Pó de pneu: poluente desconhecido, grande ameaça ambiental


Há décadas cientistas tentavam descobrir o que estava causando a morte misteriosa de salmões coho, uma espécie importante que fica no norte do Oceano Pacífico, e que estava aparecendo morta em riachos e córregos de Puget Sound (EUA).

Inicialmente, os pesquisadores desconfiaram de pesticidas, mas não encontraram evidências desse tipo de produto. Posteriormente, doenças, falta de oxigênio e produtos químicos, como hidrocarbonetos e metais foram descartados como causa.

O que eles não imaginavam é que a resposta para essa questão intrigante estava nas estradas, mais precisamente nos veículos que passavam diariamente por ali. A morte dos salmões era causada pelo pó dos pneus.

Uma descoberta surpreendente e muito triste

Os cientistas chegaram a essa conclusão após fazerem testes com partículas de pneus de carros de uma estrada próxima, jogando esses resíduos na água.

O resultado foi que todos os peixes morreram.

Estava ali uma grande descoberta, surpreendente, mas muito triste. Isso porque esse é considerado um poluente furtivo, em virtude do fato do fato de que poucas pessoas têm conhecimento sobre ele e os efeitos danosos que pode trazer ao meio ambiente.

O que ocorre é que o pó de pneu contém um produto químico tóxico, conhecido como 6PPD-quinona, produto do conservante 6PPD, que é adicionado aos pneus para impedir que se decomponham. Eles são considerados uma das principais fontes de microplásticos nos oceanos.

O estudo dos efeitos do microplástico nos oceanos, no entanto, carece de mais investigações. Atualmente, existem menos de 100 artigos científicos sobre ele publicados.

Leia também:

Essas partículas de pneu são criadas durante aceleração e frenagem dos veículos. Com isso, esse pó é disperso da superfície da estrada pela chuva e pelo vento, indo parar em bueiros e desaguando nos rios e mares. Elas também podem ser liberadas de efluentes de esgoto e atmosfera, onde podem circular no oceano e voltar.

Segundo estudo recente (2020) os microplásticos levados pelo vento são uma fonte maior de poluição dos oceanos do que dos rios. Cerca de 6 milhões de toneladas de partículas de pneus são emitidas, todos ano.

Um outro estudo de 2017, da União Internacional para a Conservação da Natureza, estimou que o desgaste dos pneus correspondia a 28% dos microplásticos primários no oceano, só perdendo para as fibras têxteis sintéticas com 35%. O mais grave é que, por ser tão pequeno, o pó do pneu, além de microplástico, também polui o ar.

Um dos pesquisadores lembra que qualquer coisa que tenha 10 mícrons pode ser inalada para os pulmões e qualquer outra que tenha 2.5 mícrons pode passar pela barreira da membrana.

Uma das grandes dificuldades em lidar com esse problema, é que as empresas, no geral, não são obrigadas a dizerem o que contém em seus produtos, graças a acordos comerciais confidenciais e outras questões legais que protegem as grandes corporações. O que os pesquisadores defendem é que exista mais transparência por parte das empresas e que elas substituam aqueles produtos considerados tóxicos, como é o caso do 6PPD.

No entanto, esse é um problema que parece bem longe de uma solução.

Talvez te interesse ler também:

As medusas (águas-vivas) mais venenosas do Brasil e do mundo

Mais plástico que alimento: assim o consumo está nos matando

Vírus sobrevivem na água pegando carona em plástico

Microplástico: comemos 1 cartão de crédito por semana. Conheça os riscos

Ingerimos cerca de 40 mil pedaços de microplásticos por ano, diz pesquisa

Nanoplástico tóxico encontrado pela 1ª vez em ambos os pólos da Terra




Cintia Ferreira

Paulistana formada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro, tem o blog Mamãe me Cria e escreve para greenMe desde 2017.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...