De castigo, fumar olhando pra parede é técnica brasileira contra o tabagismo


Se os fumantes sabem que cigarro faz mal e custa caro, por que não param de fumar?

A verdade é que largar o cigarro não é tão fácil quanto parece. Mas, existem métodos que facilitam essa decisão, por exemplo, “fumar de castigo“.

Você quer parar de fumar?

Pois fique sabendo que não precisa abandonar esse hábito de uma hora para a outra.

Fonte de prazer e bem-estar

Por quê fumamos? O que nos dá prazer em fumar?

O fato é que parar com este hábito é muito difícil e o melhor a fazer é tentar cortar o mal pela raiz.

Apesar dos tratamentos convencionais contra o tabagismo (com fármacos como a vareniclina) funcionarem para uma parcela de pacientes, para outros, não responde bem.

A nicotina, uma das tantas substâncias encontradas no tabaco, está relacionada a sensações de prazer e bem-estar, e quando a pessoa fica sem o cigarro, ela causa uma dependência muito forte no organismo.

No tratamento convencional, os remédios administrados se ligam a receptores de nicotina localizados nas células do cérebro.

Com isso, aquela sensação de abstinência (fora do controle) que a pessoa sente pode ser reduzida.

Só que, mesmo com todas as mudanças nos receptores cerebrais e nos comportamentos, o cigarro ainda acaba sendo uma fonte importante de prazer.

Em outras palavras, o tratamento somente com remédios não é suficiente.

E é justamente aí que entra a ideia do fumar de castigo: uma técnica criada e estudada pela médica cardiologista Jaqueline Scholz, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que dirige o Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração (InCor).

A cardiologista Jaqueline Scholz explica:

“Nós sabemos que o prazer de fumar tem uma associação com as memórias hedônicas [relacionadas ao prazer], e não há remédios que atuam nesses aspectos.

Para eles, o cigarro representa a repetição de uma experiência prazerosa e agradável, mesmo que os receptores de nicotina estejam bloqueados”.

A técnica pode complementar demais recursos terapêuticos disponíveis contra o tabagismo, como remédios e aconselhamento, para ajudar as pessoas que querem abandonar o cigarro.

Entenda:

“Fumar de castigo”

O cigarro continuará vinculado a uma série de coisas ‘boas’ na vida do fumante, como a pausa do trabalho, a conversa com os amigos, o café, os momentos antes ou depois das refeições, etc.

Por isso é necessário ir no cerne da questão. Aplacar o prazer.

O tratamento tem como objetivo cortar todos os estímulos prazerosos vinculados ao hábito de fumar.

Acabando com o prazer

De acordo com a médica, o método de tratamento, batizado de “fumar de castigo“, nasceu em 2015, durante uma conversa com um paciente.

Ela conta:

“Ele olhou para minha cara e disse: ‘Doutora, a senhora me fez gastar um dinheiro com remédios e disse que eu perderia o prazer de fumar, mas isso não aconteceu’.

Foi aí que tive a ideia: eu levantei da minha cadeira, olhei para o lado e respondi: ‘Quero ver você ter prazer ao fumar de pé, olhando só para uma parede’.”

Ao consumir o cigarro em pé, sem ninguém por perto e olhando para uma parede, a pessoa perderia todos os estímulos prazerosos que estavam vinculados ao hábito de acender e tragar as substâncias da queima do tabaco.

Será? Era preciso investigar se a técnica funcionaria, quanto e como.

O estudo

Jaqueline Scholz desenvolveu este estudo onde comparou:

  • um grupo de pacientes que passou pelo tratamento padrão do tabagismo (remédios e aconselhamento no consultório);
  • e outro que, além das terapias convencionais, também foi orientado a fumar de castigo.

Resultados

Os resultados mostraram que, depois de 12 meses desde o início do acompanhamento, 34% dos participantes do primeiro grupo (tratamento convencional) tinham abandonado completamente o cigarro.

Já entre aqueles que no início do processo adotaram a intervenção extra (fumar de castigo), esse número ficou em 65%.

Outra pesquisa também mostrou que a técnica ajuda a reduzir o número de cigarros que a pessoa consome por dia.

Pare de fumar agora

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), um total de 443 brasileiros morrem todos os dias por causa do tabagismo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que o tabaco causa mais de 8 milhões de mortes todos os anos.

Fumar cigarro contribui para o desenvolvimento de mais de 15 tipos de câncer diferentes, além de estar relacionado com:

  • infarto;
  • acidente vascular cerebral (AVC);
  • doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC);
  • tuberculose;
  • infecções respiratórias;
  • úlceras no estômago e no intestino;
  • impotência sexual;
  • infertilidade;
  • e catarata.

Por ano, 161 mil mortes relacionadas ao cigarro poderiam ser evitadas no país.

Elimine já o cigarro de sua vida.

E, se você ainda fuma e quer abominá-lo da sua vida, aproveite a dica: toda vez que você for acender um cigarro, faça isso de pé, num local isolado, sem ninguém por perto, e fume olhando para uma parede lisa.

Fonte: BBC News BrasilTobacco Prevention and Cessation

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Lara Meneguelli


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