Ocupações das escolas estaduais em São Paulo: a Razão


Muito tem se falado sobre as ocupações das escolas estaduais em São Paulo como um todo. Discussões à parte, gostaria de levantar uma questão de fundo nesse evento: a Razão.

De acordo com a crença mais corrente no senso comum, o estudo leva à cidadania política, ou seja, o conhecimento da realidade científica nos faz entender melhor os rumos da política, orientada (ou deveria ser) pelo que é realmente possível de ser alcançado em uma dada realidade, levando em conta seus elementos físicos, econômicos, sociais e intelectuais.

Parece que a educação do Estado de São Paulo teve efeitos positivos, pois perceberam que a reorganização lhes é danosa. Se isso é mérito da atual organização ou dos docentes que nela estão é algo a ser discutido no futuro.

Uma das constantes críticas é que alguma “força alienígena” está manipulando milhares de alunos. Essa última chave interpretativa parece se alicerçar no fato de que os alunos não estão sozinhos nesse movimento. E não estão.

A questão crítica nessa última concepção é de quem é o protagonismo. Pensemos: outra crença do senso comum é que a educação é fundamental para a melhora da sociedade como um todo, logo toda ela seria melhorada a médio e longo prazo, e por fim, é lógico que setores mais próximos da educação iriam apoiar o movimento. Ora, alianças políticas são normais em qualquer momento de luta política. Ora, até os partidos políticos em eleições fazem coligações e alianças, por que os estudantes não fariam o mesmo? Se o movimento estudantil foi maduro o suficiente em pedir auxílio em suas demandas, é mostra de racionalidade. Convém lembrar que são eles que estão nas escolas, limpando, organizando, racionalizando a organização, em suma progredindo e se desenvolvendo.

Nenhum setor parece ter previsto esse tipo de reação, mas a realidade é muito complexa para ser plenamente prevista; lembro-me de ter aprendido isso na faculdade. Claro que houve influências de outros movimentos como a ocupação feita por estudantes na USP. Mas não era lógico alunos se inspirarem em alunos mais avançados estruturalmente do que eles?

É tão difícil acreditar que estudantes aprenderam por meio do ensino de seus professores a serem críticos? Se isso for impossível, então não existe a educação como formadora da cidadania. Então para que haver o ensino? O Estado de São Paulo parece ter dificuldade em perceber isso, talvez por ter se centralizado e elaborado estudos muito distantes dos alunos e do corpo docente que os ensina. Algo que precisará ser revisto com seriedade no futuro próximo.

Por último temos a questão da repressão. Na última segunda-feira os desembargadores que julgaram a reintegração de posse fizeram uma série de elogios à iniciativa dos alunos secundaristas e assim negaram as reintegrações na cidade de São Paulo. Por suas falas, estes deram a entender que o movimento é legítimo e o Secretário da Educação Herman Jacobus Cornelis Voorwald deveria suspender a reestruturação até receber dados e estudos relevantes de cada comunidade escolar para aí sim realizar uma possível movimentação.

Resumindo, pediram ao Secretário que aja de maneira racional. A ação dele e das forças policiais nesses próximos dias responderá se ele é digno, ou não, de sua nomeação para a pasta que cuida da formação sadia da Razão.

Este texto é de autoria de André Oliveira, professor do ensino médio no Estado de São Paulo e Mestre em História Social pela USP, que gentilmente cedeu suas palavras sobre o que está acontecendo nas escolas públicas paulistas. Agradecemos imensamente a sua colaboração 🙂

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O professor André Oliveira durante a greve dos professores

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Fonte fotos: concedidas pelo autor




Redação greenMe

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