Uma palmada dói mais do que você imagina


Tem uma poesia da Cecília Meireles que revela um tempo em que a palmada era aceita. Hoje não é mais, ou pelo menos, não deve mais ser.

É a menina manhosa

Que não gosta da rosa,

Que não quer A borboleta

Porque é amarela e preta,

(…)

Ó menina levada,

Quer uma palmada?

Uma palmada bem dada

Para quem não quer nada!

E ainda bem que hoje a palmada não é mais aceita em nossa sociedade ainda que muita gente ainda a defenda. Então vamos deixar bem claro que uma palmada pode doer na criança muito mais do que nós imaginamos, porque pode atingir o seu bem-estar psicológico, muito além do físico.

Uma pesquisa realizada pela University of Texas mostrou os riscos de danos causados pela palmada, confirmados através de uma análise feita em cinco décadas de pesquisa.

Crianças adoram desafiar os pais, mas isso faz parte da evolução delas. Eu sou mãe e sei, é difícil mesmo se controlar e não dar uma palmada mas, lembre-se que a palmada não resolve, ao contrário, só irá piorar a situação.

A pesquisa revela que quanto mais as crianças são agredidas, mais ainda elas irão desafiar os pais. Os riscos de terem futuramente um comportamento anti-social, serem mais agressivas e terem problemas de saúde mental e dificuldades cognitivas, são grandes.

Se gentileza gera gentileza, agressão gera agressão

O estudo feito durante 50 anos com 160.000 crianças foi publicado no Journal of Family Psychology em abril passado. É a análise mais completa sobre a questão até então, e mais especificamente sobre os efeitos da palmada, pois outros estudos incluíam outros tipos de castigo físico em suas análises.

“Nossa análise se concentra no que a maioria dos americanos iria reconhecer como spanking e não sobre comportamentos potencialmente abusivos”, diz Elizabeth Gershoff, professora associada de desenvolvimento humano e ciências familiares da Universidade do Texas em Austin. “Descobrimos que a palmada foi associada a resultados negativos não intencionais e não foi associada com a obediência imediata ou de longo prazo, que são os resultados pretendidos pelos pais quando disciplinam seus filhos.”

Spanking em inglês pode ser traduzido exatamente como palmada, ou seja, um tapinha no bumbum que seria uma advertência sem maiores danos morais e que já foi tranquilamente aceito pela sociedade, ainda que, infelizmente ainda existam pessoas que a defenda.

Resumindo, a palmada esteve associada em 13 resultados negativos sobre os 17 examinados.

“A conclusão do estudo é que a palmada aumenta a probabilidade de uma grande variedade de resultados indesejados para crianças. Bater nos filhos gera o oposto do que os pais geralmente desejam“, diz um outro autor da pesquisa, Andrew Grogan-Kaylor da Universidade de Michigan.

A pesquisa testou alguns efeitos de longo prazo entre os adultos que foram agredidos com palmadas quando crianças. Quanto mais palmadas levaram, mais apresentaram comportamentos anti-sociais e tiveram problemas de saúde mental. Eles também foram os mais propensos a apoiar o castigo físico para os seus próprios filhos, o que revela que o meio mais comum de se propagar a prática dos castigos é passando-os de geração em geração.

Infelizmente apesar de parecer, o cenário ainda não é promissor pois, de acordo com um relatório de 2014 da UNICEF, 80% dos pais em todo o mundo batem em seus filhos. Não se entende porque este castigo se propague tanto com o tempo tendo em vista a sua falta de efeitos positivos, ao contrário, é evidente que só gera mais problemas, causando danos para o comportamento e desenvolvimento das crianças.

É hora de mudar nosso comportamento como pais, educadores e sociedade, ainda que avanços tenham sido feitos, ainda há muita gente que acha normal dar uma palmada bem dada.

“Nossa pesquisa mostra que a palmada está ligada com os mesmos resultados negativos das crianças que sofreram abusos, apenas em um grau um pouco menor.”

“Esperamos que nosso estudo possa ajudar a educar os pais sobre os potenciais danos da palmada e levá-los a experimentar formas positivas e não punitivas de disciplina.” conclui Gershoff.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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