A diferença entre dar uma “palmada” e dar uma “surra” pode ser apenas uma questão de linguagem, diz pesquisa


Tudo depende da forma como se diz as coisas. Uma determinada ação, muitas vezes altamente reprovável, pode ser dita de modo a parecer “menos grave”. Esse recurso tem nome na Língua Portuguesa, chama-se eufemismo, e pode estar por trás da razoável aceitação que a agressão física às crianças têm.

Afinal de contas, “dar um tapinha” é diferente de “bater” em uma criança. Será? Pois uma pesquisa publicada no periódico Psychology of Violence mostra que, dependendo do termo usado para designar a agressão física, a tendência é que as pessoas sejam mais rigorosas – ou menos – nos seus julgamentos.

O estudo

O experimento envolveu 672 pessoas, entre 22 e 60 anos, sendo que 481 deles eram pais ou mães.

Esse grupo assistiu a vídeos de uma mãe batendo no filho de 5 anos. O que os voluntários tinham que fazer era classificar se era aceitável e eficaz essa atitude, e em qual grau. Os pesquisadores fizeram uma descrição em cada um dos vídeos, sendo que em alguns a descrição mostrava uma mãe “dando uma surra” no filho, enquanto em outros essa mesma mãe, fazendo exatamente a mesma coisa, “dava uma palmada”. O estudo mostrou que os voluntários que viram essa gravação descrita com palavras mais suaves, como “dar uma palmada” classificavam a atitude da mulher de modo menos rigoroso, ao contrário daqueles que viam o vídeo descrito de maneira mais dura, que tendiam a reprovar a atitude da mãe.

Segundo a conclusão do estudo, “os verbos específicos utilizados para descrever atos de disciplina física podem alterar as interpretações do comportamento associado e potencialmente servir para normalizar, esconder ou justificar ações violentas”.

Isso mostra que o eufemismo é mesmo uma ferramenta bastante efetiva. No entanto, já está mais do que provado que agredir fisicamente uma criança causa danos em longo prazo, principalmente, no quesito emocional.

Uma outra pesquisa

Nos Estados Unidos, uma outra pesquisa, feita por meio da análise de 75 estudos realizados no período de 50 anos mostra que crianças que apanham apresentam comportamento pior, como agressividade, aspectos antissociais, maior propensão a desenvolver problemas mentais, menor capacidade cognitiva, entre outras coisas.

No Brasil, existe a Lei da Palmada, que visa punir pais e/ou cuidadores que agridam fisicamente as crianças. As medidas punitivas vão desde uma simples advertência até mesmo a perda da guarda dos filhos.

Nem bater, nem dar palmada

Embora exista uma vasta literatura provando que bater em crianças não é algo efetivo, muito pelo contrário, é muito pior para todo mundo; não é necessário ter ciência de todas essas coisas para sentir o quanto a agressão física é uma atitude desrespeitosa, humilhante e nociva. Não importando se essa agressão vem rotulada como “palmada” ou “surra”. A ação em si é a mesma, não importa quantos eufemismos se usem para suavizar a expressão.

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Cintia Ferreira

Paulistana formada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro, tem o blog Mamãe me Cria e escreve para greenMe desde 2017.


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