Novo estudo revela: as plantas também se estressam


Estamos acostumados a ver as plantas como seres vivos, é claro, mas como se elas fossem quase que totalmente impotentes, inertes e muitos diferentes de nós. Mas os resultados de uma nova pesquisa, que mostra como os organismos vegetais são capazes de reagir às condições de estresse, desenvolvendo mecanismos análogos aos que se verificam nos seres humanos e nos animais, nos deixam surpresos.

Um estudo realizado pela Universidade de Adelaide, em colaboração com vários outros centros de pesquisa, demonstrou pela primeira vez que, ainda que não sejam dotadas de um sistema nervoso, as plantas reagem ao estresse produzindo sinais normalmente associados aos mamíferos.

Publicado na revista Nature Communications, a contribuição dos pesquisadores do Australian Research Council (ARC) Centre of Excellence in Plant Energy Biology é baseada nas observação e análise do cultivo de uvas, cevada, trigo e arroz e explica como as plantas reagem aos estímulos do meio ambiente circundante, com uma combinação de respostas químicas e elétricas que são comuns aos animais, embora dependentes de estruturas e mecanismos completamente diferentes, típicos do mundo vegetal.

“É um paralelo entre os animais e as plantas, o qual nós não tínhamos consciência.” – Disse um dos autores do estudo, Matthew Gilliham, Professor Associado da Universidade de Adelaide – “Nós sabíamos há algum tempo que o neurotransmissor animal GABA (ácido γ-aminobutírico) é produzido pelas plantas sob estresse, por exemplo, quando elas estão sujeitas à seca, salinidade, vírus, às temperaturas extremas ou solos ácidos. Mas não sabíamos se o GABA fosse utilizado pelas plantas como um sinal. Nós descobrimos agora que as plantas ligam o GABA de uma forma semelhante aos animais, dando origem a sinais elétricos que regulam o seu crescimento quando estas são expostas a um ambiente estressante.”

Com esta descoberta, os pesquisadores acreditam que novos caminhos se abrirão para mudar a forma em como as plantas respondem ao estresse, para assim conseguirem contribuir para uma agricultura mais produtiva.

“As principais fontes de estresse que as culturas agrícolas enfrentam, como patógenos e más condições ambientais, determinam a maior parte dos prejuízos na agricultura ao redor do planeta sendo, portanto, um dos fatores responsáveis ​​pela falta de alimentos.” – explica Stephen Tyerman, professor e co-autor do estudo – “Tendo descoberto que as plantas usam o GABA como um sinal de estresse, temos uma nova ferramenta para contribuir para os esforços mundiais, de cultivar plantas mais resistentes ao estresse, lutando contra a insegurança alimentar.”

Os investigadores observaram que, embora agindo de forma semelhante, as proteínas de ligação do GABA nas plantas, e os que desempenham a mesma função nos mamíferos, são bastante diferentes.

“Isto levanta questões muito interessantes sobre como ao GABA foi atribuído o papel de “mensageiro” em ambos os reinos, animal e vegetal.” – Dito de outro co-autor do estudo, Sunita Ramesh – “Parece provável que se trate do resultado de uma evolução ocorrida separadamente”.

A descoberta, em suma, desbanca alguns mitos comuns e merece aprofundamentos. Além das aplicações na agricultura, a análise do funcionamento do GABA nas plantas pode ajudar a explicar por que alguns medicamentos de origem vegetal, usados como sedativos e anti-epilépticos, fazem efeito sob os homens.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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