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O termo “narcisismo maligno” ou “narcisismo perverso” descreve uma forma particularmente destrutiva de narcisismo, onde características narcisistas clássicas se combinam com traços antissociais e tendências paranoides. Apesar de não ser uma categoria clínica formal no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), esse conceito tem sido amplamente discutido na psicologia e na psiquiatria como uma manifestação extrema do Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN).
Homem segura um espelho. Narcisismo ©cottonbro/Pexels
De acordo com o DSM-5 (American Psychiatric Association, 2013), o TPN é caracterizado por:
“Um padrão dominante de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração e falta de empatia, que começa no início da vida adulta e está presente em uma variedade de contextos.”
O termo “narcisismo maligno” foi originalmente cunhado por Erich Fromm em 1964, e mais tarde explorado por Otto Kernberg, que viu essa condição como uma forma híbrida entre o narcisismo e a psicopatia.
Kernberg (1984) sugeriu que o narcisismo maligno inclui:
Em outras palavras, é um tipo de narcisista que não apenas busca poder e admiração, mas também sente prazer em manipular, enganar e ferir os outros.
Enquanto o narcisismo comum já apresenta desafios nos relacionamentos interpessoais, o narcisismo maligno eleva essas características a um nível mais extremo e destrutivo.
Ambos os tipos compartilham uma necessidade elevada de admiração, mas no narcisista maligno essa necessidade é extremamente intensa, quase insaciável. No que diz respeito à empatia, enquanto o narcisista comum pode demonstrar uma empatia limitada, o narcisista maligno praticamente não tem nenhuma, tornando-se emocionalmente indiferente ao sofrimento alheio.
A manipulação também aparece nos dois tipos, mas com uma diferença marcante: o narcisista comum pode manipular de forma ocasional, enquanto o maligno faz isso de maneira sistemática, calculada e cruel.
O comportamento antissocial, geralmente incomum no narcisista comum, é frequente no maligno, que pode violar normas sociais sem culpa ou arrependimento. A paranoia, que pode estar ausente ou ser leve no narcisista típico, é intensa e constante no maligno, que frequentemente desconfia das intenções alheias e interpreta críticas como ameaças.
Outro traço marcante do narcisismo maligno é o sadismo — raramente presente no narcisista comum, mas central no comportamento do maligno, que pode sentir prazer em humilhar ou causar dor a outras pessoas.
Por fim, a capacidade de remorso, embora reduzida no narcisista comum, é praticamente inexistente no maligno, o que contribui para a frieza e a ausência de limites morais em suas ações.
Estar em um relacionamento com um narcisista maligno pode causar danos profundos. As vítimas frequentemente relatam:
Atualmente, o narcisismo maligno não é uma categoria diagnóstica separada no DSM-5. No entanto, muitos clínicos e estudiosos o consideram uma constelação de traços extremos que se sobrepõem ao TPN, ao transtorno antissocial e, às vezes, ao transtorno de personalidade borderline com componentes agressivos.
O tratamento do narcisismo maligno é extremamente desafiador. Pacientes com esse perfil raramente buscam ajuda por iniciativa própria; quando o fazem, geralmente é por pressão externa, como conflitos legais, familiares ou profissionais. Embora as psicoterapias possam oferecer algum avanço, os resultados costumam ser limitados. Além disso, o envolvimento terapêutico exige muito do profissional, que corre o risco de ser manipulado, desestabilizado emocionalmente e desvalorizado pelo paciente. É um tipo de vínculo clínico que pode ser exaustivo e até prejudicial, exigindo muito preparo técnico, supervisão constante e grande estabilidade emocional do terapeuta.
O narcisismo maligno é o extremo mais sombrio da personalidade narcisista, misturando traços de perversão, manipulação, frieza emocional e prazer no sofrimento alheio (sadismo). Dentro da teoria psicanalítica, a perversão se refere à estrutura psíquica onde as leis sociais e morais são desafiadas em nome da grandiosidade de um ego não castrado. O narcisista maligno acredita que pode abusar das pessoas, pois sua ideia de grandeza e poder é superior a qualquer norma estabelecida.
Esses traços se alinham com a filosofia do Marquês de Sade, que foi um defensor radical da liberdade absoluta, argumentando que o prazer pessoal, mesmo à custa do sofrimento alheio, deveria ser aceito como uma forma legítima de viver. No contexto do narcisista maligno, perverso, esse pensamento se manifesta na crença de que os outros existem apenas para satisfazer suas necessidades e desejos, e qualquer dano causado a eles é irrelevante.
Embora o narcisismo maligno ainda não seja uma categoria diagnóstica oficial, sua identificação é crucial para proteger vítimas e proporcionar intervenções adequadas. Entender a perversão e a mentalidade do narcisista maligno é essencial para qualquer profissional que lide com esses casos e para as pessoas que convivem com esse tipo de comportamento.
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Fontes:
Categorias: Saúde e bem-estar
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