Uberização no campo: como o modelo de negócio da Amazon está invadindo o mundo rural


A precariedade social provocada pela modelo laboral da uberização é uma realidade que vem afetando todo o mundo. O nome deriva do serviço Uber, no qual os prestadores de serviço entram com o seu investimento pessoal em um negócio que não lhes dá qualquer garantia ou direitos trabalhistas.

Esse modelo de negócio tem como expressão máxima a empresa Amazon. O ganhador do Oscar 2021 de Melhor Filme, Nomadland, mostrou bem como é a relação entre esses prestadores de serviços e a Amazon, nos Estados Unidos, e como tais pessoas, que vivem sem qualquer amparo social, transformaram-se em nômades à procura de empregos temporários.

Não bastasse esse modelo perverso ter se instalado nas grandes e médias cidades do mundo, parece que a uberização chegou ao campo.

Uma reportagem de Vanessa Nicolav, publicada pelo Brasil de Fato e divulgada pelo Instituto Humanitas Unisinos, revelou como está sendo processada uma coleta de dados de agricultores por grandes empresas de tecnologia, como a Amazon e Microsoft.

A consequência da chegada ao meio rural de empresas que trabalham com big data é a uberização da agricultura, o que significa a concentração de informação sobre os recursos naturais do planeta para a financeirização desse tipo de capital (na lógica de tais empresas).

Segundo o sociólogo e pesquisador sobre redes digitais da Universidade Federal do ABC (UFABC) , Sérgio Amadeu:

“Todos essas empresas, de áreas distintas da cadeia do mercado alimentício, estão fazendo ações de coleta de dados, de como o agricultor trabalha, estão mapeando o solo, as plantas e tudo mais que eles puderem. O objetivo é ter o controle, do financiamento, da produção e da distribuição de alimentos no planeta”.

A expansão das empresas de tecnologia se dá por meio de empresas agrícolas tradicionais, como Sygenta, Bayer e Basf, que possuem aplicativos, usados por milhões de produtores do mundo, que administram dados sobre qualidade do solo, quantidade de água e forma de produção. Esses dados se transformam em informação sobre a cadeia produtiva do campo e onde ela está localizada.

Segundo Larissa Packer, advogada popular ambiental que pesquisa o assunto:

“São 24 milhões de hectares, entre Estados Unidos, Canadá, Brasil, Argentina e Europa, integrados a esse aplicativo. Todo mundo postando dados sobre seu solo, quantidade de água, fertilidade, etc. E esses dados sendo processados pela Amazon”.

A especialista avalia que o maior risco da digitalização de dados sobre o campo é a transformação pelas mãos do agronegócio de áreas agroecológicas em monocultura. Ou seja, é a comida do mundo virando investimento financeiro.

O impacto dessa transformação já está ocorrendo, por exemplo, no Quênia, onde a financeira estadunidense Goldman Sachs e a cadeia de supermercados francês Auchan tomaram o mercado alimentício do país africano.

Na Índia também houve, recentemente, uma greve que levou milhões de pessoas às ruas contra a empresa estadunidense Walmart por concentrar dois terços do mercado varejista do país.

Colocar a produção alimentar mundial sob o controle das big tech é aumentar a precarização do trabalho, agora ampliada para o campo, e a degradação ambiental pelo uso de agrotóxicos e a eliminação do pequeno produtor.

Leia AQUI a reportagem completa

Como sempre alertamos, é preciso saber de quem você compra os produtos que consome. Privilegie sempre a loja e a vendinha do bairro, os produtores orgânicos, o livreiro do sebo e todos esses trabalhadores que resistem ao modelo da uberização, que, na verdade, trata-se da exploração do trabalho e do meio ambiente.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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