Vírus e bactérias da pecuária e da avicultura estão destruindo a vida selvagem


Uma crise sem precedentes causada pelo vírus HPAI, vírus da gripe aviária de alta patogenicidade, deixa às claras o que a avicultura e a pecuária intensivas estão causando à vida selvagem. A epidemia de gripe aviária em curso, pode ser a pior de todos os tempos.

Como é que vírus e bactérias ligados à criação industrial de animais estão exterminando a vida selvagem? Cientistas explicam por que as indústrias aviária e pecuária precisam ser revistas urgentemente.

Em um artigo publicado na revista científica Science, Thijs Kuiken e Ruth Cromie, respectivamente professor do Departamento de Virociência do Centro Médico da Universidade Erasmus em Roterdã (Holanda) e conselheira da Wildlife Health for the Convention, soaram o alarme sobre os riscos gravíssimos que a criação intensiva de animais vem causando para a vida na Terra, biodiversidade e saúde humana.

Além de serem lugares de atroz sofrimento, privação da liberdade e morte, a agropecuária é a força motriz para a disseminação de vírus e bactérias que estão exterminando a vida selvagem, já em risco por causa da destruição de seus habitats naturais e da poluição ambiental.

Se a pecuária e a avicultura continuarem a explorar os animais desta forma cruel (amontoando os animais e enchendo-os de antibióticos) um impacto muito grave teremos sobre a biodiversidade, com o colapso de populações e extinção de espécies ameaçadas.

No artigo referido, os pesquisadores revelam dados surpreendentes sobre as consequências das nossas escolhas erradas em explorar algumas espécies,  em detrimento de outras para o nosso bel prazer:

Resumidamente, o exemplo mais recente que temos sobre a influência da criação de animais de abate sobre a vida selvagem vem de alguns países espalhados pelo globo: nos últimos meses houve um número de mortes de aves marinhas sem precedentes em vários países europeus (especialmente Reino Unido e França), na América do Norte e Norte da África, devido à disseminação disruptiva e contínua de agentes altamente patogênicos.

Milhares de exemplares de espécies protegidas morreram por terem sido infectados devido a uma propagação inesperada do letal vírus HPAI. Este vírus originou-se em 1996 em uma criação intensiva de gansos na China. Dali, ele se espalhou para animais selvagens, causando a morte de milhões de animais a cada ano, incluindo os mortos em fazendas.

O vírus da gripe aviária de baixa patogenicidade circulava normalmente em aves selvagens, sem grandes problemas mas, uma vez que foi parar em criação intensiva, onde um número desproporcional de espécimes vivendo em contato estreito e em condições higiênicas lamentáveis, continuou a evoluir e a mudar, até dar vida a uma forma altamente patogênica (o HPAI).

O novo patógeno agressivo vem invadindo as aves silvestres desde 2005, como apontam os autores do editorial, dando início a um ciclo contínuo de massacres.

Números impressionantes

Globalmente, nos últimos 50 anos, a população avícola cresceu 6,1 vezes, de 5,71 para 35,07 bilhões; de suínos, 1,7 vezes de 547,17 para 952,63 milhões; e de bovinos, 1,4 vezes de 1,08 para 1,53 bilhão.

Essas grandes populações de animais, que estão conectadas através do comércio, formam reservatórios onde doenças infecciosas podem evoluir e se espalhar para a vida selvagem, ocasionalmente com consequências devastadoras.

Alguns exemplos que o artigo dá:

“Entre 2016-2017, o vírus peste-despetits-ruminants se espalhou do gado para o antílope saiga, matando 80% dessas espécies criticamente ameaçadas na Mongólia.

Desde 2007, o vírus da peste suína africana se espalhou pela Europa e Ásia através do comércio de suínos e produtos de carne suína, espalhando-se por javalis e ameaçando espécies ameaçadas de suídeos selvagens no Sudeste Asiático.

Outros saltos de espécie incluem a bactéria Mycoplasma gallisepticum de aves domésticas a tentilhões e outras aves canoras na América do Norte, e a bactéria Mycobacterium bovis de gado a mamíferos selvagens em todo o mundo.

As doenças do gado são vistas principalmente como um problema econômico para o setor agrícola (assim como uma preocupação para a saúde humana, caso possam passar de animais para humanos), e são gerenciadas como tal pelas nações. No entanto, dada a alta frequência com que essas doenças se espalham para a vida selvagem e seu impacto potencial, elas são claramente uma grande ameaça à conservação da biodiversidade”, lê-se no artigo.

Esta epidemia sem precedentes de gripe aviária é mais um alerta importante sobre as consequências devastadoras que a criação e o comércio de animais para consumo humano podem causar à toda biodiversidade terrestre, incluindo a vida humana. Se não for pelos animais, que seja por você: boicote às grandes produções agropecuárias. Sim ao pequeno produtor.

Fontes:

  1. fanpage
  2. Science

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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