio ambiente e a saúde pública. Desde os primórdios, empresas que fabricam plástico optaram por produzir plásticos de uso único, promovendo a cultura do descarte em vantagem própria, e desestimulando práticas mais sustentáveis. Agora, o relatório revela que essa mentalidade persiste.

O impacto desse engano é profundo. Milhões de toneladas de plástico foram incorretamente encaminhadas para a reciclagem, mas acabaram ou em aterros sanitários ou poluindo o meio ambiente. Além disso, a confiança do público na reciclagem foi minada, levando a um aumento da poluição plástica e prejudicando os esforços genuínos de reciclagem.

As revelações do relatório têm sérias ramificações legais e ambientais. Suspeita-se que as empresas violaram leis de perturbação pública, racketeering e proteção ao consumidor. Além disso, a má conduta da indústria contribuiu significativamente para a crise global de poluição por plásticos e para o aumento das emissões de gases de efeito estufa.

O Caminho para a Responsabilização

Para resolver o problema da fraude da reciclagem de plástico, é crucial responsabilizar as empresas envolvidas. Isso pode envolver investigações por parte de autoridades governamentais e possíveis ações legais contra as empresas responsáveis ​​por enganar o público e causar danos ambientais significativos.

A fraude de longa data na indústria do plástico, agora descoberta, destaca a necessidade urgente de uma mudança drástica na forma como lidamos com o plástico. Como consumidores, é importante exigir transparência e responsabilidade das empresas e apoiar medidas que promovam práticas sustentáveis de produção e descarte de plásticos. Somente assim poderemos realmente enfrentar a crise global de poluição por plásticos e proteger o meio ambiente para as gerações futuras.

Fonte: The Guardian

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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