Manterrupting, gaslighting, mansplaining: você precisa conhecer esses termos


Se você é mulher e está lendo este texto, certamente irá se identificar com algumas cenas que serão descritas a seguir.

Você já deve ter sentido na pele ou testemunhado, em um ambiente profissional ou acadêmico, uma mulher ser interrompida por um homem quando está falando.

Em análise da conversação, o funcionamento discursivo da conversa se dá pela alternância de turnos. É comum que os interlocutores tentem “assaltar” o turno do outro para manter a fala sob o seu domínio – situação que é diferente de impedi-lo de falar, ou seja, de silenciá-lo, não deixando-o desenvolver suas ideias.

A jornalista Jessica Bennett, em um artigo na revista “Time”, explica que:

“(…) pergunte a qualquer mulher no mundo do trabalho e todas nós reconhecemos o fenômeno. Falamos numa reunião, apenas para ouvir a voz de um homem soar mais alto. Sugerimos uma ideia, talvez com incerteza – para ver um cara repeti-la com autoridade. Podemos ter a habilidade, mas ele tem as cordas vocais certas – o que significa que nos calamos, perdendo nossa confiança (ou pior, o crédito pelo trabalho)”.

Uma publicação do Nexo Jornal divulgou um levantamento que mostrou que o então candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, durante os debates com a candidata democrata Hillary Clinton, teria feito 51 interrupções à sua adversária, enquanto ela teria feito 17. Isso mostra a diferença entre “assalto a turno” e “obstrução do turno”.

Para fazer com que mulheres e homens tomem consciência do problema da invalidação recorrente das ideias femininas em público por parte dos homens é que foi criado um glossário com uma terminologia que nomeia e explica como, discursivamente, funcionam as estratégias de impedimento e descrédito da fala feminina, as quais evidenciam que o machismo é um mecanismo social que se entranha em comportamentos que, por desconhecimento, julgamos naturais.

Glossário

Os termos do glossário são derivados de palavras inglesas, mas seus conceitos são facilmente compreendidos, porque certamente já os vivenciamos.

Manterrupting

É a junção das palavras inglesas “man” (homem) e “interrupting” (verbo interrompendo), ou seja, literalmente: homem na área interrompendo uma mulher.

É quando um homem interrompe uma mulher de forma desnecessária, conscientemente ou não.

Bropropriating

Apropriar-se da ideia de uma mulher e levar o crédito por ela. Em ambientes de trabalho, essa uma estratégia muito comum. Às vezes o machismo é tão forte que surgem comentários do tipo “uma mulher nunca teria uma ideia como essa”.

Mansplaining

É uma explicação detalhada por um homem de um assunto óbvio, como se uma mulher não fosse capaz de entender algo complexo (ou até mesmo óbvio).

Gaslighting

É uma manipulação psicológica que leva a mulher a crer que está louca, desequilibrada ou equivocada sobre determinado assunto, sobretudo, quando ela tem razão.

Patriarcalismo e machismo

Dificilmente uma mulher já não tenha passado por essas situações de deslegitimação do seu ponto de vista, fazendo com que ela se sentisse incapaz. Esses mecanismos sociais empreendidos pelo machismo edificaram, culturalmente, uma enorme insegurança emocional nas mulheres, perpassando não apenas questões profissionais como, também, afetivas.

É preciso que as mulheres tenham ciência dessas estratégias construídas – e nada naturais – que buscam destituí-las do protagonismo de suas próprias vidas e do âmbito social.

Já os homens devem fazer uma reflexão sobre se em algum momento de suas vidas praticaram algumas das atitudes do glossário. Se forem honestos, certamente irão dar uma resposta afirmativa para si mesmos. O que fazer com isso? Buscar um gesto de mudança.

Se um homem não consegue, por suas próprias condições intelectuais e emocionais, conquistar os territórios que almeja, se é preciso passar por cima de qualquer pessoa (e, em geral, tal pessoa costuma ser uma mulher) e silenciá-la, é porque a fragilidade está com ele. Pode ser doloroso reconhecer isso, mas é melhor do que passar a vida inteira sendo um babaca.

Estamos vivendo um momento histórico em que as mulheres, através de trocas entre si, estão reconhecendo como o patriarcalismo se construiu na nossa cultura, isto é, como o homem construiu a sua preponderância na organização social às custas da diminuição ou da anulação da mulher.

O homem deveria fazer aquela reflexão sugerida como oportunidade de ser melhor, pois ele, também, foi enredado nessa estrutura. Então, tomar consciência dela e transformá-la não é apenas uma luta das mulheres, mas daqueles que almejam construir uma sociedade mais igualitária e, portanto, menos opressora para homens e mulheres.

Talvez te interesse ler também:

MELINA GATES VAI INVESTIR 1 BILHÃO DE DÓLARES PELA IGUALDADE DE GÊNERO

CHOLITAS: MULHERES INCRÍVEIS QUE LUTAM PARA VENCER O PRECONCEITO DE GÊNERO

FEMINICÍDIO COMO CRIME IMPRESCRITÍVEL É APROVADO NO SENADO: PODERÁ SER JULGADO A QUALQUER MOMENTO, INDEPENDENTE DA DATA EM QUE FOI COMETIDO




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...